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ANÁLISE-Brasil coleciona frustrações após quase um ano de alinhamento com EUA

ANÁLISE-Brasil coleciona frustrações após quase um ano de alinhamento com EUA

Reuters

02/12/2019

Placeholder - loading - Presidente Jair Bolsonaro conversa com presidente dos EUA, Donald Trump, em Osaka 28/06/2019 REUTERS/Kevin Lamarque
Presidente Jair Bolsonaro conversa com presidente dos EUA, Donald Trump, em Osaka 28/06/2019 REUTERS/Kevin Lamarque

Por Lisandra Paraguassu

BRAS?LIA (Reuters) - Desde que assumiu o governo em Janeiro deste ano, o presidente Jair Bolsonaro deixou claro que sua pol?tica externa tinha um eixo central: o alinhamento praticamente autom?tico com os Estados Unidos que, defendia, s? traria benef?cios para o Brasil, mas quase um ano depois, o pa?s colhe muito mais frustra??es e perdas do que vit?rias.

A decis?o anunciada nesta segunda-feira pelo presidente norte-americano Donald Trump de voltar a taxar o a?o e o alum?nio brasileiro caiu como uma ducha gelada --e sem aviso-- na proclamada rela??o direta entre Trump e Bolsonaro.

Dentro do governo, o an?ncio feito pelo Twitter, foi visto com cerca perplexidade. Duas fontes questionaram o argumento do presidente norte-americano, de que o Brasil estaria desvalorizando propositadamente o real.

'No Brasil, o c?mbio ? flutuante e n?o h? manipula??o como Trump diz. Mas ele ? muito imprevis?vel e acho que elei??es l? est?o ditando decis?es', disse uma das fontes.

A avalia??o ? de que seria um 'fato pontual', ligado a quest?es internas relacionadas ?s elei??es presidenciais nos EUA no ano que vem, quando Trump buscar? a reelei??o, mas que n?o chegaria a amea?ar as negocia??es de um eventual acordo comercial --que, na verdade, ainda n?o tem nem mesmo um horizonte definido para al?m da vontade do Brasil, que vem cedendo em v?rias temas na tentativa de ganhar a boa vontade de Washington.

Nestes 11 meses, o governo brasileiro, ainda em mar?o, concordou em implementar uma cota de importa??o de 750 mil toneladas de trigo sem tarifas, o que beneficia diretamente os produtores norte-americanos. Na ?poca, um dos negociadores brasileiros afirmou que a medida serviria para mostrar que o Brasil estava disposto a realmente negociar.

Em setembro deste ano, foi a vez do etanol. Apesar dos protestos dos produtores brasileiros, o pa?s aumentou, a pedido dos EUA, a cota de importa??o sem impostos de etanol de 600 milh?es para 750 milh?es de litros --fato comemorado por Trump em seu Twitter.

O Brasil tamb?m concordou em sair da lista de pa?ses com tratamento diferenciado da Organiza??o Mundial do Com?rcio (OMC), a pedido dos norte-americanos, em troca do apoio de Washington ? ades?o r?pida do Brasil ? Organiza??o para a Coopera??o e Desenvolvimento Econ?mico (OCDE).

O retorno, no entanto, foi de frustra??es. O governo brasileiro esperava um apoio definitivo dos norte-americanos na reuni?o da OCDE em outubro, o que n?o veio. Ficou apenas a explica??o de que o Brasil era 'o pr?ximo na fila' e o governo Trump iria sim apoiar quando chegasse a vez.

O Brasil tamb?m n?o conseguiu convencer os EUA a derrubarem o veto ?s exporta??es de carne bovina brasileiro. O mercado norte-americano est? fechado h? dois anos para os produtores brasileiros. O pedido foi feito pessoalmente por Bolsonaro a Trump na visita aos EUA em mar?o mas, mesmo depois de duas visitas sanit?rias, mais uma viagem ministerial e nove meses de negocia??es, o veto segue.

O pedido de que os EUA retirem taxas para a exporta??o de a??car brasileiro, uma negocia??o que inicialmente vinha sendo feita em conjunto com a de importa??o do etanol, tamb?m n?o avan?ou.

Politicamente, o Brasil conseguiu dos norte-americanos ser designado como aliado preferencial da Organiza??o do Tratado do Atl?ntico Norte (Otan), o que pode se reverter em acesso a tecnologias e espa?o para aumento do com?rcio de materiais de defesa, mas ainda sem efeitos pr?ticos.

GESTOS SEM RESPOSTA

Apesar da proclamada melhoria nas rela??es pol?ticas, o com?rcio n?o traduz grandes benef?cios para o Brasil. As exporta??es brasileiras cresceram apenas 450 milh?es de d?lares --2,04%-- entre 2018 e 2019, se comparados os per?odos de janeiro a outubro, segundo dados consolidados do Minist?rio da Economia.

O Brasil ainda mant?m um d?ficit comercial com os Estados Unidos, que at? outubro deste ano j? chegava a 1,13 bilh?O de d?lares.

'Pa?ses n?o t?m amigos, t?m interesses. A rela??o tem que ser feita em torno dos nossos interesses. N?o ? poss?vel ficar pensando que rela??o pessoal resolva esses problemas', disse ? Reuters o embaixador Rubens Barbosa, que chefiou a embaixada do Brasil em Washington no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Barbosa lembra que o governo brasileiro fez diversos gestos para melhora a rela??o com os EUA --n?o apenas na economia--, mas colheu muito pouco.

'Fica o governo brasileiro fazendo gestos e mais gestos em rela??o a um alinhamento ? pol?tica americana, quando interesses brasileiros concretos s?o contrariados. O interesse nacional tem que estar acima de ideologias', critica.

A taxa sobre o a?o brasilero foi implementada no in?cio de 2018, mas suspensa depois de uma longa negocia??o ainda no governo do ex-presidente Michel Temer. A decis?o de Trump de voltar agora com a barreira tarif?ria contra o Brasil foi justificada por uma suposta pol?tica brasileira de desvaloriza??o proposital do real, o que nunca aconteceu.

'Essa alega??o ? um absurdo completo, n?o tem nenhuma base na realidade, nem aqui, nem na Argentina', disse a Reuters o embaixador Jos? Alfredo Gra?a Lima, ex-subsecretario de Assuntos Econ?micos do Itamaraty e perito da OMC. 'A quest?o dos Estados Unidos ? o pre?o do a?o.'

Gra?a Lima lembra que a ind?stria sider?rgica norte-americana ? 'problem?tica' e sofre com quest?es ligadas ? competitividade.

'Os americanos, na verdade, se consideram muito mais obrigados com seus setores do que com qualquer alian?a. E em mat?ria sider?rgica, os EUA n?o t?m qualquer compromisso com seus parceiros. Seria ilus?rio esperar qualquer tipo de tratamento diferenciado', explicou.

Os EUA s?o o maior comprador de produtos sider?rgicos do Brasil, mas os valores ca?ram entre 2017 e 2018. Foram 6,6 milh?es de toneladas em 2017 --3,85 bilh?es de d?lares-- e 6 milh?es de toneladas em 2018 --com 2,8 bilh?es de d?lares--, de acordo com dados do Instituto A?o Brasil.

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)

Reuters

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