ENFOQUE-Com apostas em etanol, usinas do Brasil ampliam investimentos em produção
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Por Ana Ionova e Marcelo Teixeira
LONDRES/S?O PAULO (Reuters) - As usinas brasileiras est?o aumentando a capacidade de produ??o de etanol diante dos pre?os mundiais deprimidos do a??car e das pol?ticas governamentais que devem impulsionar a demanda pelo biocombust?vel no pa?s.
Uma mudan?a para o etanol na safra de 2018/19 reduziu a produ??o de a??car do Brasil em 9 milh?es de toneladas, para uma m?nima em 12 anos, e mais aloca??o de cana para o biocombust?vel na pr?xima temporada poderia ajudar a acabar com um super?vit global que pesa sobre os pre?os do ado?ante.
O Brasil tamb?m pode perder seu posto de maior produtor de a??car do mundo para a ?ndia pela primeira vez em 16 anos, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.
Para as processadoras de cana brasileiras, a mudan?a para etanol provou ser um 'trade-off' atraente, j? que o foco maior no biocombust?vel parcialmente protegeu as usinas de uma queda nos pre?os globais do a??car em setembro para o menor n?vel desde 2008.
Executivos das grandes empresas brasileiras de a??car Biosev e Usina Coruripe, bem como de pequenas produtoras como Usina Batatais e Usina Cerrad?o, disseram ? Reuters que agora est?o investindo em mais capacidade de etanol antes da pr?xima temporada.
A Biosev, por exemplo, a segunda maior processadora de cana do Brasil, disse que instalou colunas de destila??o em duas usinas do Mato Grosso do Sul para dar ?s unidades a op??o de usar 90 por cento da cana para o ?lcool, um incremento de 50 por cento.
Em outro sinal de que a ind?stria est? fazendo uma aposta de longo prazo no etanol, em linha com a pol?tica brasileira de biocombust?veis, a JW, uma das principais fabricantes de equipamentos para etanol, disse ? Reuters que contratou 200 pessoas para lidar com um aumento nos pedidos.
O Brasil lan?ou pela primeira vez pol?ticas para usar mais biocombust?veis em 1975, depois que o embargo de oferta da Opep elevou os pre?os do petr?leo. Os chamados carros flex, que funcionam com etanol puro ou uma mistura de gasolina e etanol, agora comp?em 80 por cento da frota de ve?culos leves do Brasil.
Em um novo impulso, o governo aprovou o RenovaBio, que obriga os distribuidores de combust?veis a aumentar gradualmente a quantidade de biocombust?veis que eles vendem a partir de 2020.
O Minist?rio de Minas e Energia do Brasil espera que o RenovaBio empurre a demanda para 47,1 bilh?es de litros em 2028, de 26,7 bilh?es em 2018, ajudando a ind?stria brasileira de etanol a se recuperar de anos de competi??o desleal com pre?os subsidiados da gasolina.
'Os investimentos s? s?o feitos a longo prazo', disse Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro. 'Parte desses investimentos est? sendo feita por causa do estabelecimento dessas metas.'
APOSTAS NO ETANOL
O mercado global tamb?m pode oferecer oportunidades para produtores brasileiros de etanol, ? medida que os pa?ses buscam maneiras de reduzir sua pegada de carbono, incluindo a China, que est? lan?ando o uso de etanol em combust?vel em todo o pa?s at? 2020.
Nesta temporada, as usinas brasileiras destinaram 64 por cento da oferta de cana para o etanol, j? que as vendas dom?sticas aumentaram em cerca de 40 por cento devido aos altos pre?os da gasolina no Brasil, o quarto maior consumidor mundial de combust?vel para transporte.
Muitas usinas j? podem produzir a??car ou etanol, com alguma flexibilidade no mix. As empresas que investem em colunas de destila??o esperam que as reconfigura??es lhes deem espa?o para produzir ainda mais etanol se os pre?os continuarem atrativos.
Al?m da Biosev, controlada pelo trading de commodities Louis Dreyfus, a Usina Coruripe, uma das dez maiores processadoras brasileiras de cana, disse que planeja investir cerca de 300 milh?es de reais para esmagar mais cana e aumentar sua capacidade de produ??o de etanol.
'Nosso mix ainda ? muito alto em a??car devido ? configura??o das usinas, mas estamos tentando mudar isso', disse o presidente-executivo, Mario Lorencatto, ? Reuters.
A Usina Batatais, empresa que pode moer 7 milh?es de toneladas de cana por safra em suas duas usinas, disse que as mudan?as feitas na ?ltima temporada em uma de suas f?bricas no Estado de S?o Paulo significaram que ela poder? destinar at? 80 por cento ao etanol.
'Quase dobramos a produ??o de etanol hidratado do ano passado para este', disse ? Reuters Luiz Gustavo Junqueira, gerente de inova??o da Usina Batatais.
Embora os investimentos variem, uma usina de m?dio porte pode gastar cerca de 20 milh?es de reais para adicionar uma coluna de destila??o que aumenta a produ??o de etanol em 40 milh?es de litros, disse Willian Hernandes, s?cio da consultoria financeira FG/A, que ajuda as usinas a levantar capital.
Hernandes disse que tr?s empresas podem come?ar a expandir sua capacidade a partir deste m?s, antes da pr?xima safra de cana-de-a??car, em abril.
As usinas tamb?m est?o investindo em tanques de armazenamento para que possam manter o etanol e vend?-lo quando os pre?os estiverem mais altos, disse Alexandre Figliolino, que trabalhou no Ita? BBA e agora assessora empresas de a??car e etanol.
A??CAR EM BAIXA
A dram?tica mudan?a do Brasil para o etanol nesta safra cortou sua produ??o de a??car em 20 por cento e, se o etanol continuar atraente na pr?xima temporada, as usinas poder?o destinar mais cana para o biocombust?vel.
'Com todos os planos de que ouvimos falar, as usinas provavelmente poderiam tirar mais 2 milh?es de toneladas de a??car do mercado na pr?xima temporada', disse Hernandes.
O Departamento de Agricultura dos EUA e a Organiza??o Internacional do A??car esperam que a ?ndia supere o Brasil em 2018/19 como o maior produtor mundial de a??car.
O apelo do etanol sobre o a??car ? influenciado por v?rios fatores, incluindo os pre?os da gasolina e da moeda brasileira, por isso ainda ? incerto o quanto de cana ir? para o etanol em 2019/20.
'Sem o RenovaBio ainda, eu diria que estamos olhando para a mesma situa??o', disse Eder Vieito, analista s?nior de commodities da Green Pool. 'Se o mundo precisar de a??car, os pre?os do a??car passar?o a um n?vel de pre?os que o etanol n?o pode igualar --sem perder demanda significativa para a gasolina.'
Um enfraquecimento do real e do petr?leo arrastou o pre?o ao qual o a??car est? ao par com o etanol para pouco mais de 13 centavos de d?lar por libra-peso, estimam analistas. Mas isso ainda est? acima dos pre?os do a??car.
'Os pre?os ainda est?o enviando aos produtores o sinal para manterem um forte foco no etanol no pr?ximo ano', disse Nastari, da Datagro.
PEGADA DE CARBONO
No entanto, os estoques decrescentes de a??car no Brasil t?m suportado os pre?os dom?sticos, o que poderia estimular um aumento de curto prazo na produ??o.
Tamb?m n?o est? claro se o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, manter? a pol?tica de alinhar os pre?os dom?sticos dos combust?veis com os pre?os globais. Embora tenha melhorado a competitividade do etanol ao remover os limites de pre?o da gasolina, o aumento das cota??es na bomba irritou muitos brasileiros.
O a??car tamb?m tem um apelo para as usinas porque os produtores podem cobrir os retornos com contratos futuros --um mecanismo que ainda n?o existe para o mercado dom?stico de etanol, disse John Stansfield, analista e trader do Grupo Sopex.
Fora do Brasil, o mercado de etanol deve se expandir tamb?m gra?as ?s pol?ticas destinadas a reduzir as emiss?es. A consultoria em etanol e a??car F.O. Licht espera que a demanda global aumente pelo menos 2 por cento ao ano na pr?xima d?cada.
E embora o etanol brasileiro muitas vezes n?o possa competir com a oferta de baixo custo dos EUA, o etanol de cana-de-a??car do Brasil tem uma pegada de carbono menor que pode atrair os governos que se esfor?am para cumprir os compromissos do acordo clim?tico de Paris.
A Col?mbia, por exemplo, ? um dos v?rios pa?ses que est?o mudando as pol?ticas de biocombust?veis para priorizar o uso de variedades com menor pegada de carbono. O etanol brasileiro come?ou a chegar ao Estado norte-americano da Calif?rnia este ano porque os distribuidores de combust?vel podem ganhar mais cr?ditos sob o esquema de descarboniza??o do Estado.
'Em compara??o com os biocombust?veis locais, como o etanol de milho, o etanol de cana do Brasil tem uma pegada de carbono muito menor', disse o diretor da F.O. Licht, Christoph Berg. '?, portanto, um combust?vel relativamente atraente'.
As altas tarifas ainda representam uma barreira em muitos pa?ses, incluindo a China, onde o etanol brasileiro est? sujeito a uma taxa de 30 por cento, embora analistas afirmem que as tens?es comerciais entre Washington e Pequim possam fornecer uma oportunidade.
'No momento, n?o parece que a China reduziria a tarifa de importa??o do etanol brasileiro', disse Berg. 'Mas ele pode ser competitivo se tal tarifa for removida.'
Escrito por Redação
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