ANÁLISE-Brasil faz venda histórica de Treasuries em março

Por Jamie McGeever

BRAS?LIA (Reuters) - O Brasil vendeu um recorde de 21,5 bilh?es de d?lares em t?tulos do Tesouro dos Estados Unidos (Treasuries) em mar?o, quando enfrentou uma debandada de investidores estrangeiros de seus mercados e um consequente tombo na taxa de c?mbio, mostraram dados mais recentes do Tesouro dos EUA.

Excluindo China e Jap?o, os dez principais detentores de Treasuries venderam esse valor em um m?s apenas 12 vezes nos ?ltimos 20 anos.

Em termos percentuais, a redu??o em mar?o de 7,5% do estoque de Treasuries detidos tamb?m s? foi igualada em 23 ocasi?es pelos principais detentores na ?ltima d?cada.

Os t?tulos do Tesouro dos EUA s?o considerados o ativo financeiro mais seguro e um dos mercados mais l?quidos do mundo. Como resultado, representam uma parcela significativa das reservas cambiais dos pa?ses.

A venda de 21,5 bilh?es de d?lares reduziu o estoque detido pelo Brasil para 264,4 bilh?es de d?lares. Com isso, o pa?s caiu uma posi??o no ranking global e agora ocupa o quinto lugar, atr?s de Jap?o, China, Reino Unido e Irlanda.

A maior parte desse montante ? detida pelo Banco Central.

Esse volume de venda de Treasuries compensou uma sa?da l?quida de 22,5 bilh?es dos mercados de a??es e t?tulos do Brasil naquele m?s, tamb?m um recorde, enquanto o real perdeu 13,7% de seu valor nominal ante o d?lar --maior queda mensal desde setembro de 2011 e a mais forte para o m?s desde pelo menos 2002.

O Brasil est? neste ano a caminho de sua maior contra??o econ?mica desde o in?cio dos registros em 1900. A queda dos juros a m?nima recorde de 3%, uma profunda crise causada pelo coronav?rus e uma crescente incerteza pol?tica t?m levado investidores estrangeiros a uma corrida para deixar o pa?s.

Para colocar em contexto a redu??o de 7,5% no Brasil em suas posi??es em Treasuries ? necess?rio voltar ? B?lgica em 2015 --?ltima vez que qualquer um dos dez maiores detentores dos t?tulos do governo dos EUA teve um decl?nio compar?vel em um ?nico m?s.

Houve apenas 23 meses na ?ltima d?cada em que um dos dez principais detentores de Treasuries reduziu sua carteira em 7,5% ou mais. Todos esses epis?dios, exceto tr?s, ocorreram durante a crise da zona do euro de 2010-12.

O presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, disse na quarta-feira que a venda de reservas cambiais ? uma ferramenta que o banco est? disposto a usar novamente se a volatilidade do mercado e as condi??es de liquidez o fizerem necess?rio. Isso provavelmente significa vender t?tulos do Tesouro dos EUA.

'Brasil tem muita reserva, inclusive em percentual do PIB (Produto Interno Bruto) a reserva subiu porque (a taxa de c?mbio) desvalorizou mais do que o que foi vendido', afirmou Campos Neto em uma live na quarta-feira.

Na ocasi?o, o presidente do BC disse que a autarquia tem espa?o amplo para a venda de reservas internacionais e poder? aumentar sua atua??o no c?mbio se considerar necess?rio.

As reservas cambiais do Brasil estavam em 343 bilh?es de d?lares no final de mar?o, queda de 19 bilh?es de d?lares no m?s. O montante recuou ainda mais, para 339 bilh?es de d?lares, em abril, o menor valor desde 2011 e ainda mais distante do recorde de 388 bilh?es de d?lares de junho do ano passado.

Brad Setser, membro s?nior do Conselho de Rela??es Exteriores de Nova York e autoridade nos fluxos globais de capital, disse que a press?o sobre a moeda e fluxos de portf?lio no Brasil provavelmente persistir?, embora n?o com a mesma intensidade.

Nesse caso, vender t?tulos do Tesouro dos EUA para aliviar parte dessa press?o continua sendo uma op??o l?gica.

'O Brasil pode optar por acomodar uma mudan?a nos fluxos de portf?lio fora do pa?s e reduzir as reservas para permitir a sa?da de estrangeiros. O efeito colateral ? que o Brasil ter? um colch?o de reservas menor daqui para frente', disse Setser.

'O Brasil escolheu uma pol?tica de baixas taxas de juros, por isso o motivo tradicional para manter em carteira t?tulos brasileiros desapareceu. O diferencial de juros n?o existe. Chegar? o momento em que os estrangeiros voltar?o, mas ainda n?o estamos l?', completou.