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ENFOQUE-Abalados, funcionários da Vale se unem e querem mudança em produção mineral

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Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Abalados e na espera de informa??es sobre centenas de colegas desaparecidos no desastre de Brumadinho (MG), funcion?rios da Vale est?o se mobilizando para exigir mudan?as no modelo de produ??o, incluindo a utiliza??o de tecnologias j? existentes para eliminar rejeitos da minera??o.

Os trabalhadores, representados pelos sindicatos, avaliam ainda que baixos investimentos da empresa em seguran?a acabam garantindo min?rio de ferro barato ao mercado global ?s custas de vidas e do meio ambiente.

Uma reuni?o de emerg?ncia de sindicatos foi convocada logo no s?bado em Itabira (MG), a tr?s horas de carro de onde no dia anterior a Barragem 1, da mina de ferro C?rrego do Feij?o, da Vale, rompeu-se em Brumadinho, liberando uma avalanche de um reservat?rio com cerca de 12 milh?es de metros c?bicos de lama. No desastre, dezenas de pessoas morreram.

No encontro de sindicalistas, cerca de 30 representantes de trabalhadores de diversos sindicatos se queixaram da pr?tica da companhia de armazenar rejeitos, quando j? h? tecnologia para eliminar esses passivos ambientais, e decidiram unir for?as para mudar o cen?rio, reivindicando tamb?m maior participa??o dos funcion?rios em decis?es por seguran?a.

Rafael ?vila, diretor-presidente do Sindicato Metabase Inconfidentes, que representa cerca de 1.500 trabalhadores, disse que ainda ? cedo para falar em greve, mas que os empregados v?o buscar unificar o movimento com sindicatos de todo o pa?s e pressionar a empresa para serem ouvidos.

'? muito simples. Tem como fazer a filtragem desse material e depositar a seco, sem utiliza??o de barragens, o problema ? que ? um investimento que eles n?o fazem', disse ?vila.

'A Vale, em um trimestre, tem 5 bilh?es de reais de lucro, mas isso n?o traz investimento em mudan?a do modelo de produ??o, e isso ? uma bomba rel?gio', acrescentou ele, queixando-se da aus?ncia de informa??es sobre seguran?a nos planos da empresa, que nos ?ltimos tempos est? focando seu bilion?rio fluxo de caixa livre no pagamento de dividendos, oportunidades de crescimento e aquisi??es.

No s?bado, al?m do Sindicato Metabase Inconfidentes, estavam representantes do Sindicato Metabase Itabira, Sindicato da Constru??o Civil Pesada (Siticop), Sind UTE Contagem, Sind UTE Barreiro, Sind Rede (professores de BH), brigadas populares e o partido PSTU.

Outras duas reuni?es de emerg?ncia foram marcadas para esta segunda-feira, em Belo Horizonte, uma das centrais sindicais de MG e outra chamada pela Central Sindical e Popular-Conlutas, com diversos representantes de trabalhadores.

?vila pontuou que 'a Vale, s? quando ? pressionada pela produ??o, muda alguma coisa', e que reclama??es por seguran?a feitas por funcion?rios s?o desencorajadas, at? mesmo por demiss?es.

Especialistas concordam que a tecnologia utilizada pela Vale deveria mudar.

'Isso custa dinheiro, ? poss?vel de ser feito. Claro. S? que n?s temos que passar esse custo para o min?rio. Hoje o Brasil produz min?rio para o mundo subsidiando esse pre?o de produ??o com o nosso meio ambiente, com as nossas vidas. Isso tem que ser discutido, se n?s queremos continuar fazendo isso', disse o professor Carlos Martinez, da Universidade Federal de Itajub? e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Procurada, a empresa n?o comentou o assunto.

Em entrevista ? Globonews, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse nesta segunda-feira que a ind?stria mineradora do Brasil precisa substituir t?cnica de ac?mulo de rejeitos de min?rios em barragens, por tecnologia a seco onde for poss?vel.

Ele n?o comentou se o governo avalia tornar obrigat?ria por lei uma mudan?a da pol?tica de disposi??o de rejeitos por mineradoras no Brasil.[nL1N1ZS0H4]

O advogado especializado na ?rea ambiental Tiago Lima destacou que o Brasil vem tratando rejeitos de minera??o da mesma forma h? d?cadas.

'Aquele rejeito que fica naquela barragem, a primeira coisa que voc? pode pensar, ? que aquilo nem devia estar ali... As empresas t?m que usar essas tecnologias para transformar aquele rejeito em res?duo', afirmou Lima, s?cio do escrit?rio Queiroz Cavalcanti.

Al?m disso, Lima ressaltou as falhas tamb?m das autoridades em exigir mudan?as.

O desastre de Brumadinho ocorre pouco mais de tr?s anos ap?s uma barragem da Samarco (joint venture da Vale e da anglo-australiana BHP) se romper, em Mariana (MG), deixando 19 mortos, centenas de desabrigados e poluir o rio Doce por quil?metros, at? o mar do Esp?rito Santo.

'Se aconteceu um segundo acidente, inclusive no mesmo Estado e com a mesma atividade, est? claro que a fiscaliza??o est? deficit?ria... trata o problema depois que acontece, vem multando, buscando todo o recurso do mundo, mas depois que ocorreu', afirmou.

NOVO DESASTRE, VELHOS PROBLEMAS

Ronilton Condessa, secret?rio do Sindicato Metabase Mariana, que representa cerca de 8 mil trabalhadores diretos da Vale e da Samarco, disse que ainda n?o conseguiu processar como uma trag?dia como essa pode se repetir t?o perto de casa e ressaltou que tamb?m n?o entende como uma empresa como a Vale n?o zela pelos seus funcion?rios.

Mas evitou fazer muitos coment?rios, destacando que tudo o que 'falar agora vai ser tomado pela emo??o'.

'N?s somos funcion?rios da empresa trabalhando embaixo de barragem, ent?o tem que se rever isso tudo', disse Condessa.

A avalanche de lama da barragem de Brumadinho atingiu o pr?dio administrativa da Vale e tamb?m o restaurante da unidade --a maioria dos desaparecidos ? de funcion?rios da pr?pria empresa.

At? o momento, autoridades contam 60 mortos e 292 desaparecidos com a trag?dia.

O temor dos funcion?rios em trabalhar pr?ximos de barragens foi algo destacado pelos sindicalistas ouvidos pela Reuters, principalmente depois de o diretor-presidente da companhia, Fabio Schvartsman, afirmar que a barragem de Brumadinho estava com atestados atualizados, provando que a estrutura era est?vel.

'A comunidade est? muito temerosa em fun??o do que aconteceu, muito pr?ximo, em espa?o de tr?s anos, e a Vale garantindo a estabilidade da barragem', disse Carlos Estevam, conhecido como Cac?, vice-presidente do Sindicato Metabase Itabira.

'A deposi??o a seco ? uma tecnologia que j? existe, depois do que aconteceu em Mariana, a Vale j? poderia estar adotando.'

Val?rio Vieira, diretor do Sindicato Metabase Inconfidentes, afirmou que 'desconfian?a e temor ? geral'.

'A Vale divulgou em todas as ?reas que fez inspe??o em todas as barragens, inclusive no nosso caso, porque exigimos isso em acordos coletivos e fora dele. Mas o que estamos observando com esse novo crime ? que a pol?tica do lucro prevalece sobre a seguran?a dos trabalhadores e das comunidades no entorno dessas grandes unidades de minera??o', afirmou.

Vieira disse ainda que os trabalhadores s?o deixados de fora de decis?es.

(Por Marta Nogueira)

Escrito por Redação

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