Brasil consegue promessa de apoio à entrada na OCDE, mas Trump cobra por isso

Por Lisandra Paraguassu e Roberta Rampton

WASHINGTON (Reuters) - Ao final de uma visita que at? o momento n?o tinha rendido grandes frutos ao Brasil, o aparente bom relacionamento entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump levou a uma declara??o formal de apoio ? entrada brasileira na Organiza??o para Coopera??o e Desenvolvimento Econ?mico (OCDE) e eleva??o do status do Brasil para parceiro preferencial fora da Otan.

Mais cedo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, revelou a jornalistas que, para apoiar a demanda brasileira os Estados Unidos exigiam que o Brasil deixasse a lista de pa?ses com tratamento especial e diferenciado da Organiza??o Mundial do Com?rcio (OMC). Perguntado sobre a quest?o, Trump respondeu que apoia o pleito brasileiro.

'N?s vamos apoiar, n?s vamos ter uma grande rela??o de diferentes maneiras. Isso ? apenas uma coisa que vamos fazer em honra do presidente Bolsonaro e do Brasil', disse Trump, afirmando que haveria demandas, mas que n?o necessariamente teriam rela??o com a OMC.

No entanto, em comunicado conjunto divulgado em seguida pela Casa Branca, o governo norte-americano condiciona sim o apoio ? OMC e informa que o Brasil teria concordado.

'O presidente Trump apontou seu apoio ao Brasil iniciar os procedimentos para se tornar um membro pleno da OCDE; presidente Bolsonaro concordou que o Brasil ir? iniciar os procedimentos para deixar a lista de pa?ses com tratamento especial e diferenciado da OMC, de acordo com a proposta dos Estados Unidos', diz a declara??o.

Mais tarde, em entrevista ? imprensa brasileira, Bolsonaro confirmou que havia concordo com a condi??o e disse que essa quest?o da OMC '? uma quest?o de tempo'.

A lista de pa?ses com tratamento especial e diferenciado inclui outros pa?ses que j? est?o na OCDE, como Turquia e Coreia do Sul, ? feita por autodeclara??o. Isso d? ao pa?s mais flexibilidade nas negocia??es da OMC e mais tempo para cumprir acordos.

A OCDE aconselha seus 36 membros, na sua maioria pa?ses ricos, e ? considerada uma influenciadora-chave na arquitetura econ?mica mundial. Dentre os emergentes que fazem parte do grupo, est?o pa?ses como Turquia, M?xico e Chile.

De concreto, o Brasil conseguiu obter a declara??o de Trump de que o pa?s ser? designado aliado preferencial extra-Otan, conforme a Reuters havia antecipado, um status que permite ao pa?s tratamento privilegiado na aquisi??o de equipamentos de defesa, tecnologia e treinamentos.

Trump foi al?m e disse ainda que vai ser estudada a proposi??o de incluir o Brasil como membro efetivo da Otan, como foi feito com a Col?mbia no ano passado.

RELA??O CALOROSA

Foram duas horas de conversa. Num primeiro momento houve uma reuni?o privada entre os dois presidentes, com seus respectivos tradutores e o filho Eduardo Bolsonaro --que ? presidente da Comiss?o de Rela??es Exteriores da C?mara dos Deputados e, segundo ele mesmo, foi convidado para ficar pelo pr?prio Trump. Depois ocorreu um almo?o de trabalho com a presen?a de ministros.

Ao final, os dois presidentes fizeram quest?o de mostrar o in?cio de uma rela??o calorosa e de parcerias futuras.

'N?s teremos uma fant?stica rela??o de trabalho. N?s temos v?rios pontos de vista similares e certamente nos aproximamos muito nas quest?es de com?rcio. Eu acredito que a rela??o entre os Estados Unidos e o Brasil, por causa da nossa amizade, est? melhor do que nunca', disse o presidente norte-americano.

'Esse nosso encontro de hoje restaura uma antiga tradi??o de parcerias e ao mesmo tempo inicia um novo cap?tulo de coopera??o entre o Brasil e os Estados Unidos. N?s hoje revisamos e tomamos a decis?o de resolver temas que est?o na nossa pauta h? d?cadas', disse Bolsonaro. 'Est? na hora de derrubar as resist?ncias e explorar o potencial que existe entre Brasil e EUA.'

VENEZUELA

Um dos pontos centrais da conversa entre os dois presidentes foi, como era de se esperar, a quest?o da Venezuela. Trump fez quest?o de reiterar, mais uma vez, que 'todas as op??es est?o sobre a mesa'.

J? o presidente brasileiro foi mais discreto. Afirmou que o Brasil far? todo o poss?vel para que se encontre uma solu??o para o pa?s vizinho, mas que, no momento atual, o que se tem ? a decis?o do Brasil de permitir a entrada de apoio humanit?rio pelo territ?rio brasileiro.

Indagado diretamente sobre a possibilidade de uma participa??o brasileira em uma eventual interven??o militar liderada pelos EUA na Venezuela, Bolsonaro afirmou que este tipo de quest?o estrat?gica, caso tenha sido debatida com Trump, n?o poderia ser discutida em p?blico.

Mais tarde, em entrevista, o presidente reiterou que a posi??o brasileira ? pela diplomacia.

'A certeza ? que n?s queremos resolver a situa??o. N?o nos interessa, nem a n?s, nem a eles, que o pa?s se perpetue na situa??o que se encontra a Venezuela. Diplomacia em primeiro lugar, at? as ?ltimas consequ?ncias. Trump repetiu que todas as hip?teses est?o na mesa, mas o que ele conversou comigo reservadamente n?o posso dizer', disse Bolsonaro.