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Desmatamento em áreas indígenas em 2019 é o maior em 11 anos, mostra estudo

Placeholder - loading - Vista aérea de madeira extraída ilegalmente da floresta amazôniza em Humaitá, no Estado do Amazonas 22/08/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Vista aérea de madeira extraída ilegalmente da floresta amazôniza em Humaitá, no Estado do Amazonas 22/08/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino

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Por Lisandra Paraguassu

BRAS?LIA (Reuters) - O desmatamento em ?reas ind?genas na Amaz?nia cresceu quase tr?s vezes mais do que na regi?o como um todo entre agosto de 2018 e julho de 2019, com 42,6 mil hectares desmatados, maior n?mero desde o bi?nio 2007-08, quando os levantamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) passou a permitir a an?lise das ?reas de reserva.

Os dados est?o em um estudo preparado pela organiza??o n?o-governamental Instituto S?cioambiental (ISA) com base nos dados do Prodes, sistema do Inpe que monitora por sat?lite o desmatamento da Amaz?nia. Em 2019, o Prodes mostrou que o desmatamento geral na Amaz?nia no mesmo per?odo foi de 9.762 quil?metros quadrados --ou 976,2 mil hectares.

O desmatamento nas ?reas ind?genas representa apenas 4,2% do total da perda de floresta na Amaz?nia, mas o levantamento mostra um aumento acentuado no ?ltimo ano, vindo j? de um crescimento consider?vel entre 2017 e 2018.

Os dados do Prodes permitem a an?lise do desmatamento em ?reas protegidas --reservas ind?genas e unidades de conserva??o-- apenas desde 2008. Os dados deste ano s?o os maiores desse per?odo.

O desmatamento em ?reas ind?genas vinha caindo consistentemente desde 2008, quando ficou pouco acima de 30 mil hectares. Em 2014, ponto mais baixo dos ?ltimos 11 anos, ficou pouco acima de 5 mil hectares, mas subiu nos anos seguintes. Em 2017 chegou a 11 mil, mas pulou para quase 25 mil hectares em 2018. Este ano, alcan?ou o maior valor da s?rie hist?rica, uma alta de 174% em rela??o ? m?dia entre 2008 e 2018.

'O desmatamento tem crescido ano a ano. Tem uma tend?ncia de retomada. O que a gente percebeu este ano ? que se eu usasse a linha de tend?ncia de 2012 a 2018, o crescimento de 2019 seria menor que foi. O patamar de 2019 foi muito maior que essa tend?ncia. Tem alguma outra vari?vel que est? pressionando', disse Antonio Oviedo, pesquisador do ISA respons?vel pelo estudo.

De acordo com o estudo, a grilagem de terras, o garimpo ilegal e o roubo de madeira praticados por invasores seguem como os principais vetores do desmatamento nessas ?reas, al?m da abertura de novas ?reas para obras de infraestrutura.

Apesar do desmatamento crescente, as reservas ind?genas, assim como as unidades de conserva??o, ainda conseguem manter a maior parte da sua cobertura vegetal intacta.

O ISA analisou 207 de 424 reservas na Amaz?nia. Nessas, apenas 1,3% dos 78 milh?es de hectares foi desmatado e a grande maioria das reservas perdeu menos de 10% das suas florestas nativas. No entanto, 20% j? perderam quase metade de sua cobertura florestal e 5% praticamente n?o a possuem mais.

De acordo com Oviedo, 15 ?reas s?o respons?veis por 90% do desmatamento em terras ind?genas. S?o poucas reservas, mas que est?o localizadas em ?reas de muito amea?as, pr?ximas a assentamentos, estradas, ?reas de conflitos de terra ou de interesse para garimpo, por exemplo.

'As terras ind?genas s?o barreiras potentes contra desmatamento. Onde tem popula??o tradicional tem floresta. Essas que sofrem t?m uma localiza??o em ?reas muito pressionadas e a gente v? esse resultado', explica.

Das 10 ?reas identificadas como maiores alvos de desmatamento este ano, as seis primeiras ficam no Par?, outras duas em Rond?nia, uma em Mato Grosso e a 10?, em Roraima.

Na ?rea de Ituna/Itat?, ao sul de Altamira (PA), o desmatamento chegou a 12 mil hectares entre 2018 e 2019, mais de 600% a mais do que no per?odo anterior. Este ano, fiscais do Ibama encontraram uma pista de pouso de mais de dois quil?metros de extens?o, al?m de constru??es e ?rvores j? serradas prontas para serem transportadas.

A segunda reserva com maiores problemas de desmatamento, Apyterewa, em S?o F?lix do Xingu (PA), teve um crescimento de 333% no desmatamento. No in?cio deste ano, o governo federal chegou a enviar homens da For?a Nacional de Seguran?a para retirar invasores da terra ind?gena.

Na semana passada, mais um l?der ind?gena da etnia Guajajara, conhecida por proteger a floresta de invasores, foi assassinado no Maranh?o. Este ano, sete l?deres ind?genas foram mortos. Segundo a Comiss?o Pastoral da Terra, o maior n?mero em 11 anos.

Ambientalistas criticam o governo do presidente Jair Bolsonaro e apontam o discurso adotado por ele de defesa de uma maior explora??o econ?mica da Amaz?nia como um dos respons?veis pela alta do desmatamento da floresta.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tamb?m ? alvo de cr?ticas pelo que organiza??es n?o-governamentais e tamb?m representantes da Organiza??o das Na??es Unidas (ONU) classificam de desmonte de mecanismos de fiscaliza??o na ?rea ambiental.

'O que a gente ouve dos nossos parceiros que est?o no campo ? que esse discurso, que antes era uma narrativa, come?a a se refletir no campo, em viol?ncia, assassinatos. Essas pessoas come?am a ficar mais empoderadas. Se o presidente pode falar mal de quilombolas, de assentados, eu tenho o respaldo do presidente', analisa Oviedo.

Escrito por Reuters

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