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ENFOQUE-Como Brasil e Vietnã tomaram fatias ainda maiores no mercado global de café

Placeholder - loading - Colheita de café perto da cidade de São João da Boa Vista, em São Paulo 6/6/2019 REUTERS/Amanda Perobelli
Colheita de café perto da cidade de São João da Boa Vista, em São Paulo 6/6/2019 REUTERS/Amanda Perobelli

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Por Marcelo Teixeira, Julia Symmes Cobb e Phuong Nguyen

S?O JO?O DA BOA VISTA, 22 Ago (Reuters) - O cafeicultor Julio Rinco conduz sua m?quina colhedora de caf? na lavoura da fam?lia em S?o Jo?o da Boa Vista (SP), cuidando para que o equipamento encubra da melhor maneira poss?vel, um ap?s outro, os p?s na longa fileira.

A m?quina, uma inova??o que se espalhou rapidamente pelas fazendas de caf? no Brasil, ? uma das inova??es que ajudaram a cortar os custos de produ??o na fazenda da fam?lia Rinco a n?veis que poucos em outras partes do mundo que ainda usam m?o-de-obra intensiva conseguem igualar.

Com crescente uso de mecaniza??o e de outras tecnologias, os dois maiores produtores mundiais de caf?, Brasil e Vietn?, est?o elevando seus n?veis de produtividade e deixando para tr?s rivais como Col?mbia e outros pa?ses na Am?rica Central e na ?frica.

E eles est?o preparados para elevar esse dom?nio.

A queda recente dos pre?os referenciais do caf? no mercado internacional para o menor valor em 13 anos dever? provocar mudan?as substanciais no setor, onde apenas os produtores mais eficientes dever?o permanecer, segundo negociadores de caf? e analistas.

Produtores rivais dos brasileiros e vietnamitas dever?o ser gradualmente empurrados para uma ?rea marginal no mercado, impossibilitados de fazer dinheiro a partir da cultura do caf? que eles t?m tocado por gera??es. Alguns j? est?o mudando para culturas alternativas, enquanto outros est?o abandonando completamente a atividade.

Esses tipos de tend?ncias podem ser quase irrevers?veis tratando-se de culturas perenes como o caf?, j? que decis?es como abandonar ou erradicar lavouras podem afetar a produ??o por v?rios anos.

'Brasil e Vietn? t?m obtido aumentos consistentes em produtividade, que outros pa?ses n?o obtiveram', afirmou Jeffrey Sachs, diretor do Centro para Desenvolvimento Sustent?vel na Universidade de Columbia, que recentemente coordenou um estudo sobre a situa??o do setor produtivo de caf? no mundo.

Al?m de mecaniza??o, ele cita avan?os no desenvolvimento de novas cultivares e na amplia??o da irriga??o tanto no Brasil como no Vietn? como fatores para os saltos em produtividade.

Na Col?mbia e na Am?rica Central, o caf? ? geralmente cultivado nas montanhas, onde a mecaniza??o ? mais dif?cil. Al?m disso, o sistema de colher as cerejas do caf? manualmente mant?m os custos de produ??o relativamente elevados.

J? a produ??o na ?frica ? majoritariamente feita por pequenos agricultores que normalmente n?o possuem o capital necess?rio para adquirir novas tecnologias. Muitos deles sequer realizam o beneficiamento b?sico antes da venda, como a secagem ou o despolpamento.

M?QUINAS

Rinco comprou sua colhedora de caf? por cerca de 600 mil reais e est? pagando pelo equipamento com sacas de caf?, entregando cerca de 400 delas por ano durante quatro anos. A troca de produto por insumos ? comum no setor agr?cola brasileiro.

Uma m?quina dessas substitui dezenas de pessoas na colheita. Mesmo com o custo da aquisi??o e do consumo de diesel, produtores e fabricantes das colhedoras estimam entre 40% e 60% a redu??o nos custos da colheita.

'Al?m do custo menor, ela fez com que a minha vida ficasse menos complicada', diz Rinco, referendo-se ? significativa redu??o da burocracia com contrata??o de m?o-de-obra nos per?odos de colheita, e ? dificuldade em encontrar bons colhedores.

'As pessoas n?o querem mais colher caf?, elas est?o indo pras cidades encontrar algo diferente pra fazer.'

Brasil e Vietn? agora produzem mais da metade do caf? no mundo. H? 20 anos, produziam apenas cerca de 30% do volume global. E a propor??o continua crescendo, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

O Brasil, maior produtor mundial, responde sozinho por mais de um ter?o da oferta global. Em um sinal de ganhos de efici?ncia, o pa?s colheu uma safra recorde de quase 62 milh?es de sacas no ano passado e analistas estimam que produzir? um novo recorde em 2020, ano de alta do ciclo bianual de produ??o do caf? ar?bica.

E isso ocorre apesar de a ?rea de caf? no Brasil ter ca?do durante os ?ltimos seis anos.

O Vietn? tamb?m tem registrado recordes de produ??o regularmente, enquanto a Col?mbia, em contraste, colheu sua maior safra no in?cio dos anos 1990, e a Guatemala o fez 20 anos atr?s, mostram dados do USDA.

Em pa?ses como Guatemala e Honduras, cafeicultores que est?o abandonando suas lavouras se juntam ao grande volume de pessoas tentando imigrar para os Estados Unidos.

SALTOS NOS RENDIMENTOS

A produtividade m?dia no Brasil subiu bastante na ?ltima d?cada. N?meros da FAO, ag?ncia de agricultura da ONU, mostram ganhos de 40% para 1,5 tonelada por hectare. No Vietn?, o ganho foi de 18% no per?odo, para cerca de 2,5 toneladas por hectare (o pa?s produz o tipo robusta, cujo rendimento ? geralmente maior que do ar?bica).

A Col?mbia registrou algum ganho, cerca de 12%, mas ainda est? distante produzindo cerca de 1 tonelada por hectare, enquanto na Am?rica Central houve queda de 3% para apenas 0,6 tonelada.

Alexandre Gobbi, um executivo do setor de insumos agr?colas, juntou-se a dois parceiros para entrar no setor de produ??o de caf? no Brasil h? quatro anos. Eles compraram uma ?rea em S?o Sebasti?o do Para?so, em Minas Gerais, e partiram para implantar um sistema de produ??o ideal.

A propriedade deles disp?e de equipamentos incluindo um sistema subterr?neo de irriga??o, dotado de intelig?ncia artificial, considerado o mais avan?ado do mundo.

'Ele faz quase tudo sozinho. L? os n?veis de umidade do ar, me diz quando eu devo irrigar ou quanto fertilizante eu preciso adicionar', Gobbi disse ? Reuters, enquanto mostrava indicadores em pain?is digitais na sala de controle da fazenda.

Com o sistema, e outros equipamentos incluindo as colhedoras, ele dobrou a produtividade m?dia para cerca de 60 sacas por hectare, e consegue obter rentabilidade mesmo com os baixos pre?os atuais.

VARIEDADE NO VIETN?

Um armaz?m de propriedade da exportadora vietnamita Simexco Dak Lak Ltd, na cidade de Di An, perto de Ho Chi Min, ilustra a escala da opera??o de caf? no pa?s.

O caf? ? colocado em pilhas de v?rios metros de altura, bem organizadas, aguardando o embarque para a Europa. O armaz?m tem capacidade para guardar at? 20 mil toneladas durante o per?odo de colheita.

'No pico da colheita, deixar algum espa?o entre as pilhas, para as pessoas passarem, passa a ser um luxo', diz Thai Anh Tuan, que gerencia um dos tr?s armaz?ns operados pela Simexco, que exporta 80 mil toneladas de caf? robusta por ano.

'Qualquer espa?o aqui ser? ocupado. E temos que contratar armaz?ns adicionais por perto', afirmou.

Tuan diz que o aumento das exporta??es do Vietn? nos ?ltimos anos ? resultado de t?cnicas inovadoras na produ??o, como o cons?rcio do caf? com outras culturas, como frutas, melhoras em sistemas de irriga??o e uso de novas variedades.

O caf? ainda ? a principal cultura no Vietn?, mas produtores t?m inclu?do cultivo de frutas como manga, abacate e jaca para elevar o faturamento.

Ksor Tung, um cafeicultor com lavouras em 10 hectares, diz que as ?rvores frut?feras em cons?rcio com o caf? melhoram a produ??o dos gr?os, reduzindo a luz direta do sol e as pestes.

'A gente costumava a fazer o cons?rcio com pimenta, mas com a queda dos pre?os passamos a cultivar as frutas', afirmou.

INCERTEZA NA COL?MBIA

Produtores na Col?mbia encaram um futuro diferente.

Pressionados pelos baixos pre?os e custos elevados, alguns avaliam mudar para outras lavouras ou mesmo vender as fazendas, apesar de milh?es de d?lares em ajuda governamental recentemente.

Jose Eliecer Sierra, 53, cultiva caf? faz tr?s d?cadas, mas a queda dos pre?os o fez buscar alternativas --abacates tipo Hass e cria??o de gado, entre outras.

'Abacates est?o em alta demanda, ? uma op??o', afirmou em meio ? sua lavoura de 41 mil p?s na regi?o montanhosa de Pueblorrico, na prov?ncia de Antioquia.

'Outra op??o que as pessoas est?o avaliando ? gado --erradicar ?reas de caf? e plantar pasto', afirmou.

Para alguns, mesmo a troca de culturas talvez n?o resolva o problema.

Uriel Posada, que trabalhou por 30 anos como pintor nos Estados Unidos, sonhava em retornar ? Col?mbia para cultivar caf?. Mas agora colocou a fazenda ? venda.

'Estou com d?vidas at? o pesco?o', afirmou o produtor de 52 anos, olhando para a lavoura de 30 mil p?s situada em relevo acentuado.

'O Brasil tem uma vantagem enorme. As ?reas s?o planas e eles podem usar as m?quinas', disse Posada. 'Aqui eu tenho que pagar um ser humano para ir de ?rvore em ?rvore, galho por galho, pra pegar as cerejas', afirmou.

Ele diz que abacates e gado, como citado pelo outro produtor, s?o boas alternativas, mas requerem fundos para a transi??o que muitos agricultores n?o possuem.

'Eu vou vender a fazenda, pagar minhas d?vidas e ir embora. Encerrar meu sonho colombiano'.

(Reportagem de Marcelo Teixeira em S?o Jo?o da Boa Vista, Julia Symmes Cobb em Pueblorrico e Phuong Nguyen em Di An)

Escrito por Redação

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