ANÁLISE-Bolsonaro prioriza base ideológica e acirra atrito com Poderes
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Por Eduardo Sim?es
S?O PAULO (Reuters) - Ao insistir em pautas caras ? sua base ideol?gica j? rejeitadas pelo Legislativo e pelo Judici?rio, o presidente Jair Bolsonaro tem optado por dar satisfa??o a seus seguidores mais fi?is em detrimento a um esfor?o para ampliar seu apoio popular e ao custo de um acirramento nos la?os com os demais Poderes.
Um exemplo desse comportamento foi a decis?o do presidente de incluir em uma nova medida provis?ria a transfer?ncia da compet?ncia da demarca??o de terras ind?genas da Funda??o Nacional do ?ndio (Funai), ligada ao Minist?rio da Justi?a, para o Minist?rio da Agricultura.
A proposta j? havia sido rejeitada pelo Congresso ao analisar a MP que promoveu uma reforma administrativa.
Ap?s a reedi??o do tema, Bolsonaro sofreu duas derrotas. No Supremo Tribunal Federal, o ministro Lu?s Roberto Barroso deu liminar suspendendo a medida, aceitando argumenta??o de que um tema rejeitado n?o pode ser reeditado na mesma sess?o legislativa. No Legislativo, o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), devolveu o trecho da nova MP que tratava da demarca??o.
'Ele est? governando para o p?blico dele, que n?o ? majorit?rio. Ele nem tem a maioria pragm?tica nas duas Casas e ele nem tem um di?logo majoritariamente com a popula??o. Ele est? conversando com um gueto', afirmou o cientista pol?tico do Insper Carlos Melo.
'E por que ele reedita? Ele reedita porque ele est? dando satisfa??es ao gueto', acrescentou.
Mais que isso, com essa estrat?gia, Bolsonaro refor?a o discurso de que est? tentando mudar a forma de governar e cumprir o que prometeu na campanha eleitoral e coloca sua base ideol?gica em choque com os demais Poderes.
'Ele fala que fez a parte dele e lava as m?os. Agora, ? claro que isso implica em maior desgaste da C?mara e do Senado com a base do Bolsonaro, porque ele est? alimentando, para a sua base, o conflito entre as institui??es', argumentou Melo.
O cientista pol?tico entende que Bolsonaro pode estar fazendo um c?lculo errado, o de que a parcela do eleitorado que o apoia de forma mais enf?tica, principalmente nas redes sociais, representa a vontade da maioria da popula??o.
'Ele faz um c?lculo que talvez seja um c?lculo equivocado. Ele acha que a base dele nas redes sociais ? a maioria do pa?s, mas n?o ?. Algu?m precisa falar para ele que ele atinge 10 milh?es de pessoas --que ? gente para caramba-- mas o pa?s tem 210 milh?es de pessoas', avaliou Melo.
OJERIZA ? POL?TICA
O cientista pol?tico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira vai al?m e diz que o comportamento do presidente ? de quem tem repulsa ? pol?tica.
'Bolsonaro n?o faz pol?tica, ele n?o cede ao Congresso. Ele quer, na verdade, entregar ao Congresso a sua ideia e quer que o Congresso aprove. Quando o Congresso n?o aprova, ele reclama do Congresso', disse.
'Ele mostra cada vez mais a sua ojeriza em fazer pol?tica... Ele tem um comportamento presidencial de soberano, e n?o um comportamento presidencial que exige um di?logo, que exige a forma??o de uma coaliz?o.'
O decreto que flexibilizava o porte e a posse de armas ? outro epis?dio em que Bolsonaro priorizou sua base mais radical. Diante de uma derrota iminente no Congresso que caminhava para derrubar a medida, o presidente revogou o decreto, mas editou outros tr?s e enviou projeto de lei ao Parlamento para tratar do tema.
Antes, usou suas redes sociais e fez um apelo ? popula??o para pedir ao parlamentar em que votou para que n?o derrubasse o decreto.
Para Oliveira, o presidente fala com apenas 15% do eleitorado, que ? o percentual de eleitores que seriam, na avalia??o do cientista pol?tico, ideologicamente fi?is ao presidente.
'Pesquisa do Ibope que saiu agora mostra que 32% aprovam o governo, dentro desses 32% tem o eleitorado bolsonarista convicto e os outros 17% s?o eleitores que est?o esperando o presidente fazer alguma coisa --t?m uma admira??o pelo presidente, s?o antilulistas, n?o querem que o PT volte-- e est?o ainda dando uma chance', disse.
Pesquisa CNI/Ibope divulgada na quinta-feira mostrou uma avalia??o de governo muito dividida. Enquanto 32% dos entrevistados consideram o governo Bolsonaro ?timo ou bom, 32% acham que ele ? regular e 32% avaliam como ruim ou p?ssimo.
Ao mesmo tempo, o levantamento mostrou aumento dos que n?o confiam no presidente e dos que desaprovam sua forma de governar. [nL2N23Y15P]
'? um presidente que n?o fala para a sociedade brasileira, ele fala para segmentos', afirmou Oliveira. 'A estrat?gia de comunica??o dele s? tem surtido efeito no eleitorado dele.'
Escrito por Redação
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