ANÁLISE-Crash do petróleo coloca governos da América Latina em sinuca de bico: gastar ou não gastar?
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Por Jamie McGeever
BRAS?LIA (Reuters) - A queda acentuada nos pre?os do petr?leo e a consequente turbul?ncia nos mercados colocaram os governos da Am?rica Latina em uma posi??o pouco invej?vel: a de tentar fortalecer suas economias sem que um buraco seja aberto nos or?amentos ou que investidores internacionais acabem assustados.
Do M?xico ao Brasil, diversos pa?ses da regi?o s?o grandes exportadores de petr?leo e outras commodities, e foram afetados por um golpe triplo, formado pelo 'crash' do petr?leo, pela redu??o da demanda da China por importa??es e pela queda vertiginosa no valor de suas moedas.
As proje??es de crescimento econ?mico para este ano j? vinham sendo reduzidas por causa da dissemina??o global do coronav?rus, mas agora uma queda em importantes fluxos de receitas apertar? ainda mais os or?amentos de muitos governos.
A resposta monet?ria ortodoxa, especialmente em mercados emergentes, que dependem muito dos fluxos de capital estrangeiro, seria apertar o cinto fiscal, algo que tamb?m ? aprovado pelas ag?ncias de classifica??o de riscos.
Mas isso tamb?m acelera um ciclo vicioso de crescimento lento e austeridade cada vez maior. Em um momento de crise econ?mica, financeira e agora de sa?de p?blica, a 'austeridade expansionista' ? uma pol?tica particularmente arriscada.
Alguns pa?ses, como o M?xico, parecem mais abertos ? ideia de est?mulos fiscais. Outros, como o Peru, que recentemente ampliou em tr?s anos --para at? 2024-- o prazo para redu??o do d?ficit or?ament?rio, tamb?m podem ter um pouco mais de espa?o para manobras fiscais.
Outros mais --como a Argentina, que j? est? em uma profunda crise econ?mico-financeira-- n?o t?m qualquer espa?o para impulsionar gastos.
O Brasil, enquanto isso, sob a lideran?a de Paulo Guedes, ministro da Economia guiado pela Escola de Chicago, est? refor?ando sua pol?tica de 'zelo fiscal', conforme disse o secret?rio especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, na ter?a-feira.
'Muitos pa?ses j? est?o em d?ficit, ent?o eles t?m uma escolha', disse Monica de Bolle, pesquisadora-s?nior do Peterson Institute for International Economics, em Washington.
'Ter um d?ficit e n?o fazer nada, empurrando a economia para a recess?o. Ou fazer alguma coisa --voc? continua tendo um d?ficit, mas minimiza o risco de outros problemas, como o desemprego elevado e a inquieta??o social', afirmou.
EST?MULO MONET?RIO, N?O FISCAL
Em uma indica??o do qu?o comprometidos alguns pa?ses latino-americanos est?o com a disciplina or?ament?ria, analistas do JP Morgan calculam que apenas o M?xico, entre as principais economias da regi?o, reagir? aos danos econ?micos causados pela epidemia de coronav?rus tanto com est?mulos fiscais quanto com cortes na taxa de juros.
Brasil, Chile e Peru, por outro lado, n?o fornecer?o est?mulos fiscais, contando apenas com a maior flexibiliza??o das pol?ticas monet?rias, mesmo diante do enfraquecimento das taxas de c?mbio, disseram eles.
Os dados v?o variar de pa?s para pa?s, mas nenhum deles sair? ileso da situa??o.
Na ter?a-feira, economistas do Bank of America Merrill Lynch reduziram a estimativa para o crescimento do PIB da Am?rica Latina em 2020 para 0,7%, contra 1,2% projetado anteriormente, e n?o descartaram uma recess?o global moderada, o que reduziria o crescimento da regi?o para apenas 0,2%.
O M?xico atingiu sua meta de super?vit prim?rio de 1% do PIB no ano passado, registrando um super?vit de 1,1%, mas apenas porque retirou 40% de um fundo destinado ? estabiliza??o or?ament?ria.
Agora, a grande queda nas receitas do setor petrol?fero for?ou o Minist?rio das Finan?as mexicano a reduzir seus compromissos com o or?amento e defender um relaxamento fiscal para impulsionar uma economia que j? havia flertado com a recess?o no ano passado.
O ministro das Finan?as do pa?s, Arturo Herrera, disse na ter?a-feira que um programa de 'hedge' (fixa??o de pre?os) de 1,4 bilh?o de d?lares, o maior neg?cio financeiro do mundo relacionado ao petr?leo, cobriu completamente a receita nacional com a commodity em 2020, e que dessa forma o 'crash' do petr?leo n?o ter? um impacto 'direto' no or?amento deste ano.
'Mas ainda ? uma situa??o preocupante', afirmou Herrera.
A estatal Pemex, gigante do petr?leo, ? uma potencial preocupa??o. Caso queira sustentar seu plano de investimento de 11 bilh?es de d?lares para este ano, o governo precisar? fornecer um suporte adicional de 13 bilh?es de d?lares, ou cerca de 1% do PIB, segundo estimativas de analistas do Citi.
(Reportagem de Jamie McGeever, com reportagem adicional de Julia Symmes Cobb e Nelson Bocanegra em Bogot?)
Escrito por Reuters
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