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Coronavírus avança no Brasil e lockdown pode ser inevitável em cidades com situação crítica

Placeholder - loading - Hospital de campanha para vítima de Covid-19 em Santo André, São Paulo 06/05/2020 REUTERS/Amanda Perobelli
Hospital de campanha para vítima de Covid-19 em Santo André, São Paulo 06/05/2020 REUTERS/Amanda Perobelli

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Por Pedro Fonseca

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os sinais contradit?rios de autoridades sobre isolamento social contribu?ram para o Brasil perder os avan?os iniciais conseguidos no combate ? pandemia de Covid-19, uma vez que a popula??o pode ter subestimado a gravidade do problema, e agora o pa?s caminha para um lockdown inevit?vel em locais mais afetados pela doen?a.

A avalia??o ? do pesquisador em sa?de p?blica da Funda??o Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marcelo Gomes, coordenador do sistema InfoGripe, ferramenta que acompanha os casos de s?ndromes respirat?rias agudas no pa?s, incluindo a Covid-19, e aponta para uma retomada da acelera??o da epidemia ap?s algumas semanas de relativo controle.

Com o presidente Jair Bolsonaro insistindo na reabertura e reclamando das medidas de isolamento estabelecidas por governadores --como voltou a fazer nesta quinta-feira em reuni?o no Supremo Tribunal Federal (STF) acompanhado de empres?rios-- e alguns Estados antecipando an?ncios de reabertura ante a press?o econ?mica e o desemprego, a popula??o se sentiu encorajada a ir ?s ruas. A conta chegou em forma de avan?o da epidemia.

'A gente tem notado que tem tido uma diminui??o da ades?o da popula??o ao isolamento, e quando a gente avalia o n?mero de registros est? tendo uma retomada do crescimento acelerado. ? bastante prov?vel que as duas coisas estejam associadas', disse Gomes em entrevista ? Reuters por telefone.

Com o avan?o recente da Covid-19 no pa?s, que contabilizou na quarta-feira mais de 125 mil casos confirmados, com recorde di?rio de mais de 10,5 mil, a ?nica ferramenta dispon?vel para evitar uma acelera??o ainda maior nos locais mais atingidos ? o chamado lockdown (confinamento radical), quando todas as atividades de uma localidade s?o fechadas, com exce??o dos servi?os essenciais, segundo o pesquisador.

'? a ferramenta que a gente tem, infelizmente. Com lockdown a gente ganha tempo, consegue reduzir a velocidade de avan?o para a prepara??o de hospitais de apoio, compra de equipamentos e disponibiliza??o de profissionais', acrescentou.

Nesta semana, o Estado do Maranh?o decretou o primeiro lockdown do pa?s para a regi?o da capital S?o Lu?s, ap?s uma determina??o judicial que foi comemorada pelo governo, sendo seguido pelos governos do Cear? e do Par?, que tamb?m impuseram confinamento em determinadas regi?es.

Um estudo da Fiocruz enviado ao Minist?rio P?blico do Estado do Rio de Janeiro recomendou a ado??o de medida semelhante na regi?o metropolitana do Rio de Janeiro, e outros Estados e cidades estudam seguir o mesmo caminho, como o munic?pio de Niter?i, na Grande Rio.

'A??O EXTREMA'

Apesar das insistentes declara??es de Bolsonaro contra as medidas de isolamento social, que s?o defendidas pela Organiza??o Mundial da Sa?de (OMS) para enfrentar a Covid-19, at? mesmo o ministro da Sa?de, Nelson Teich, reconheceu que lockdowns ser?o necess?rios.

?O lockdown vai ser importante nos lugares onde estiver muito dif?cil, com alta incid?ncia, alta ocupa??o de leitos, muitos pacientes chegando, infraestrutura que n?o conseguiu se adaptar. A? voc? vai ter uma situa??o que realmente vai ter que proteger as pessoas?, disse o ministro em entrevista coletiva na quarta-feira, na primeira men??o feita por ele ao confinamento radical.

Gomes, da Fiocruz, disse que 'informa??es desencontradas' das autoridades podem ter gerado uma dificuldade de interpreta??o por parte da popula??o sobre a gravidade da situa??o, contribuindo para uma queda da ades?o ao isolamento e consequente aumento de casos, levando agora ? necessidade de medidas mais r?gidas.

'N?o ? algo que a gente fa?a com tranquilidade. ? bastante doloroso chegar ao ponto de ter que tomar essa decis?o. ? uma a??o extrema, mas, infelizmente, ? uma a??o necess?ria para agir na situa??o que a gente se encontra hoje', afirmou.

'Se a gente tivesse conseguido manter ades?o mais alta e constante do isolamento talvez hoje n?o precisasse dessa medida, mas infelizmente n?o foi esse o caminho que foi seguido', acrescentou.

Diante da postura contra o isolamento de Bolsonaro, e com a press?o devido ? paralisa??o da economia, governadores anteciparam as discuss?es sobre a reabertura mesmo antes da chegada do pico hist?rico de casos de s?ndromes respirat?rias, que ocorre nos meses de maio e junho.

Em S?o Paulo, o governador Jo?o Doria anunciou em 22 de abril uma reabertura gradual e regionalizada a partir de 10 de maio, mas j? anunciou que a medida n?o ser? poss?vel na regi?o metropolitana devido ? baixa ades?o da popula??o ao isolamento.

O Estado de Santa Catarina, que decidiu pela reabertura ainda no m?s passado, registrou um salto no n?mero de casos ap?s a volta das pessoas ?s ruas, incluindo shoppings e academias.

Dados do InfoGripe apontam que todas as Regi?es do pa?s seguem na zona de risco e com atividade semanal muito alta para s?ndromes respirat?rias graves, com predomin?ncia de 82,7% do novo coronav?rus entre os casos que j? tiveram um resultado laboratorial positivo.

Desde o final de fevereiro, quando foi registrado o primeiro caso de Covid-19 no pa?s, o pa?s soma 69.359 interna??es por SRAG neste ano at? 25 de abril, em compara??o com 11.284 no mesmo per?odo no ano passado.

'A gente come?ou bem, relativamente cedo a discutir isolamento, antes mesmo da confirma??o de circula??o comunit?ria, mas nossa estrat?gia de comunica??o, como cientista me incluo, a gente talvez n?o tenha conseguido se comunicar com a popula??o da melhor maneira poss?vel para mostrar que era um problema muito s?rio, como continua sendo', afirmou.

Escrito por Reuters

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