Desmatamento acelera em 5 meses de governo Bolsonaro e atinge maior velocidade em uma década

Por Anthony Boadle e Lisandra Paraguassu

BRAS?LIA (Reuters) - Dados preliminares do Deter, o sistema de sat?lites que monitoram o desmatamento no pa?s, mostram que o desflorestamento na Amaz?nia acelerou neste m?s de maio, atingindo a maior velocidade em uma d?cada, o que pode significar um aumento na atividade de madeireiros ilegais na regi?o, encorajados pela decis?o do governo do presidente Jair Bolsonaro de afrouxar as medidas de prote??o ambiental brasileiras.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Deter detectou o desmatamento de 739 quil?metros quadrados em maio, m?s em que a a??o dos desmatadores sempre cresce por ser o primeiro ao fim da esta??o de chuvas na regi?o.

No ano passado, o desmatamento j? tinha alcan?ado 550 quil?metros quadrados, e os dados deste ano s?o duas vezes maiores do que em 2017.

?O desmatamento est? esquentando e se se mantiver essa curva ascendente vai ser um ano ruim?, disse Cl?udio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amaz?nia e demais biomas do Inpe. ?Vai depender de quanta fiscaliza??o vai ter nos pr?ximos dois meses cr?ticos.'

E essa ? a principal quest?o, de acordo com os ambientalistas, depois de cinco meses de um governo que praticamente desmanchou institui??es de prote??o ao meio ambiente constru?das ao longo de d?cadas, descartou preocupa??es sobre mudan?as clim?ticas da sua agenda e mostra pouco interesse em aplicar as leis ambientais.

Desde o in?cio do governo, mudan?as tem sido feitas para retirar poder dos ?rg?os p?blicos que controlam as quest?es ambientais. O Ibama, que j? vinha sofrendo com a falta de recursos nos ?ltimos anos, perdeu poder e o Servi?o Florestal Brasileiro, que tem como principal atribui??o hoje o Cadastro Ambiental Rural (CAR), um registro eletr?nico obrigat?rio para os propriet?rios de im?veis rurais e a gest?o de reservas naturais, saiu do Minist?rio do Meio Ambiente para o Minist?rio da Agricultura.

M?rcio Astrini, coordenador de pol?ticas p?blicas do Greenpeace Brasil, diz que o atual governo ? ?anti-meio-ambiente?, ainda n?o apresentou um plano para evitar o desmatamento e quer, na verdade, reduzir as ?reas protegidas.

'Nunca ouvi o presidente ou o ministro de meio ambiente criticar criminoso ambiental', disse Astrini. 'At? hoje o governo n?o apresentou nenhum plano de combate ao desmatamento.'

'Com Bolsonaro, quem destr?i as florestas n?o ? incomodado. J? quem as protege, est? sendo amea?ado.'

'VAMOS AGREGAR'

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, um c?tico em rela??o ao aquecimento global, irritou Noruega e Alemanha, que basicamente financiam sozinhos o bilion?rio Fundo Amaz?nia de conserva??o da floresta, ao sugerir que os recursos sejam usados para compensar fazendeiros que tenham suas terras expropriadas em ?reas protegidas.

O ministro, ex-secret?rio do Meio Ambiente em S?o Paulo, ? apontado por ambientalistas como o principal operador do desmonte das leis ambientais no pa?s.

Em entrevista ? Reuters, Salles afirmou que o governo mant?m seu compromisso em defesa das florestas.

?N?s n?o vamos tirar nada, vamos agregar?, afirmou, negando que esteja planejando trocar o monitoramento do desmatamento feito pelo Inpe por empresas privadas. Recentemente, ao ter conhecimento dos n?meros que apontam o crescimento do desmatamento, Salles chegou a dizer que os n?meros teriam sido manipulados.

?Ao Inpe vai se somar a parceria do Ibama com o Map Biomas e tamb?m com a Embrapa Territorial. E tudo isso se complementa com as imagens de alta resolu??o em tempo real para fins de fiscaliza??o. Vamos abrir uma licita??o para contratar essas imagens para orientar a fiscaliza??o?, afirmou. ?Queremos um sistema que possa ter imagens em tempo real para orientar melhor as a??es de fiscaliza??o para que elas possam ser mais efetivas.?

Salles nega ainda que tenha cr?ticas ao Inpe. Mas defende que para que as fiscaliza??es sejam mais precisas ? necess?rio informa??es mais r?pidas. Ele lembra que o Deter s? consegue ter imagens a cada 20 dias e o Map Biomas, que ser? lan?ado na pr?xima sexta, a cada 10 dias.

Os dados preliminares do Deter que mostram o aumento do desmatamento precisam ser confirmados ao final deste ano pelos dados do Prodes, mais acurados. Mas os ambientalistas temem o pior.

Imagens de sat?lite dos 12 meses anteriores a julho de 2018 mostram que 7.900 quil?metros quadrados de floresta amaz?nica foram desmatados, o equivalente a mais da metade do territ?rio da Jamaica.

Ainda assim, o desmatamento se mant?m bem abaixo dos n?meros do in?cio da d?cada de 2000, antes do Brasil investir em uma estrat?gia duradoura de combate ao desmatamento. Em 2004 apenas, mais de 27 mil quil?metros quadrados foram devastados. Em 2012, o pa?s teve o menor ?ndice de desmatamento, 4.656 quil?metros quadrados entre agosto de 2011 e julho de 2012. A partir da?, os n?meros voltaram a crescer.