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'É angustiante, você não consegue atender todo mundo', diz médica em meio a explosão de Covid-19 em Manaus

Placeholder - loading - Médica Alessandra Said, do Samu, durante plantão em Manaus 12/05/2020 REUTERS/Bruno Kelly
Médica Alessandra Said, do Samu, durante plantão em Manaus 12/05/2020 REUTERS/Bruno Kelly

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Por Bruno Kelly

MANAUS (Reuters) - Revolta e ang?stia s?o os sentimentos que afloram na m?dica Alessandra Said diante de uma pandemia que avan?a rapidamente e faz cada vez mais v?timas, que ela vem tentando salvar na cidade de Manaus, uma das mais afetadas pela Covid-19 no pa?s.

Com mais de 10 anos como m?dica do Servi?o de Atendimento M?vel de Urg?ncia (Samu), Said afirma que o servi?o de urg?ncia sempre a fez sentir-se ?til, mas que atualmente tem a sensa??o de querer fazer mais, sem poder.

'Eu costumo dizer que eu trabalho no Samu, porque eu gosto da resolutividade. A gente v? a melhora do paciente', conta. 'Na pandemia, com a Covid, a gente n?o tem essa expectativa... a gente entrega o paciente (ao hospital) sem ter uma resolutividade maior. Ele vai passar muito tempo internado e muitos deles v?m a ?bito. Isso ? o que mais machuca.'

A m?dica enfrenta o turbilh?o da pandemia na cidade que se tornou um dos epicentros da doen?a no Brasil, com 9.410 casos confirmados e 809 ?bitos -- al?m de uma not?ria subnotifica??o devido ? escassez de testes.

A capital do Amazonas foi a primeira cidade do Brasil a decretar o colapso de seu sistema de sa?de devido ao esgotamento da capacidade de atendimento nas unidades de terapia intensiva (UTIs), e segue enfrentando dificuldades para lidar com a demanda crescente de infec??es.

'O sentimento ? de revolta, de a gente n?o conseguir fazer mais, e ?s vezes at? de ang?stia, porque voc? n?o consegue atender todo mundo, voc? n?o consegue dar a qualidade que deveria ser dada para todo mundo', disse Said, em um breve intervalo durante plant?o de 12 horas acompanhado pela Reuters.

'? angustiante a gente ver que muitos idosos v?o falecer por falta de respirador, voc? dando um suporte de oxig?nio que n?o ? suficiente e voc? n?o tem estrutura para fazer tudo que voc? poderia fazer... N?o ? porque ele ? idoso que ele est? condenado', acrescentou.

Manaus tem protagonizado algumas das cenas mais impactantes da pandemia no Brasil, com valas comuns sendo abertas em cemit?rios para enterrar v?timas da Covid-19.

A capital amazonense montou um hospital de campanha na periferia, inaugurado no dia 12 de abril, com 101 leitos --29 de UTI-- para atender pacientes com coronav?rus, com a perspectiva de chegar a 279 leitos.

A ocupa??o ? constante. Assim que um leito vaga, ? imediatamente ocupado, e a cidade tem registrado m?dia di?ria de 120 mortes, o que mant?m o servi?o funer?rio pressionado.

Segundo Said, a pandemia s? agravou uma situa??o que j? era de crise na sa?de p?blica local.

'Precisou de uma pandemia para vir ? tona toda uma situa??o de caos que a gente j? vive antes dela', afirmou.

'A gente trabalha aqui com hospitais lotados, com profissionais com cargas hor?rias elevadas, dando muitos plant?es... Eu queria que tivesse um olhar voltado com mais carinho, mais dedica??o como um todo..

Al?m da carga exaustiva de trabalho, a m?dica foi atingida pela Covid-19 dentro da pr?pria fam?lia. O pai e a m?e foram infectados pela doen?a. Para evitar os riscos de contaminar a pr?pria filha, de 13 anos, Said decidiu se afastar da menina, que foi morar com o pai, e est? h? quase dois meses sem v?-la pessoalmente.

'O meu tempo ? muito para o trabalho e o pouco tempo que eu tenho para mim n?o ? para mim, ? para tentar cuidar da minha fam?lia. E a minha filha... est? me fazendo sofrer muito ficar longe dela', afirmou.

Com o Brasil superando os 200 mil casos confirmados de Covid-19 e quase 14 mil mortes, al?m de atravessar uma crise pol?tica que resultou em duas trocas de ministro da sa?de durante a pandemia, a m?dica lamenta que o Brasil tenha se tornado um s?mbolo de problemas no enfrentamento ao coronav?rus, apesar de todos os esfor?os dos profissionais de sa?de.

'O mundo est? olhando para n?s por causa das nossas defici?ncias e isso ? muito ruim. Eu queria que o mundo olhasse para n?s pelas coisas boas que estamos fazendo. A gente est? trabalhando com tudo que a gente pode, da melhor maneira que a gente pode, se dedicando muito aos nossos paciente', disse.

Escrito por Reuters

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