Cariocas surfam na polêmica do isolamento durante pandemia do coronavírus
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Por Gram Slattery e S?rgio Queiroz
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Apesar das medidas de isolamento social, que visam proteger as pessoas do novo coronav?rus, as praias do Rio de Janeiro t?m ficado cheias de surfistas de olho no primeiro grande swell do ano.
A busca pela onda perfeita levou surfistas como Guilherme Faria a se envolver um amplo debate p?blico sobre os limites legais dos esportes ao ar livre -- em seu caso, uma quest?o que em breve ser? decidida por um juiz.
O surfista, de 22 anos, disse que estava na praia de Copacabana no domingo quando um policial com um apito o tirou da ?gua e levou ? delegacia.
'Infelizmente, surfar agora ? crime', disse Faria, que recebeu uma intima??o --vista pela Reuters-- depois de ser autuado. 'Eu n?o queria ser prejudicado futuramente por causa de uma bobeira dessa.'
Algumas horas depois, mesmo sob amea?a de multa, Faria e sua prancha estavam de volta ?s ondas de Copacabana.
Como milhares dos moradores esportistas do Rio, Faria n?o conseguiu resistir aos atrativos do mundo exterior.
O cal?ad?o na orla da cidade est? repleto de corredores, e grupos de ciclistas continuam pedalando pelas ladeiras da cidade.
No dia 17 de mar?o, autoridades municipais e estaduais determinaram que as pessoas devem ficar em casa, interditando praias e parques enquanto a pandemia do coronav?rus se alastra pela cidade.
O Rio de Janeiro ? o segundo Estado mais infectado pela doen?a no Brasil, de acordo com o Minist?rio da Sa?de, que relatou 12.056 casos confirmados de coronav?rus em todo o pa?s at? o dia 6 de abril.
Alguns atletas obedecem, citando o perigo de se disseminar a doen?a a caminho das praias. Muitos argumentam que ferimentos ligados ?s pr?ticas esportivas poderiam desviar recursos m?dicos do combate ao coronav?rus, e o debate tamb?m envolveu outros esportes.
'Existem opini?es diferentes entre associa??es esportivas diferentes. Novas diretrizes saem toda semana', disse Ana Carolina Corte, m?dica do Comit? Ol?mpico do Brasil. Ela acrescentou que alguns esportes ainda podem ser praticados sem aglomera??o.
At? decretos legais t?m sido questionados.
O governador do Estado do Rio, Wilson Witzel (PSC), proibiu que se fique nas praias, como alguns poderiam descrever um surfista na ?gua, mas n?o pro?be que um skatista passe pelo cal?ad?o.
Mas alguns surfistas t?m dito que s? atravessam a areia para entrar no mar, ou at? que entram na ?gua pelas pedras.
Muitos atletas, por?m, admitem que seus treinos s?o menores diante do desafio que o pa?s enfrenta. Governadores, incluindo Witzel, v?m alertando que os sistemas de sa?de podem entrar em colapso em breve.
Bruno Bocayuva, um jornalista e surfista do Rio, abandonou as praias semanas atr?s para pular corda, fazer flex?es e se manter em forma dentro de casa como poss?vel.
'Estou sentindo muita falta dessa sensa??o de estar dentro da ?gua, de remar, furar a onda, de se conectar com a natureza. ? o surfe que proporciona essa intera??o t?o ?ntima. Mas eu sei que o momento ? de pensar no coletivo', disse.
'Eu seguro essa onda, metaforicamente falando, para surfar de fato no futuro pr?ximo.'
DEBATE ACIRRADO
Talvez devido ? sua grande visibilidade, ou ? sua postura antiestablishment, o surfe emergiu como um alvo preferencial da revolta contra aqueles que desrespeitam as medidas de isolamento em toda a Am?rica Latina.
Na Costa Rica, um v?deo publicado em uma rede social na semana passada mostrou um policial aparentemente disparando uma arma na dire??o de Rafael Villavicencio, um estudante de Direito de 28 anos, quando ele sa?a da ?gua.
A Reuters n?o conseguiu verificar a autenticidade do v?deo. O chefe da pol?cia da Costa Rica disse que a corpora??o iniciou uma investiga??o do incidente.
'Embora seja verdade que os surfistas n?o estavam seguindo as ordens, n?o significa que um agente deveria agir desta maneira', disse o advogado de Villavicencio, Rafael Brenes.
A m?dia da Argentina criticou duramente um surfista por entrar no pa?s vindo do Brasil com pranchas no teto do carro. Mais tarde ele violou uma quarentena obrigat?ria, de acordo com a pol?cia.
O presidente argentino, Alberto Fern?ndez, o chamou de 'idiota' em rede nacional de televis?o.
As autoridades do Peru tamb?m causaram surpresa ao apanharem dois surfistas em uma opera??o amplamente divulgada envolvendo um helic?ptero da pol?cia.
No Brasil, na??o amante do surfe em que as praias urbanas costumam ficar cheias antes e depois do hor?rio de trabalho, o debate tomou um rumo agressivo e at? pol?tico.
O presidente Jair Bolsonaro repreendeu Witzel por fechar as praias, classificando a medida de 'ditatorial'.
Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), defendeu em uma publica??o no Facebook na semana passada que seja emitido um decreto autorizando o surfe dentro das regras de distanciamento social.
Com ou sem decreto, muitos surfistas est?o simplesmente fazendo o que podem para pegar onda sem chamar aten??o.
'Eu venho cedo para evitar essa pol?mica toda do isolamento', disse o surfista veterano Ricardo Boc?o ao deixar a ?gua na praia de Ipanema, no domingo.
'Da mesma forma que as pessoas correm, escalam, andam de bicicleta, algu?m pode pegar a prancha, sair de casa, ir direto para a ?gua, remar e ir para casa'.
(Reportagem adicional de Sergio Moraes no Rio de Janeiro e Alvaro Murillo em San Jos?)
Escrito por Reuters
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