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Depois de varíola e malária, indígenas temem avanço do coronavírus no Brasil

Placeholder - loading - Indígena toma banho no rio Xingu, no Mato Grosso 16/01/2020 REUTERS/Ricardo Moraes
Indígena toma banho no rio Xingu, no Mato Grosso 16/01/2020 REUTERS/Ricardo Moraes

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Por Anthony Boadle

BRAS?LIA (Reuters) - Quando os europeus chegaram ? floresta amaz?nica, a var?ola que trouxeram consigo dizimou povos locais. Depois, os seringueiros, garimpeiros e madeireiros levaram mal?ria, sarampo e gripe.

Agora, muitos dos 850 mil ind?genas brasileiros, temerosos diante da pandemia de coronav?rus, pedem que as autoridades expulsem de suas terras os invasores que poderiam levar a doen?a.

'Pedimos a retirada imediata de todos os invasores das terras ind?genas e dos territ?rios para impedir o avan?o da v?rus: os garimpeiros, madeireiros, ca?adores, narcotraficantes, grileiros, mission?rios e turistas que s?o vetores de transmiss?o', disse Nara Bar?, presidente da Coordena??o das Organiza??es Ind?genas da Amaz?nia Brasileira (Coiab).

Na extremidade do Rio Negro, na fronteira com a Col?mbia e a Venezuela, comunidades ind?genas fecharam pistas de pouso e cortaram o acesso ?s suas reservas para todas as pessoas n?o nativas que chegam de barco de Manaus.

Especialistas em sa?de e grupos ind?genas est?o pedindo especialmente a expuls?o de cerca de 20 mil garimpeiros ilegais da reserva ianom?mi, a maior do pa?s e localizada na divisa com a Venezuela, onde comunidades v?m sendo vitimadas pela mal?ria levada pelos invasores.

A nova amea?a viral coincide com o momento em que o presidente Jair Bolsonaro promete desenvolver economicamente a Amaz?nia e rever as reservas onde vivem mais de 300 povos.

Reagindo a apelos de l?deres ind?genas, grupos de direitos humanos e procuradores federais, a Funda??o Nacional do ?ndio (Funai) suspendeu na segunda-feira todos os contatos com as comunidades mais isoladas do Brasil.

At? agora, a Secretaria Especial de Sa?de Ind?gena (Sesai) s? relatou quatro casos suspeitos de coronav?rus em aldeias, uma delas na Amaz?nia.

Mas muitos povos est?o receosos, lembrando de epidemias que assolaram popula??es nativas no passado recente. O sarampo matou milhares de ind?genas brasileiros no s?culo passado, e a gripe fez muitos estragos quando o regime militar decidiu abrir estradas na floresta amaz?nica nos anos 1970.

O acesso ao atendimento m?dico continua sendo um desafio para povos remotos da Amaz?nia, que muitas vezes precisam viajar dias atrav?s do rio para ver um m?dico.

O estilo de vida comunit?ria em ocas de palha nas aldeias tamb?m aumenta o risco de cont?gio se um ?nico membro contrair o novo coronav?rus.

'Fazer isolamento nas aldeias ? um desafio muito grande. Elas t?m uma vida comunit?ria em casas grandes que s?o habitadas por muitas pessoas', afirmo Douglas Rodrigues, um m?dico com 30 anos de experi?ncia em sa?de ind?gena no Xingu e outras terras.

'Seus h?bitos s?o diferentes. Comem com as m?os, compartilham muitos objetos: formas de transmiss?o que t?m papel significativo na propaga??o do v?rus nesta pandemia', acrescentou Rodrigues.

Os povos ind?genas nem sempre t?m o sab?o necess?rio para lavar as m?os e combater o v?rus, disse ele.

A epidemia de H1N1 em 2016 matou centenas de ?ndios, na maioria do povo Guarani, na regi?o sul do pa?s.

Especialistas da sa?de temem que o novo coronav?rus se prolifere ainda mais r?pido entre comunidades cujos sistemas imunol?gicos j? est?o enfraquecidos por subnutri??o, hepatite B, tuberculose e diabetes.

Embora o acesso a servi?os m?dicos seja mais f?cil no sul do Brasil, membros de comunidades ind?genas est?o mais expostos ao v?rus na regi?o, j? que s?o integrados ? sociedade, trabalhando no setor de constru??o civil ou como empregados dom?sticos para se sustentar, pois n?o podem mais plantar seus alimentos ou ca?ar pr?ximo a centros urbanos.

Um perigo potencial ? a transmiss?o do v?rus pelos ind?genas que retornam ?s aldeias na Amaz?nia para se refugiar, sem saber se est?o infectados ou n?o, segundo Andrey Moreira, m?dico e especialista em sa?de p?blica da Funda??o Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Nara, da etnia Bar? no Alto Rio Negro, disse que a Sesai tem profissionais bem intencionados, mas faltam recursos, e n?o h? como realizar testes para a Covid-19. Segundo ela, os planos nacionais para combater o v?rus n?o mencionam os povos ind?genas.

'N?o vejo nenhum tipo de preparo. ? como se n?o exist?ssemos, e n?s sempre estivemos aqui.'

Escrito por Reuters

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