Discurso agressivo de Bolsonaro na ONU não altera posição difícil do Brasil no exterior
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Por Lisandra Paraguassu
BRAS?LIA (Reuters) - Enquanto o n?cleo mais pr?ximo ao presidente Jair Bolsonaro comemorava seu desempenho na ONU, a avalia??o mais geral --e mesmo em alguns setores do governo-- foi de que, na melhor das hip?teses, o tom agressivo do discurso vai deixar inalterada a atual imagem do governo brasileiro no exterior.
Diplomatas ouvidos pela Reuters em condi??o de anonimato contam que a expectativa era de que o discurso terminasse no empate para o Brasil, sem piorar a j? dif?cil situa??o do pa?s, amea?ado de boicotes e criticado por governos e entidades especialmente pelo desmatamento e queimadas na Amaz?nia.
Mas depois dos 31 minutos de fala de Bolsonaro, as opini?es se dividiram.
'Acredito que foi in?cuo. Ele basicamente levou para a ONU falas que j? havia feito', disse uma das fontes ouvidas pela Reuters.
Um outro experiente diplomata tamb?m acredita que nada deve mudar no front externo para o pa?s depois de Bolsonaro abrir a sess?o de debates da Assembleia Geral das Na??es Unidas nesta ter?a-feira, como cabe todos os anos ao presidente do Brasil.
'? um discurso coerente com sua vis?o do Brasil e do mundo. A verdade ? que nada se acrescentou ao status quo', afirmou, lembrando que n?o existe uma plano de pol?tica externa brasileira al?m de algumas inten??es. 'E est?o faltando bons modos', completou.
Outra fonte com experi?ncia em quest?es internacionais classificou o discurso como um resumo de posi??es panflet?rias da chamada 'alt right', que alguns se referem apenas como uma nova extrema-direita, mas que n?o trouxe nem mesmo uma linha do que deveria ser a pol?tica externa brasileira nos pr?ximos anos.
Uma fonte da equipe econ?mica foi mais generosa na avalia??o da fala do presidente e disse que o discurso sedimentou a mensagem de um l?der liberal-democrata conservador em quest?es de costumes. Temas caros ao time do ministro da Economia, Paulo Guedes, foram mencionados como a identidade entre liberdade pol?tica e econ?mica, al?m de privatiza??es, redu??o do tamanho do Estado e abertura econ?mica, o que agradou a equipe.
A fonte avaliou, em condi??o de anonimato, que o discurso tamb?m trouxe uma mensagem de desenvolvimento sustent?vel para a Amaz?nia e uma postura de toler?ncia zero que se estende a crimes ambientes, marcando posi??o em rela??o ? saraivada de cr?ticas direcionadas ao pa?s por conta das queimadas na regi?o.
Para essa fonte, as palavras do presidente marcaram tamb?m a abrang?ncia da pol?tica externa e objetivos comerciais do Brasil ao relacionar viagens que ser?o feitas para o Extremo Oriente --China e Jap?o-- e para pa?ses ?rabes no Oriente M?dio.
CONTRADI??ES
No entanto, para outras fontes ouvidas pela Reuters faltou justamente uma linha clara para a pol?tica externa brasileira, que de praxe ? apresentada ao mundo pelo presidente brasileiro em seu primeiro discurso na ONU.
Essa omiss?o, a n?o admiss?o dos problemas na Amaz?nia e um discreto desprezo aos pa?ses europeus --citados em ?ltimo lugar entre aqueles que o presidente gostaria de visitar para melhorar a rela??o--, al?m dos ataques ? m?dia nacional e internacional - s?o apontados por fontes como os pontos que devem ficar marcados do discurso de Bolsonaro na ONU.
'Ganharam for?a todos aqueles que, mundo afora, defendem san??es e puni??o econ?mica como ?nica forma de reverter a pol?tica ambiental do governo do Brasil. Baita desservi?o aos interesses do pa?s', analisou o professor de Rela??es Internacionais da Funda??o Getulio Vargas Matias Spektor.
Organiza??es n?o governamentais, citadas mais uma vez como inimigas pelo presidente, reagiram tamb?m com cr?ticas ao discurso. O Observat?rio do Clima afirmou, em nota, que Bolsonaro apostou 'no divisionismo, no nacionalismo e no ecoc?dio'.
'O presidente mais uma vez envergonhou o Brasil no exterior ao abdicar a tradicional lideran?a do pa?s na ?rea ambiental em nome de sua ideologia. N?o fez nada para tranquilizar investidores, nem para aplacar o clamor crescente por boicote a produtos brasileiros. P?e em risco o pr?prio agroneg?cio que diz defender.'
Em nota, o Greenpeace afirmou que Bolsonaro ? um problema, e n?o a solu??o.
'A fala do presidente sobre meio ambiente foi uma farsa. Bolsonaro tentou convencer o mundo que protege a Amaz?nia, quando, na verdade, promove o desmonte da ?rea socioambiental, negocia terras ind?genas com mineradoras estrangeiras e enfraquece o combate ao crime florestal' diz o texto.
A presidente da Anistia Internacional, Jussara Werneck, afirmou, tamb?m em nota, que o presidente perdeu a oportunidade de enviar uma 'mensagem sincera', e reconhecer seus erros.
'Apesar de o presidente, em seu discurso, ter reafirmado o compromisso com os mais altos padr?es de direitos humanos, ele, contraditoriamente, ataca parte da sociedade civil, inclusive ONGs, imprensa e lideran?as ind?genas', criticou Werneck.
'Sabemos que o Brasil ? um ambiente perigoso para defensores e defensoras dos direitos humanos e acreditamos que o trabalho da imprensa ? fundamental para a promo??o e garantia dos direitos humanos, fiscalizando e denunciando suas viola??es.'
'CORAJOSO E VERDADEIRO'
Dentro do n?cleo mais pr?ximo de Bolsonaro, no entanto, o discurso foi comemorado como 'soberano', 'altivo' e 'de estadista'.
'Presidente Jair Bolsonaro fez discurso altivo, corajoso, verdadeiro e soberano', escreveu o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, em suas redes sociais.
O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Ramos, afirmou que o discurso do presidente mostrava 'uma nova postura, baseada nos valores mais sagrados da nossa cultura judaica-crist?'.
Em discurso no Rio de Janeiro em um evento no Clube Militar, o vice-presidente Hamilton Mour?o tamb?m saiu em defesa do presidente.
'O presidente foi incisivo, expl?cito, direto e soberano perante a Assembl?ia Geral da ONU. A Amaz?nia n?o ? o pulm?o do mundo, n?o ? patrim?nio da humanidade, a Amaz?nia ? patrim?nio nosso e ? brasileira. Compete a n?s preserv?-la e proteg?-la', disse Mour?o.
(Reportagem adicional de Marcela Ayres)
Escrito por Redação
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