ANÁLISE-Postura de Bolsonaro nos primeiros 100 dias não funciona e governo se beneficiaria de pragmatismo
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Por Eduardo Sim?es
S?O PAULO (Reuters) - A insist?ncia do presidente Jair Bolsonaro em manter nos seus 100 primeiros dias de governo a ret?rica adotada antes e durante a campanha eleitoral n?o tem funcionado e seu governo se beneficiaria da ado??o de uma abordagem mais pragm?tica, disseram analistas ouvidos pela Reuters.
Ao contr?rio de outros presidentes em primeiro mandato, Bolsonaro n?o contou com uma 'lua de mel' nos primeiros 100 dias de governo e isso se deveu em grande parte a turbul?ncias geradas dentro do pr?prio governo.
Al?m disso, o discurso de ruptura com o que o presidente gosta de chamar de 'velha pol?tica' gerou atritos com o Congresso Nacional, o que n?o ? recomend?vel para um governo que afirma ter entre suas principais prioridades medidas que dependem do aval de tr?s quintos de deputados e senadores, como a reforma da Previd?ncia.
'O governo assumiu com uma atitude quase que beligerante, de 'eu vou fazer tudo diferente', mas n?o fez. N?o mostrou o que era o diferente, n?o conseguiu trazer, n?o conseguiu dialogar e basicamente virou uma f?brica de pequenas crises semanais, se n?o quase que di?rias', disse ? Reuters Danilo Gennari, s?cio da Distrito Rela??es Governamentais.
Entre as crises vividas pelo governo em apenas 100 dias dos quatro anos de mandato est?o a substitui??o de dois ministros --Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Ricardo V?lez (Educa??o)-- e pol?micas envolvendo declara??es de ministros, principalmente os que s?o apontados como da ala ideol?gica do governo.
Soma-se a isso a pouca experi?ncia governamental do presidente e o grande n?mero de novatos entre os parlamentares de seu partido, o PSL, um nanico at? a elei??o de 2018 e que, na esteira de Bolsonaro, elegeu a segunda maior bancada de deputados no ano passado.
'Essa falta de experi?ncia, de nunca ter sido governo, fez com que se chamasse tudo de velha pol?tica e colocasse tudo num envelope chamado de imoral. Isso estabeleceu uma rela??o de desconfian?a entre o Congresso e o governo e entre o governo e o Congresso', disse ? Reuters o cientista pol?tico e professor do Insper Carlos Melo.
'Isso gerou um estranhamento muito grande, e aquilo que poderia ter avan?ado em termos de agenda, avan?ou pouco. N?s estamos em meados de abril e o parecer da reforma da Previd?ncia est? na Comiss?o de Constitui??o e Justi?a. O governo ainda n?o tem uma base que possa quantificar.'
A postura pessoal de Bolsonaro e a escolha por figuras de perfil ideol?gico para postos-chave da administra??o --como os minist?rios das Rela??es Exteriores, Educa??o e Meio Ambiente-- tamb?m s?o lembrados.
'H? um ideologismo de sinal trocado', avaliou Melo. 'O essencial tem sido substitu?do pelo acess?rio.'
Analistas afirmam que ? dif?cil prever se Bolsonaro mudar? de curso. Ao mesmo tempo que o presidente passou a se reunir pessoalmente desde a semana passada com lideran?as e presidentes de partidos em busca de melhorar a articula??o pol?tica, a escolha de Bolsonaro para substituir V?lez no Minist?rio da Educa??o --o at? ent?o n?mero dois da Casa Civil, Abraham Weintraub-- indica que o presidente dobrou a aposta em sua estrat?gia atual.
'Essa mudan?a no Minist?rio da Educa??o agora poderia ser uma sinaliza??o de mudan?a, mas na pr?tica n?o foi. Foi uma reafirma??o de que ele ? daquele jeito, vai continuar sendo assim e a pol?tica dele ? aquela', disse Gennari.
Weintraub j? afirmou ser necess?rio combater o 'marxismo cultural' nas universidades e disse em uma palestra que comunistas est?o no topo de organiza??es financeiras, s?o donos de jornais, de grandes empresas e de monop?lios.
ERRO DE AVALIA??O
A insist?ncia de Bolsonaro se baseia em um erro de avalia??o, segundo os analistas: a de que o presidente foi eleito somente pelo grupo que o apoia nas redes sociais.
E esse equ?voco, disseram, j? come?a a aparecer em pesquisas de opini?o que apontam Bolsonaro como o presidente cujo governo tem a mais baixa aprova??o perto dos 100 primeiros dias de um primeiro mandato.
'N?o foi s? esse grupo que o elegeu', disse Gennari. 'A popularidade dele est? caindo exatamente porque o grupo do meio --que o apoiou n?o porque era f? do Bolsonaro das redes sociais, explosivo, falastr?o, etc, mas porque via nele uma possibilidade, principalmente com o Paulo Guedes, de levar adiante reformas e fazer a economia crescer-- est? vendo que o presidente tem dificuldades de abandonar o discurso eleitoral.'
Na avalia??o dos analistas, a estrat?gia atual pode deixar Bolsonaro ref?m do Congresso Nacional, dificultando a aprova??o de reformas importantes, como a da Previd?ncia, apontada como crucial para equilibrar as contas p?blicas e retomar o crescimento da economia.
'O governo precisa acelerar a sua curva de aprendizado e precisa corrigir posturas', disse Melo, do Insper.
'Ou ele come?a a negociar com pragmatismo, ou ele vai ficar muito s? nesse processo todo, n?o vai conseguir aprovar projetos importantes, a economia piora, e a economia piorando, piora a pol?tica, que piora a economia mais um pouco e voc? cria um ciclo vicioso, que n?s j? vivemos no passado.'
Escrito por Redação
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