Base do governo está formada, mas tamanho exato só será conhecido em votações
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Por Maria Carolina Marcello e Anthony Boadle
BRAS?LIA (Reuters) - O governo articulou sua base no Congresso para se cal?ar frente a eventuais amea?as em um esfor?o que contou, inclusive, com a oferta de cargos do segundo escal?o a partidos do chamado centr?o, mas a real extens?o desse apoio s? ser? aferida nas pr?ximas vota??es pol?micas ou de interesse do governo.
Para muitos pol?ticos, os pr?ximos dias ser?o, ainda, de monitoramento. H? uma s?rie de vari?veis envolvidas no comportamento desses partidos, incluindo as crises que assolam o pa?s devido ? pandemia do novo coronav?rus e as turbul?ncias pol?ticas criadas pelo pr?prio governo, como no epis?dio mais recente da demiss?o de Sergio Moro do Minist?rio da Justi?a e Seguran?a P?blica.
'N?o ? poss?vel saber de forma exata qual ? o tamanho da base, em termos quantitativos', disse ? Reuters o deputado F?bio Trad (PSD-MS).
'As pr?ximas vota??es, aquelas mais pol?micas, de interesse do governo, ? que v?o dar essa no??o para n?s', acrescentou, citando ainda que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, afirmou que a sigla n?o integra o centr?o.
Trad lembra, assim como outras tr?s fontes ouvidas pela Reuters, que o engajamento de partidos cortejados pelo governo n?o foi total. Muitos deputados dentro de siglas como o PP e o PL, por exemplo, preferiram n?o se colar ? imagem do governo e se abstiveram da indica??o de cargos para o segundo escal?o.
Da? a necessidade de se aguardar uma pr?xima vota??o de peso para entender os resultados da recente investida do presidente Jair Bolsonaro junto ao grupo pol?tico.
Umas dessas vota??es poderia ser a do poss?vel veto do presidente ao dispositivo do projeto de aux?lio a Estados e munic?pios que trata das categorias de servidores p?blicos que n?o sofrer?o congelamento de sal?rio, avalia Trad.
A pauta do Congresso, no entanto, tem se centrado nas mat?rias de combate ? crise do coronav?rus que tenham consenso, o que traz d?vidas quanto ? vontade pol?tica de pautar o veto.
O clima, por ora, ? de matura??o, e n?o h? defini??o sobre uma data para an?lise da eventual negativa presidencial. Caso haja o veto e ele seja mantido, isso dar? uma no??o do comportamento da base ap?s a confirma??o de nomea??es.
Na quarta-feira desta semana, por exemplo, foi publicada a nomea??o do novo diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) com um nome indicado pelo centr?o, segundo as fontes ouvidas pela Reuters.
As pr?ximas ofertas do governo nesse movimento de articula??o da base devem abarcar a Secretaria de Vigil?ncia em Sa?de do Minist?rio da Sa?de, os comandos da Funda??o Nacional de Sa?de (Funasa) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa??o (FNDE), al?m da presid?ncia do Banco do Nordeste.
Para o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), assim como para v?rios outros parlamentares, no presidencialismo de coaliz?o n?o s? ? leg?timo buscar uma base de sustenta??o no Congresso, como tamb?m necess?rio para sair da crise que o pa?s enfrenta.
'Ele precisa de uma base, pelo menos que seja m?nima, para passar as medidas necess?rias nesta crise', ponderou.
'O presidente n?o falava com o centr?o e se perdeu o di?logo pol?tico que Brasil precisa. Agora ele viu essa necessidade.'
Na mesma linha, o l?der do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), defendeu em entrevista a emissoras de r?dio de seu Estado que Executivo e Legislativo se articulem para consturir uma agenda comum.
'O governo iniciou um processo de di?logo com as for?as pol?ticas que comp?em o Congresso Nacional. Fez isso porque est? convencido de que o segundo desdobramento mais grave da pandemia vai ser a crise econ?mica e social, fruto do desemprego e da retra??o das atividades produtivas. Para isso, vai ser preciso adotar medidas amargas e duras para reanimar a economia brasileira', disse o l?der.
SEM GARANTIA ABSOLUTA
Se de um lado, o governo partiu para a pr?tica do que Bolsonaro muitas vezes chamou de velha pol?tica, pol?ticos do centr?o, de outro lado, garantem, com o movimento, seus nichos dentro da administra??o p?blica de olho nas elei??es municipais.
Outro ponto focal diz respeito ? disputa pela presid?ncia da C?mara, que abriu os flancos no grupo que at? poucas semanas atr?s rodeava o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O governo agiu, na avalia??o de parlamentares cr?ticos ao movimento, por 'desespero' e 'instinto de sobreviv?ncia'. Al?m de quest?es enfrentadas no Judici?rio, Bolsonaro pode se ver em situa??es de risco no Parlamento.
'O presidente est? muito fragilizado com os acontecimentos e pela crise sanit?ria, econ?mica e social a que Brasil est? acometido', avaliou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).
'O movimento dele na dire??o do centr?o ? uma vacina, n?o s? para a situa??o atual, mas para o que vem pela frente.'
O partido de Ramos ? um dos cortejados pelo presidente. O deputado em si, no entanto, teria recusado oferta de indicar cargos, segundo relatos de uma outra fonte.
A Mesa da C?mara j? computa ao menos 30 pedidos de impeachment conta o presidente da Rep?blica, que tamb?m ? amea?ado por atividades legislativas como Comiss?es Parlamentares de Inqu?rito (CPIs).
Essa ? a ideia, avalia uma fonte, de Maia, alvo rotineiro de Bolsonaro e do grupo de apoiadores do presidente: deixar Bolsonaro sangrar. N?o ? o momento de movimentos bruscos como dar andamento a um requerimento de impeachment --at? porque seriam necess?rios os votos do centr?o nas vota??es seguintes ? aceita??o do pedido por parte do presidente da C?mara.
Maia tamb?m precisa levar em conta, alertam duas fontes, que h? integrantes de seu c?rculo de apoio fazendo jogo duplo.
Isso n?o quer dizer, no entanto, que os que se engajaram no governo estar?o fechados com Bolsonaro em qualquer situa??o, avaliam fontes parlamentares.
O deputado F?bio Trad lembra que h? pelos tr?s crises em curso com forte capacidade de influ?ncia na opini?o p?blica, e portanto, no posicionamento do centr?o.
Uma delas diz respeito aos impactos sociais e na ?rea de sa?de por conta do novo coronav?rus, a segunda diz respeito aos efeitos econ?micos da doen?a, e h? ainda a crise pol?tica, no momento centrada no embate entre Moro e Bolsonaro, j? na esfera judicial, sobre poss?vel interfer?ncia do presidente na Pol?cia Federal.
Acrescenta-se a isso o vai e vem na Justi?a sobre a divulga??o ou n?o dos testes de Covid-19 realizados por Bolsonaro.
'Temos que ver quais os desdobramentos dessas tr?s crises para tamb?m monitorar o comportamento do centr?o... Podem surgir mat?rias pol?micas e a? vai depender muito da nossa aten??o, da nossa sensibilidade, para metrificar o grau de ades?o do centr?o.'
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO