ANÁLISE-Brasil põe em risco comércio com Oriente Médio se mudar embaixada em Israel
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Por Ana Mano e Jake Spring
S?O PAULO/BRAS?LIA (Reuters) - A proposta do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, de mudar a embaixada do pa?s em Israel, seguindo a medida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode desencadear uma tempestade diplom?tica no mundo mu?ulmano, amea?ando um importante mercado para as maiores empresas exportadoras de carne do mundo.
O Brasil ? de longe o maior exportador global de carne halal, produzida de acordo com os preceitos da religi?o mu?ulmana. O presidente eleito planeja mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusal?m, o que poderia fortalecer as rela??es com Israel, mas que j? abalou rela??es com o Egito e pode em breve provocar problemas com outras na??es isl?micas.
'A rea??o n?o partir? apenas de um pa?s, mas de todo o mundo mu?ulmano', disse uma fonte diplom?tica turca ? Reuters em condi??o de anonimato. 'Esperamos que o Brasil aja com a raz?o e n?o confronte o mundo mu?ulmano.'
O Brasil exporta 16 bilh?es de d?lares anualmente ao Oriente M?dio e ? Turquia, e apenas 3 por cento disso ? dirigido a Israel, de acordo com estat?sticas do governo.
Mais de um quarto das exporta??es brasileiras para a regi?o consistem de carne. Tanto a JBS, a maior produtora mundial de carne bovina, e a BRF, a exportadora n?mero um de carne de frango, apostaram muito na crescente demanda por carne halal.
O Brasil exporta mais de 5 bilh?es de d?lares de carne halal por ano, mais que o dobro ante seus rivais pr?ximos, a Austr?lia e a ?ndia, de acordo com a Salaam Gateway, uma parceria entre o Centro de Desenvolvimento Econ?mico Isl?mico de Dubai e a Thomson Reuters.
A proposta de Bolsonaro para a embaixada de Israel ? parte de sua revis?o da pol?tica externa brasileira, que busca se aproximar de grandes pot?ncias, como os Estados Unidos, e desfazer o que ele classifica como alian?as baseadas em 'vi?s ideol?gico' de seus antecessores de esquerda.
A decis?o de Trump de abrir a embaixada em Jerusal?m em maio se provou uma cutucada em um vespeiro no Oriente M?dio, e viu alguns aliados seguirem o exemplo. A Guatemala fez o mesmo nos dias seguintes e o Paraguai reverteu uma decis?o similar desde ent?o.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, elogiou Bolsonaro pelo plano de mudar a embaixada brasileira, classificando-o como um 'amigo'.
Mas depois de o Egito ter abruptamente cancelado uma visita de diplomatas e empres?rios brasileiros nesta semana, Bolsonaro disse que sua decis?o sobre a embaixada brasileira em Israel ainda n?o era definitiva.
Bolsonaro j? mostrou que n?o teme provocar importantes parceiros comerciais, seguindo o exemplo do presidente dos Estados Unidos, a quem ele admira e imita abertamente, tanto no estilo pol?tico, quanto na pol?tica externa.
Como Trump, Bolsonaro criticou a China em sua campanha presidencial. Entretanto, ele abrandou seu tom desde a elei??o no final do m?s passado, ap?s o lobby de diplomatas e empres?rios que querem proteger as rela??es com o principal parceiro comercial do Brasil.
VIAGEM CANCELADA
A press?o do Oriente M?dio pode ser mais agressiva.
Na segunda-feira, o Egito cancelou a planejada visita do ministro das Rela??es Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, e de empres?rios, o que, segundo fontes diplom?ticas, foi uma reposta direta ? proposta de Bolsonaro de mudar a embaixada.
A embaixada eg?pcia justificou o caso como um conflito de agendas.
O incidente soou alarmes na ind?stria brasileira de carnes.
O presidente da BRF, Pedro Parente, disse na quinta-feira que a quest?o da embaixada de Israel era 'causa para preocupa??o'.
'Temos um com?rcio muito importante com os mercados ?rabes e halal', disse Parente a jornalistas. Ele, contudo, comentou estar confiante de que a melhor decis?o ser? tomada quando os minist?rios da Agricultura, Com?rcio Exterior e de Rela??es Exteriores forem envolvidos.
O segmento de halal da BRF contribuiu com um quarto de sua receita operacional l?quida e quase metade de seu lucro operacional no terceiro trimestre deste ano.
O frango halal representou quase metade das exporta??es totais de carne de frango do Brasil no ano passado, que somaram 7,1 bilh?es de d?lares, de acordo com a Associa??o Brasileira de Prote?na Animal (ABPA).
'H? um com?rcio de 2 bilh?es de d?lares entre o Egito e o Brasil, principalmente no setor aliment?cio e de agropecu?ria, e, neste setor, principalmente nos segmentos bovino e de aves', disse o embaixador eg?pcio no Brasil, Alaa Roushdy, ? Reuters.
Ele se negou a comentar a aventada mudan?a da embaixada ou se ela poderia ter algum impacto no com?rcio.
A BRF tem unidades de processamento na Turquia e nos Emirados ?rabes Unidos para atender a crescente demanda por carne halal. A empresa tem como objetivo dobrar sua produ??o de produtos processados no Golfo P?rsico at? 2023, afirmou seu diretor de opera??es Halal em um evento em outubro.
A JBS enviou mais de um oitavo de suas exporta??es para o Oriente M?dio e para a ?frica em 2017, ficando atr?s apenas da regi?o da China.
Representantes da JBS se negaram a comentar as consequ?ncias de uma potencial mudan?a de embaixada.
A C?mara de Com?rcio ?rabe-Brasileira espera que as exporta??es totais do Brasil para um grupo de 22 pa?ses, que exclui na??es mu?ulmanas n?o ?rabes, como o Ir?, aumentem para 20 bilh?es de d?lares at? 2022, de 13,5 bilh?es em 2017.
Rubens Hannun, presidente da C?mara, acrescentou que o Brasil tamb?m pode se beneficiar de investimentos em infraestrutura de fundos soberanos ?rabes. O Mubadala Development, dos Emirados ?rabes, por exemplo, investiu 2 bilh?es de d?lares no imp?rio brasileiro de commodities EBX nesta d?cada.
'N?o queremos ru?dos nessa rela??o', disse Hannun. 'Tememos que isso abra as portas para a competi??o.'
(Por Ana Mano, em S?o Paulo; Jake Spring e Anthony Boadle, em Bras?lia; Tulay Karadeniz, em Ancara)
Escrito por Redação
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