Campos Neto indica manutenção de política monetária do BC e faz apelo por reformas
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Por Marcela Ayres
BRAS?LIA (Reuters) - Indicado ? presid?ncia do Banco Central pelo presidente Jair Bolsonaro, o economista Roberto Campos Neto sinalizou em sua primeira fala p?blica que deve manter a atual postura do BC na condu??o da pol?tica monet?ria ao pontuar que cautela, serenidade e perseveran?a s?o valores que devem ser preservados.
Em sabatina na Comiss?o de Assuntos Econ?micos (CAE) do Senado, que aprovou seu nome por unanimidade, ele fez enf?tica defesa das reformas e da menor presen?a no Estado na economia. O plen?rio do Senado tamb?m aprovou a indica??o de Campos Neto.
Em outra frente, apontou que o BC deve estar preparado para um sistema financeiro do futuro, marcado por tecnologias como blockchain, intelig?ncia artificial, identidade digital, pagamentos instant?neos e open banking, que est?o, na sua vis?o, 'alterando completamente' os modelos de neg?cios e servi?os financeiros.
Segundo Campos Neto, ? preciso avan?ar em mudan?as que permitam o desenvolvimento do mercado de capitais, democratizando e garantindo o acesso a firmas e investidores, brasileiros e estrangeiros.
Sobre a pol?tica monet?ria, ele avaliou que o trabalho realizado pelo BC desde meados de 2016 foi 'excelente', sendo bem-sucedido ao reduzir a infla??o e balizar as expectativas.
'Esse trabalho s? foi poss?vel, a meu ver, com o refor?o da credibilidade institucional, que se encontrava abalada pelos resultados negativos colhidos em 2015 e em parte de 2016', disse.
'Esse refor?o se baseou na transpar?ncia, na cautela, na serenidade e na perseveran?a da condu??o da pol?tica monet?ria, valores que devem ser preservados e aprimorados no que for poss?vel', completou.
A mensagem de cautela, serenidade e perseveran?a vinha sendo utilizada pela atual gest?o do BC, comandada por Ilan Goldfajn, para sinalizar que s? a lenta atividade econ?mica e a infla??o bem comportada n?o eram suficientes para abrir espa?o para eventual queda da taxa b?sica de juros, estacionada h? quase um ano em 6,5 por cento ao ano.
Como pano de fundo para essa leitura, o BC vinha citando maior peso em seu balan?o de riscos nos fatores que podem pressionar a infla??o para cima: eventual frustra??o sobre a continuidade das reformas econ?micas no Brasil e deteriora??o do cen?rio externo para economias emergentes.
Campos Neto afirmou nesta ter?a-feira que o pa?s precisa avan?ar na estrat?gia dos ajustes e reformas, em particular, mas n?o apenas, na reforma da Previd?ncia, para que possa colocar o balan?o do setor p?blico em trajet?ria sustent?vel.
'A estabilidade fiscal ? fundamental para a redu??o das incertezas, o aumento da confian?a e do investimento, e o consequente crescimento da economia no longo prazo', disse ele, ap?s destacar que 'h? muito trabalho pela frente' para o pa?s alcan?ar a recupera??o plena da economia.
Tamb?m sabatinado pelo Senado, o indicado ? diretoria de Pol?tica Monet?ria do BC, Bruno Serra Fernandes, afirmou que os cen?rios econ?micos brasileiro e mundial encontram-se em momento desafiador.
Sobre o quadro externo, Fernandes ponderou que o processo de revers?o das pol?ticas monet?rias expansionistas nas economias avan?adas tem potencial impacto negativo sobre a liquidez dispon?vel aos emergentes. E lembrou que a desacelera??o econ?mica em outros pa?ses, numa poss?vel refer?ncia ? China, pode impactar o Brasil.
'Alguns dos nossos principais parceiros comerciais v?m apresentando sinais de enfraquecimento em seu crescimento. Esse enfraquecimento pode ainda ser agravado por disputas comerciais vigentes entre algumas dessas economias', disse Fernandes.
'Esse cen?rio de risco apresenta tamb?m potencial redu??o de demanda, e pre?o, de mat?rias-primas comercializadas internacionalmente, por pa?ses emergentes como o Brasil', complementou.
RESERVAS E COMPULS?RIOS
Tanto Fernandes quando Campos Neto apontaram que as reservas internacionais, atualmente na casa de 380 bilh?es de d?lares, funcionam como um seguro para os momentos de crise, servindo para suavizar os impactos de eventual deteriora??o da liquidez internacional sobre a economia brasileira.
O indicado ? presid?ncia do BC, inclusive, lembrou que outros mercados emergentes tiveram uma deprecia??o cambial muito maior que o Brasil, em momentos de volatilidade do mercado, por n?o terem reservas robustas.
Entretanto, Campos Neto se esquivou de responder sobre eventual venda de parte das reservas, limitando-se a apontar que o custo desse seguro atualmente est? mais baixo. Antes de assumir o Minist?rio da Economia, Paulo Guedes chegou a dizer que poderia vender parte das reservas em caso de ataque especulativo, com o d?lar se aproximando de 5 reais.
'Acho que n?o ? o caso aqui discutir se vamos vender, se n?o vamos vender porque eu acho que esse ? um tema que eu preciso, se aprovado nesta Casa, me aprofundar depois no Banco Central', afirmou Campos Neto.
'Mas gostaria de fazer uma coloca??o. Imagina que a reserva seria um seguro, imagina que o pre?o desse seguro era 14 por cento, que era a taxa de juros local, contra zero, que era a taxa de juros americana. Ou seja, era proporcional ? diferen?a de 14 para zero. Hoje a taxa de juros local est? 6,5 e a taxa l? fora est? 2,5. Ent?o o pre?o desse seguro ficou muito mais barato. Ent?o se n?s acharmos que o seguro n?o ? pertinente ? porque a probabilidade do sinistro caiu muito', acrescentou.
J? em rela??o aos compuls?rios, ele disse que h? espa?o para mais mudan?as adiante, mas destacou que o processo n?o ser? imediato e n?o ter? impacto t?o grande para redu??o do spread banc?rio no pa?s.
MEDIDAS
Na sabatina, Campos Neto tamb?m fez men??o aos dois projetos que devem ser analisados pelo Congresso Nacional e que s?o de interesse direto da autoridade monet?ria: a fixa??o de crit?rios para o exerc?cio de cargo de dirigente em institui??es financeiras p?blicas e a lei de autonomia do BC.
'A mudan?a (para autonomia formal), se aprovada por esse parlamento, trar? ganhos para a credibilidade da institui??o e para a pot?ncia da pol?tica monet?ria, reduzindo o tradeoff de curto prazo entre infla??o e atividade econ?mica e contribuindo para a queda das taxas de juros e o crescimento econ?mico', afirmou.
Campos Neto disse ainda ver os programas de microcr?dito e o est?mulo ao cooperativismo como instrumentos interessantes para o Brasil avan?ar na educa??o financeira.
Ele tamb?m chamou a aten??o para a necessidade de aumentar a transpar?ncia no setor financeiro, com instrumentos para provis?o de informa??o e que deem maior visibilidade ?s op??es ? disposi??o de poupadores e investidores.
Em sua fala, Campos Neto se definiu como um liberal e disse estar 'perfeitamente alinhado' ? perspectiva do novo governo de aprofundar mudan?as em dire??o ? amplia??o de espa?os para a atividade privada em v?rios aspectos, e em especial no ?mbito econ?mico.
Em compasso de espera pela aprova??o ? presid?ncia do BC, Campos Neto foi nomeado em 10 de janeiro como assessor de Guedes, num movimento que denota a forte proximidade entre ambos.
Neto do renomado economista liberal Roberto de Oliveira Campos, que foi ministro do Planejamento nos primeiros anos do regime militar, Campos Neto era diretor de tesouraria do Santander Brasil e participou de reuni?es de transi??o de governo antes mesmo de ser confirmado por Guedes como indicado ao posto de presidente do BC.
A CAE tamb?m aprovou por unanimidade o nome de Fernandes, que mais tarde teve o nome avalizado pelo Senado, e do indicado ? diretoria de Organiza??o do Sistema Financeiro do BC, Jo?o Manoel Pinho de Mello.
(Com reportagem adicional de Jamie McGeever e Maria Carolina Marcello)
Escrito por Redação
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