BC mantém Selic em 6,5% e sinaliza que não há urgência para aumento de juros
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Por Marcela Ayres
BRAS?LIA (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa de juros no seu piso hist?rico, de 6,5 por cento ao ano, e ponderou que houve alguma melhora em seu balan?o de riscos, corroborando apostas no mercado de que n?o subir? a Selic t?o cedo, embora tenha mantido a porta aberta para faz?-lo se houver piora no quadro inflacion?rio.
A mensagem vem em meio ao al?vio recente nos mercados com o favoritismo e posterior vit?ria de Jair Bolsonaro (PSL) ? Presid?ncia do pa?s.
Em comunicado com poucas altera??es em rela??o ? decis?o anterior, o Comit? de Pol?tica Monet?ria (Copom) n?o fez nenhuma men??o ? disputa ao Pal?cio do Planalto em seu primeiro encontro ap?s a defini??o eleitoral.
'O Copom reitera que a conjuntura econ?mica ainda prescreve pol?tica monet?ria estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural', diz um trecho do comunicado.
'Esse est?mulo come?ar? a ser removido gradualmente caso o cen?rio prospectivo para a infla??o no horizonte relevante para a pol?tica monet?ria e/ou seu balan?o de riscos apresentem piora.'
Ao falar sobre os riscos que v? em seu cen?rio b?sico para infla??o, destacou que permanecem fatores em ambas as dire??es, mas com maior peso nos que pressionam a infla??o para cima: frustra??o quanto ? continuidade de reformas na economia e deteriora??o do cen?rio externo para emergentes.
Ressaltou, entretanto, que 'o Comit? julga que o grau de assimetria do balan?o de riscos diminuiu desde sua reuni?o anterior'.
Em setembro, o BC havia dito que esses dois riscos haviam se elevado.
'Nesse sentido ele teve uma postura menos dura do que no comunicado anterior. Eu acho que o comunicado na minha avalia??o sugere que o nome do jogo ? n?o aumentar juros', afirmou o economista-chefe da Opus, Jos? M?rcio Camargo.
'N?o existe nenhum sintoma nesse momento de press?o inflacion?ria, nem hoje nem no futuro pr?ximo, portanto n?o vejo nenhuma raz?o neste momento para imaginar que o BC vai entrar numa trajet?ria de aperto na pol?tica monet?ria', acrescentou.
Em nota a clientes, a Rosenberg Associados avaliou que a sinaliza??o de uma maior simetria no balan?o, mas com o reconhecimento de que os riscos altistas ainda t?m peso maior, constituem 'uma maneira de refrear poss?veis apostas em novas redu??es de juros, que poderiam derivar de uma simetria total do balan?o de riscos'.
'O cen?rio b?sico, portanto, ? de manuten??o dos juros', escreveu a equipe de macroeconomia da casa.
A economista Camila Abdelmalack, da CM Research, previu que, 'salvo alguma mudan?a expressiva no cen?rio dom?stico', a Selic deve seguir em 6,5 por cento at? o terceiro trimestre de 2019
Em pesquisa Reuters, 40 de 42 economistas j? esperavam que o BC deixasse os juros inalterados, o que ocorreu pela quinta reuni?o consecutiva do Copom. Os dois votos dissidentes, da Capital Economics e HSBC, esperavam aumento de 0,25 ponto percentual.
TRAJET?RIA DA SELIC
A ligeira mudan?a na comunica??o do BC vem ap?s ele ter sinalizado em setembro que poderia subir a Selic ? frente caso houvesse piora do quadro inflacion?rio, conforme incertezas ligadas ?s elei??es e um movimento global de avers?o a risco pressionavam o c?mbio aos valores mais altos desde a cria??o do real.
De l? para c?, contudo, a moeda norte-americana passou a recuar ap?s pesquisas mostrarem forte apoio a Bolsonaro, abra?ado pelo mercado como o candidato reformista ap?s a falta de tra??o de Geraldo Alckmin (PSDB) na corrida presidencial.
O recuo do d?lar frente ao real pode baratear importados e insumos da ind?stria e agricultura, refor?ando a perspectiva de infla??o lenta nos pr?ximos meses. Em outubro, a moeda teve a maior queda percentual ante o real desde junho de 2016, para o patamar de 3,70 reais, com o qual deve continuar flertando.
Embora a infla??o em 12 meses tenha subido acima do centro da meta deste ano de 4,5 por cento, o chamado n?cleo da infla??o, que n?o leva em conta componentes vol?teis, tem ficado contido, em meio ? lenta recupera??o econ?mica e desemprego elevado.
Refletindo esse cen?rio, o BC elevou a proje??o de infla??o para 2018 pelo cen?rio de mercado a 4,4 por cento, sobre 4,1 por cento antes. Para 2019 e 2020, a estimativa foi a 4,2 e 3,7 por cento, ante 4,0 por cento e 3,6 por cento anteriormente.
As contas partem de proje??es dadas pelos economistas na ?ltima pesquisa Focus, de Selic em 6,5 por cento ao fim deste ano, subindo a 8 por cento em 2019 e permanecendo neste patamar at? o final de 2020. Para o c?mbio, as estimativas do mercado s?o de que ir? fechar 2018 a 3,71 reais, avan?ando a 3,80 reais em 2019 e recuando a 3,75 reais a 2020.
Ap?s a vit?ria na corrida ao Pal?cio do Planalto, Bolsonaro se comprometeu com a responsabilidade fiscal e, recentemente, fez acenos quanto ? aprova??o de parte de uma reforma da Previd?ncia ainda neste ano.
Apesar da falta de detalhamento sobre as propostas e da aus?ncia de alinhamento sobre temas econ?micos entre homens-fortes de seu entorno, o mercado tem se fiado na perspectiva de que Bolsonaro cumprir? as reformas propostas por seu principal assessor econ?mico, o economista liberal Paulo Guedes, not?rio defensor de privatiza??es, mudan?as nas regras de acesso ? aposentadoria e redu??o do tamanho do Estado.
Em pesquisa Reuters, inclusive, economistas apontaram que o BC deve demorar ainda mais para elevar os juros, ante expectativa anterior de que j? deixaria a tarefa para 2019.
Em seu comunicado, o BC voltou a dizer que a continuidade do processo de reformas ? 'essencial para a manuten??o da infla??o baixa no m?dio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recupera??o sustent?vel da economia'.
'O Comit? ressalta ainda que a percep??o de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e proje??es macroecon?micas correntes', repetiu.
Escrito por Redação
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