ANÁLISE-Bom desempenho do Brasil na Copa pode melhorar humor geral e injetar ânimo na eleição
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Por Maria Carolina Marcello
BRAS?LIA (Reuters) - Futebol e pol?tica caminham juntos h? um bom tempo na hist?ria do pa?s, e o clima de decep??o e desinteresse pela pol?tica, captado pelos altos ?ndices de rejei??o e votos brancos e nulos nas pesquisas eleitorais, parece ter transbordado para o esporte que faz parte da identidade nacional.
Por outro lado, arriscam os mais otimistas, uma boa trajet?ria da sele??o brasileira na Copa do Mundo poderia resgatar, ainda que temporariamente, um pouco da autoestima da popula??o, abrandar o mal-humor geral e levar o brasileiro a enfrentar a campanha eleitoral com mais ?nimo.
O brasileiro olha para o Brasil e fica desanimado , disse ? Reuters o professor em?rito do Departamento de Sociologia da USP Reginaldo Prandi.
E se voc? pegar as pessoas que est?o mais desanimadas com rela??o ? Copa, s?o as mesmas que mais percebem a corrup??o, s?o pessoas mais cr?ticas ao desempenho da economia, s?o pessoas que menos aprovam o governo federal. A popula??o se sente muito enganada , avaliou.
O professor, que tamb?m ? especialista em demografia e um dos fundadores do instituto Datafolha, lembra que j? n?o h? mais a evidente empolga??o com o Mundial que se via em outras ?pocas, em que ecoava a plenos pulm?es o jingle sobre ser brasileiro com muito orgulho e muito amor .
Na mesma linha, o analista pol?tico e professor da Universidade Cat?lica de Bras?lia Creomar de Souza avalia que o futebol ao longo da hist?ria do pa?s fez as vezes para preencher lacunas na forma??o na identidade nacional do brasileiro.
O futebol talvez seja o grude que nos une... Acho que havia uma cren?a, no curso do tempo, de que o futebol serve para curar feridas , afirmou.
Essa polariza??o pol?tica que a gente vive e o desgaste da representatividade conseguiram roubar do brasileiro at? isso, que era a percep??o de que alguma coisa o agradava.
Pesquisa Datafolha divulgada em 12 de junho apontou o mais alto ?ndice de desinteresse j? apurado para o evento. Segundo a sondagem, 53 por cento dos entrevistados responderam n?o estar interessados pelo mundial, 18 por cento disseram ter interesse m?dio e outros 9 por cento afirmaram nutrir um pequeno interesse.
Em outra frente, pesquisas eleitorais mais recentes apontam n?meros elevados de brancos, nulos e indecisos. Isso sem contar, lembram especialistas, que tanto a pol?tica quanto o futebol frequentam com certa assiduidade as not?cias relacionadas ? corrup??o, algo altamente repudiado pela popula??o em geral.
Soma-se a esse cen?rio, de um lado, o fantasma do 7 a 1 sofrido pela sele??o na Copa passada em jogo contra a Alemanha, e de outro, as recentes turbul?ncias pol?ticas que abalaram o pa?s como o impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, e as den?ncias que amea?aram a perman?ncia de Michel Temer na Presid?ncia da Rep?blica.
Para Souza, o brasileiro est? sentindo, neste ano, sintomas semelhantes aos do dia seguinte ap?s uma noite de excesso de bebidas alco?licas.
Em algum sentido essa ? a nossa Copa da ressaca. A gente tomou uma paulada na cabe?a em 2014, o povo brasileiro foi castigado em todos os aspectos , avaliou o professor da Universidade Cat?lica de Bras?lia. E essa tamb?m ? uma elei??o de ressaca, a gente tem uma Copa de ressaca com uma elei??o de ressaca.
Resta saber se o desempenho da sele??o ter? o poder de reanimar a popula??o e esse novo ?nimo passar para a campanha eleitoral.
No futebol houve uma grande expectativa, estava todo mundo de olho para ver o que ia acontecer e o Brasil n?o foi t?o bem assim , disse Prandi, referindo-se ao empate contra a Su??a, no jogo de estreia na Copa da R?ssia.
N?o depende da realidade, mas muito da subjetividade, ent?o se voc? tiver uma boa campanha no futebol isso d? um ?nimo, isso d? um respiro , acrescentou.
CART?O VERMELHO
Os insultos lan?ados contra a ent?o presidente Dilma Rousseff na abertura do Mundial 2014, mesmo diante de um evento que era in?dito para a maioria dos brasileira, no entanto, mostraram o in?cio de uma dissocia??o da rela??o hist?rica entre a pol?tica e o futebol, na avalia??o do professor?do Departamento de Ci?ncia Pol?tica da Universidade de Bras?lia (UnB), Denilson Bandeira Coelho.
O eleitor deu um cart?o vermelho para as lideran?as pol?ticas que almejavam capturar algum capital pol?tico, capital eleitoral em fun??o daquele evento , disse.
Para Coelho, este quadro n?o mudou de l? para c?, muito pelo contr?rio. Ele aposta no maior acesso ? informa??o e na maturidade do eleitor, que levar? em conta para a sua escolha em outubro deste ano fatores como as pol?ticas p?blicas pretendidas pelos candidatos.
? claro que tem eventos nesse processo (eleitoral) que v?o influenciar... um deles ? a Copa do Mundo , disse, mas com a seguinte ressalva: O candidato que tentar capturar algum capital pol?tico pensando em uma vit?ria da sele??o brasileira ser? rejeitado pela popula??o. Vai ser frontalmente rejeitado.
Escrito por Redação
SALA DE BATE PAPO