Em reunião para tratar de queimadas, Bolsonaro se concentra em ataques a reservas
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Por Lisandra Paraguassu
BRAS?LIA (Reuters) - Em meio ? crise causada pelo aumento das queimadas na Amaz?nia, o presidente Jair Bolsonaro recebeu os governadores dos nove Estados da Amaz?nia Legal para tratar das a??es na regi?o, mas transformou o encontro em uma sess?o para reclamar do n?mero que considera excessivo de reservas ind?genas e florestais.
Segundo o presidente, a cont?nua demarca??o de reservas e parques nacionais t?m por objetivo 'inviabilizar' o Brasil.
'Em grande parte o dinheiro v?m de fora do Brasil, e isso tem um pre?o: demarca??o de terras ind?genas, APAs, quilombolas, parques nacionais, etc. Isso leva a um destino que sabemos, a insolv?ncia do Brasil', afirmou na reuni?o com os nove governadores da Amaz?nia Legal, na manh? desta ter?a-feira.
Bolsonaro respondia ao pedido dos governadores do Par?, Helder Barbalho (MDB); do Maranh?o, Fl?vio Dino (PCdoB), e do Amap?, Waldez de G?es (PDT), para que os recursos do Fundo Amaz?nia voltassem a ser usados nos projetos programados para a regi?o.
A decis?o do governo de mexer na gest?o do Fundo levou ? primeira crise ambiental do governo Bolsonaro, com Alemanha e Noruega, principais financiadoras, suspendendo novos repasses.
'N?o podemos rasgar dinheiro porque n?o ? sensato na atual conjuntura', disse Dino ao defender a continuidade do Fundo. 'N?o podemos repelir a a??o cooperada. O di?logo com outros pa?ses ? imprescind?vel.'
Ao ouvir cada um dos governadores, o presidente comentou a quantidade de reservas em cada Estado e o quanto isso comprometia da terra produtiva em cada uma dessas unidades da federa??o e chegou a dizer que essas medidas foram feitas para 'nos inviabilizar'.
'Com todo o respeito aos que me antecederam, foi uma irresponsabilidade essa pol?tica adotada no passado no tocante a isso, usando o ?ndio como massa de manobra. Essa quest?o ambiental tem de ser conduzida com racionalidade, n?o com esta quase selvageria, como foi feita nos outros governos?, afirmou.
A principal medida anunciada por Bolsonaro no encontro, que deveria tratar de a??es emergenciais de rea??o ao aumento das queimadas no pa?s, foi reiterar a morat?ria na demarca??o de novas reservas ambientais e ind?genas. Segundo o presidente, existem mais de 400 pedidos prontos, mas ele n?o assinar? nenhum.
'A nossa decis?o at? o momento ? n?o demarcar. J? extrapolou essa verdadeira psicose no tocante a demarca??o de terras', garantiu.
Ao ser questionado sobre o tema, o governador do Par?, Helder Barbalho, lembrou que seu Estado n?o tem problemas com as reservas.
'Hoje temos aprovado pelo zoneamento estadual que 35% do Estado do Par? ? permitido produ??o. Temos hoje usados 24%, ter?amos ainda 11%', explicou, lembrando ainda que boa parte do Par? tem hoje pecu?ria extensiva. 'Se formos para m?dia de 3 cabe?as de gado por hectare, sairemos para 60 milh?es de cabe?as. Ser? o maior rebanho bovino sem desmatar uma ?rvore.'
PACOTE
Bolsonaro prometeu ainda que at? a pr?xima quinta-feira o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ir? negociar com os governadores um pacote de medidas a serem enviadas ao Congresso Nacional para tratar do futuro, em uma forma de evitar que novos epis?dios como o aumento dos inc?ndios florestais registrado neste ano aconte?am novamente.
'O que precisamos ? pensar daqui para frente. Daqui a dois meses as queimadas j? acabaram e se nada for feito a Amaz?nia vai ser esquecida, at? virar not?cia novamente por mais algum motivo ruim', disse o governador do Amap?.
Os governadores foram un?nimes em cobrar ajuda e recursos federais para fazer o zoneamento produtivo e, principalmente, a regulariza??o fundi?ria das terras.
'A regulariza??o fundi?ria ? essencial para separar o bons dos ruins, para que se localize quem n?o est? cumprindo as regras. Hoje todo mundo ? penalizado igual', disse Antonio Denarium (PSL), governador de Roraima.
IMAGEM DO BRASIL
Outro ponto levantado pelos governadores foi a imagem do pa?s no exterior e seu impacto nas exporta??es brasileiras. O governador Mauro Mendes (DEM), de Mato Grosso --Estado que ? hoje o maior produtor de soja do pa?s-- defendeu que a a??o contra o desmatamento tem que ser constante.
'A imagem do Brasil ? extremamente importante para nossa rela??o com nossos clientes no exterior. Hoje 60% do PIB do Mato Grosso vem de exporta??es', disse. 'Fiquei muito preocupado quando sa?ram as not?cias de aumento de desmatamento, das queimadas. Isso foi uma combina??o muito ruim para a imagem do nosso pa?s.'
O governador do Amap? cobrou que se saia da pol?tica de confronto que, segundo ele, levou o Brasil a essa situa??o. 'Temos que chegar a um meio termo. Temos dito isso ao presidente. N?o pode de repente um discurso passar a ideia de permissibilidade', disse Waldez.
O governador do Maranh?o --a quem Bolsonaro j? se referiu como 'o pior de todos', quando foi gravado tratando os governadores do Nordeste como 'para?bas'--, lembrou que se o Brasil se isolar, ir? se expor a san??es ao agroneg?cio pelo n?o cumprimento de regras ambientais.
'N?o sou daqueles que satanizam, demonizam ONGs, porque existem ONGs de imensa seriedade. N?o ser? tocando fogo nas ONGs que vamos salvar a Amaz?nia. O meio termo ? melhor receita, extremismo nunca ? o melhor', defendeu Dino.
Apesar do discurso dos governadores --Helder Barbalho chegou a dizer que se devia parar de falar no presidente da Fran?a, Emmanuel Macron, e tratar do Brasil-- Bolsonaro voltou a criticar as ONGs e outros governos e insinuar que as queimadas s?o provocadas por atores de fora do pa?s.
'Se eu demarcar agora, o fogo na floresta amaz?nica acaba em dois minutos. Eles querem a nossa soberania. Ningu?m (no governo) quer destruir a Amaz?nia', defendeu.
Escrito por Redação
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