Emissão de carteira de motorista no Brasil caminha para 4º ano seguido de recuo em 2018
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Por Stefani Inouye
S?O PAULO (Reuters) - A emiss?o de carteiras de motorista no Brasil deve cair pelo quarto ano seguido em 2018, em um movimento que come?a a causar preocupa??o na ind?stria de ve?culos e que ? fomentado n?o s? pelo custo elevado de obten??o do documento, como tamb?m por uma grande mudan?a nos h?bitos de locomo??o das novas gera??es, principalmente em grandes centros como S?o Paulo e Rio de Janeiro.
De 2014 a 2018, a m?dia mensal de emiss?o da Carteira Nacional de Habilita??o (CNH) caiu 32 por cento, para cerca de 170 mil documentos. Em 2014, essa m?dia era de 250 mil emiss?es por m?s, segundo dados do Departamento Nacional de Tr?nsito (Denatran) compilados pela Reuters.
'O brasileiro est? come?ando a mudar o h?bito de ver o carro como um bem dur?vel e os aplicativos de mobilidade ajudaram muito. No geral, principalmente para o p?blico mais jovem, o carro est? come?ando a ser visto pelo servi?o que ele oferece, n?o pelo que ele representa em status social e isso, com certeza, impacta no n?mero de emiss?es de CNHs', afirmou a especialista em ind?stria automotiva e professora da Unicamp Fl?via Consoni.
De olho na queda de emiss?o de novas carteiras de motorista, a associa??o nacional de fabricantes de ve?culos, Anfavea, decidiu pela primeira vez contratar uma pesquisa para saber o n?vel de interesse dos jovens em comprar seu primeiro carro. A pesquisa, realizada pela startup Spry e publicada no in?cio do m?s, mostrou que os jovens de at? 25 anos de idade, que formam a chamada 'gera??o Z', est?o utilizando outros meios de locomo??o, como metr?, bicicleta e aplicativos de transporte, de forma mais intensa que as gera??es anteriores e, consequentemente, usando menos carros particulares.
O levantamento da Spry apontou que 25 por cento dos entrevistados da gera??o Z utilizam aplicativos de transporte como Uber, 99 ou Cabify, uma ou duas vezes na semana e 13 por cento afirmam utilizar sempre.
Em linha com a pesquisa, as emiss?es de CNHs entre esse p?blico ca?ram 24,8 por cento este ano, depois de j? terem recuado 7 por cento em 2017. 'N?o acho que as pessoas est?o desistindo, mas postergando o ato de tirar carta e isso se deve tanto pela quest?o da demora que o processo de emitir o documento possui, quanto pelo custo?,?disse a pesquisadora da Unicamp.
O investimento m?dio para tirar a primeira habilita??o no Estado de S?o Paulo varia entre 1,5 mil e 2 mil reais, podendo divergir entre a capital e as cidades do interior, segundo o sindicato paulista de auto escolas e centros de forma??o de condutores (Sindautoescola). O custo se compara ao rendimento m?dio dos trabalhadores do Estado, de cerca de 2,8 mil reais mensais, segundo dados do terceiro trimestre da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic?lios Cont?nua Trimestral (Pnad).
Aos 21 anos, Giovana Silva, estudante de psicologia, ? um exemplo do perfil indicado pela pesquisa da Spry. A jovem afirma n?o ter interesse em tirar carteira de motorista por causa do custo e diz usar o transporte p?blico e aplicativos de transporte para se locomover pela cidade de S?o Pulo.
?N?o ? s? o custo da carta que ? envolvido. ? o valor da compra de um carro, gasolina, seguro, aluguel de vaga na garagem do pr?dio, ? muita coisa. Por enquanto, ter um carro n?o ? necess?rio para mim', disse Giovana. ?Se eu tenho outras formas de me locomover que s?o mais baratas, por que eu faria um investimento t?o alto agora??
O presidente do Sindautoescola, Magnelson Carlos de Souza, concorda. 'Se o jovem tiver acesso a um transporte p?blico de qualidade e outros modais, a pessoa n?o vai considerar ter um gasto maior com o documento.?
NOVO CONCEITO
A queda do n?mero de novas CNHs vista a partir de 2014 pode ser associada ? crise econ?mica do pa?s, afirmou Fl?via, da Unicamp. 'Hoje ? muito mais caro tirar carta do que era h? 18 anos... Acho que o que est? acontecendo ? uma falta de interesse de quem comp?e esse n?mero e quem realmente precisa ficar atenta a isso ? a ind?stria de ve?culos.'
Para Pedro Facchini, diretor da Spry, as gera??es mais novas continuam tendo desejo por ter carro, o conceito de propriedade se transformou ao longo dos ?ltimos anos. 'O sentimento de posse mudou muito. Os mais novos entendem hoje que t?m um carro quando apenas t?m acesso a um ve?culo de alguma forma', disse ele, referindo-se a situa??es em que o carro da fam?lia ? considerado como de propriedade pelo jovem. 'Hoje, ter carro n?o ? mais sinal de status ao longo das gera??es', acrescentou.
As vendas de ve?culos novos no Brasil neste ano devem subir cerca de 14 por cento, para 2,5 milh?es de unidades, com boa parte desses emplacamentos sendo registrada por empresas frotistas, como locadoras de ve?culos. Apesar do crescimento, a ind?stria ainda est? longe do pico atingido em 2012, ano em que foram vendidos no pa?s 3,6 milh?es de carros, picapes, utilit?rios e ve?culos comerciais leves e em que os aplicativos de transporte ainda n?o estavam estabelecidos no pa?s.
J? as vendas de usados, que costumam marcar o primeiro ve?culo de um consumidor, acumulam desde o in?cio do ano at? o final do m?s passado alta de apenas 0,55 por cento, para 972 mil unidades, segundo n?meros da associa??o de concession?rios de ve?culos, Fenabrave.
FALTA DE ACESSO
Em alguns Estados menos urbanizados, no entanto, a m?dia do n?mero de emiss?es de CNHs aumentou neste ano em compara??o a 2017 -como o Acre, que apresentou aumento de quase 10 por cento, fato que, segundo a especialista em mobilidade urbana e professora da Universidade de S?o Paulo (USP) Andreina Nigriello, pode ser associado ? falta de investimento em transporte p?blico.
?? f?cil abrir m?o de um carro quando voc? tem alternativas que conseguem suprir a necessidade de transporte, mas e quem n?o tem? O mesmo acontece em S?o Paulo, por exemplo, onde o transporte p?blico funciona nas principais regi?es da cidade, mas quem mora nas periferias sofre com a falta de investimento', disse a professora.
A falta de variedade de modais de transporte em determinados Estados tamb?m foi considerada pela pesquisa realizada pela Spry. ?A popula??o urbana ? quem acaba ditando as tend?ncias, mas as pessoas que moram em regi?es muito afastadas n?o possuem muitas alternativas, como metr? e aplicativos de transporte, ent?o n?o temos como encarar que esses n?meros (da pesquisa) s?o iguais para todas as regi?es do pa?s?, disse Facchini, da Spry.
'Esse p?blico (moradores da periferia) n?o tem condi??es de se transportar entre seu local de trabalho e sua casa todos os dias com transporte p?blico, ent?o eles continuam comprando seus pr?prios ve?culos', completou Andreina, afirmando que, enquanto n?o houver investimento e melhoria no transporte p?blico de maneira uniforme, o n?mero de CNHs deve continuar a subir nessas regi?es.
Voltando aos grandes centros, para Souza, do Sindautoescola, a adapta??o ?s mudan?as pelas quais a sociedade e a ind?stria de ve?culos est?o passando ? quest?o de sobreviv?ncia.
'Daqui a 10 anos o assunto vai ser carros aut?nomos e onde as autoescolas entram nisso? Quando algum carro aut?nomo d? problema, quem assume ? o ser humano e ele precisa saber digirir', disse Souza, que tamb?m ? vice-presidente da Confedera??o Ibero-Americana de Centros de Forma??o de Condutores e Forma??o em Seguran?a Vi?ria.
?Eu acredito que nosso setor vai sentir um grande impacto com as inova??es tecnol?gicas que v?o surgir e, se n?o assumirmos nosso papel como educadores, no futuro, n?s podemos desaparecer', acrescentou.
Escrito por Redação
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