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ANÁLISE-Preço firme do milho, apesar de safra recorde, testa setor de carnes do Brasil

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REUTERS/Andrees Latif

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Por Roberto Samora

S?O PAULO (Reuters) - A ind?stria de aves e su?nos do Brasil, que vem obtendo not?veis resultados com a disparada das exporta??es de carnes, principalmente para a China, ter? testada em 2019 sua capacidade de lidar com uma alta inesperada dos pre?os de sua principal mat?ria-prima, o milho.

Chuvas excessivas nos Estados Unidos, os maiores produtores e exportadores globais, geraram um atraso recorde no plantio e quebra de safra, impulsionando na quinta-feira os pre?os na bolsa de Chicago para m?ximas de cerca de quatro anos, o que tem se refletido no mercado brasileiro, apesar de o Brasil estar no caminho de uma produ??o hist?rica do cereal.

'A alta do pre?o do milho (desde maio) pegou todo mundo de cal?a curta', disse o pesquisador da ?rea de prote?na animal do Centro de Estudos Avan?ados em Economia Aplicada (Cepea), Thiago Bernardino de Carvalho.

Na compara??o com as m?nimas do ano, no in?cio de maio, os pre?os do milho no Brasil subiram mais de 13%, para cerca de 37 reais por saca de 60 kg, segundo indicador do Cepea, da USP. Enquanto em Chicago os valores subiram cerca de 25% no mesmo per?odo, ganhando impulso adicional ap?s o governo dos EUA reduzir nesta semana a estimativa de safra em quase 10%

O fato de a ind?stria do Brasil, maior exportador global de carne de frango, ter sido pega no contrap? n?o ? in?dito. Mas vai mostrar se dessa vez as companhias estavam protegidas, com hedge, compras antecipadas ou estoques comprados a pre?os mais baixos, antes da disparada dos valores.

O ano de 2016 pode ter deixado li??es, quando uma seca quebrou fortemente a safra do Brasil. Na ?poca, a gigante BRF, maior exportadora global de carne de frango, sofreu s?rios problemas com custos maiores do milho, registrando preju?zo de 372 milh?es de reais, resultados l?quidos negativos que se ampliaram em 2017 e 2018.

Diante da surpreendente alta dos pre?os do milho no Brasil --apesar de uma safra recorde, que superaria 100 milh?es de toneladas pela primeira vez--, a BRF indicou que est? preparada.

'A BRF possui um percentual de volume j? comprado m?s a m?s para os pr?ximos 12 meses correntes. Essa din?mica decorre de um mapeamento pr?vio em que a companhia consegue identificar o melhor formato de compra frente aos fundamentos de pre?o, c?mbio e oferta/demanda do mercado', disse a companhia em nota ? Reuters.

'Com isso, a companhia reduz a exposi??o ? volatilidade do mercado de commodities e estabelece uma estrat?gia coerente para formar seus estoques', acrescentou.

Procurada, a JBS, dona da Seara, outra gigante do setor de carnes de aves e su?nos no Brasil, preferiu n?o comentar o assunto.

Em evento recente com jornalistas, o analista de Alimentos e Bebidas da Ita? BBA Corretora, Ant?nio Barreto, comentou que, pelas conversas relacionadas a grandes empresas, 'n?o parece que elas t?m posi??o muito grande de milho'.

Carvalho, do Cepea, explicou que, como havia sinaliza??o de que a safra brasileira seria grande, as ind?strias locais aguardavam julho e agosto para realizar as compras, quando tradicionalmente os pre?os est?o mais pressionados, pela maior oferta com o fim da colheita.

'A ind?stria aprendeu a se proteger, mas com o desenho da safrinha (segunda safra), realmente ela n?o estava muito coberta de contratos...', disse Carvalho, do Cepea.

Na B3, o n?mero de contratos em aberto de milho para o vencimento setembro era de pouco mais de 16 mil na quinta-feira, ante quase 24 mil no mesmo per?odo do ano passado, um indicativo de menos agentes protegidos nos mercados futuros. Vale lembrar que, em 2018, o clima n?o favoreceu a safra de milho, e muitos agentes podem ter antecipado opera??es de hedge.

'Os mercados sinalizavam mais queda nos pre?os (este ano), e a? mudou com Chicago e o c?mbio', ressaltou o especialista.

Com o d?lar sendo negociado a mais de 4 reais em maio, ficou muito favor?vel para o Brasil exportar, e o mercado local passou a operar seguindo a paridade de exporta??o, colocando mais press?o nas ind?strias de carnes.

FATOR CHINA

O cen?rio de pre?os sustentados ocorre em momento em que as ind?strias de carnes tamb?m deveriam estar mais ativas no mercado de milho, considerando a forte demanda da China, que tem importado mais prote?nas para lidar com uma menor oferta por conta do impacto da peste su?na africana em seus rebanhos.

Por outro lado, o setor de carnes de aves e de su?nos, principais consumidores do milho produzido no Brasil, tem registrado grandes exporta??es com a demanda adicional da China e o c?mbio tamb?m favor?vel para exporta??es.

'O setor vinha em um momento bastante favor?vel em termo de custos de produ??o, com melhores n?veis de rentabilidade at? o 'port?o' da f?brica... A eleva??o do milho retirou uma pequena parte deste quadro favor?vel que, entretanto, foi compensado pela forte eleva??o nos n?veis de exporta??o e a alta do d?lar', disse o presidente da Associa??o Brasileira de Prote?na Animal (ABPA), Francisco Turra, ao responder perguntas da Reuters.

A ABPA, entidade que tem entre os associados empresas como BRF e Seara, da JBS, destacou que em carne su?na, por exemplo, as exporta??es de maio cresceram 54,6% em receita cambial, enquanto a alta no faturamento em real atingiu 70%.

Segundo dados do governo, os pre?os da carne su?na exportada pelo Brasil est?o 17,5% maiores no in?cio de junho, na compara??o com 2018, enquanto as cota??es da carne de frango exportada subiram 10%.

Isso ap?s a China ter elevado embarques dessas carnes do pa?s em cerca de 50% em maio.

'Obviamente que eleva??es de custos preocupam, mas o quadro atual est? longe do cen?rio cr?tico vivido pelo setor produtivo em outros momentos...', comentou Turra, ressaltando que, ainda que o Brasil exporte volumes recordes de milho, os estoques do cereal no pa?s estar?o entre os maiores da hist?ria.

Dessa forma, destacou o presidente da ABPA, o pre?o do milho, que representa mais de 60% do custo da ra??o, principal insumo da ind?stria de carne de frango e de porcos, talvez 'tenha chegado ao n?vel mais elevado para o quadro atual'.

Turra disse ainda que, em momento de maiores custos, '? natural' que ocorram repasses de pre?os aos produtos do setor.

(Por Roberto Samora)

Escrito por Redação

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