ENFOQUE-Incerteza ronda safrinha de milho do Brasil por perdas na soja e tributo em MT
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Por Jos? Roberto Gomes
CUIAB? (Reuters) - As perspectivas favor?veis para a segunda safra de milho do Brasil, a safrinha, come?am a se turvar diante de incertezas quanto ao desenrolar clim?tico, ap?s a seca e o intenso calor castigarem a soja, ao passo que uma nova tributa??o em Mato Grosso enfurece produtores, com impacto maior previsto na semeadura de 2020.
Por ora, a avalia??o entre especialistas e produtores ouvidos pela Reuters ? de que a janela para o plantio do cereal permanece favor?vel, uma vez que a colheita de soja avan?a a passos largos --na segunda safra, o milho ? plantado ap?s a retirada da oleaginosa dos campos. Mas preocupa??es aparecem, com o clima ainda irregular em partes do pa?s.
'Estamos pensando em dar uma alongada nos materiais para dar tempo de se recuperar (a condi??o clim?tica)... H? risco de se reduzir a ?rea (de milho), mas depende do clima', afirmou Jo?o Carlos Ragagnin, que cultiva 8,2 mil hectares em Goi?s, o quarto maior Estado produtor de milho safrinha do Brasil.
O Brasil ? o terceiro maior produtor de milho e o segundo maior exportador do cereal, tendo na safrinha o grosso da produ??o anual. Conforme o levantamento mais recente da Conab, a segunda safra em 2018/19 deve alcan?ar 63,7 milh?es de toneladas, ou cerca de 70 por cento do total esperado.
'Tem gente diminuindo a ?rea', disse Fl?vio Faedo, produtor de soja e milho na regi?o de Rio Verde (GO).
Segundo ele, h? quem destinar? maior parcela de ?rea que inicialmente seria destinada ao milho para outros tipos de culturas de rota??o, como crotal?ria. Ele pr?prio disse que, ap?s 2,2 mil hectares com soja, semear? em torno de 75 por cento disso com milho --o restante deve ser ocupado com capim braqui?ria.
Os coment?rios v?o ao encontro do que o presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Antonio Chavaglia, disse na semana passada ? Reuters, de que o plantio da segunda safra na regi?o ainda est? em aberto ap?s o tempo adverso.
No sudeste de Mato Grosso, a preocupa??o ? a mesma --o Estado ? o maior produtor brasileiro de milho.
'Em uma normalidade, a plantadeira acompanha a colheitadeira, mas neste ano est? truncado...', comentou Gilmar Provin, supervisor comercial da Cooaprima, cooperativa agropecu?ria de Primavera do Leste (MT), cujo quadro de quase 100 cooperados planta 120 mil hectares de soja e 83 mil de milho.
'Vai ter problema', frisou Provin na semana passada, durante trecho da expedi??o t?cnica Rally da Safra, organizado pela Agroconsult e acompanhado pela Reuters, entre os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goi?s. Ele lembrou que alguns agricultores est?o 'plantando no p?', em ?reas secas.
PREOCUPA??O
'Esses problemas que tivemos na soja deixam o produtor mais receoso. Mas ainda temos uma boa janela para o milho. O que vemos ? que os produtores atrasaram a negocia??o de insumos para a safrinha', afirmou Adriano Gomes, analista da AgRural.
Maior exportador mundial de soja, o Brasil deu in?cio ao plantio em setembro do ano passado com condi??es extremamente favor?veis, levando o mercado a apostar em uma safra recorde bem superior a 120 milh?es de toneladas. Mas a estiagem e as altas temperaturas a partir de dezembro fizeram as previs?es serem cortadas, com a Aprosoja Brasil prevendo uma quebra de 16 milh?es de toneladas.
'A melhor janela (de plantio) vai at? o final de fevereiro. Se o clima n?o ajudar, se n?o for favor?vel... pode haver alguma revis?o. Acredito que essa preocupa??o exista, sim. Por causa da quebra na soja, (o produtor) vai estar de olho, porque a safrinha ? mais arriscada', disse a analista Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone, lembrando que o milho safrinha se desenvolve em um per?odo de sazonal diminui??o de chuvas.
PRESS?O ? FRENTE
Modelos clim?ticos apontam para chuvas irregulares em algumas regi?es produtoras de milho safrinha do Brasil.
De acordo com o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima, fevereiro e mar?o dever?o ser de chuvas mais dentro da m?dia nas faixas central e norte do Brasil.
'Mas para o sul do Brasil, estou com medo de mar?o, pois indica um m?s com chuvas mais irregulares sobre o Paran? e o sul de Mato Grosso do Sul. Vai pegar, infelizmente, a fase de pegamento de milho... Acendeu um alerta e est? piscando forte', destacou.
Essa ?rea do Brasil mencionada por Santos foi, por sinal, a mais castigada pela estiagem que afetou a soja.
'Caso se confirme isso, seria a terceira safra consecutiva de perdas no Paran?', disse o agrometeorologista, lembrando de problemas clim?ticos em anos anteriores.
Nesta semana, o Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado ? Secretaria de Agricultura paranaense, citou certo estresse sobre o milho de segunda safra j? plantado em Umuarama, no centro-oeste do Estado, bem como sobre a semeadura em Apucarana, no centro-norte, por falta de chuvas.
TRIBUTA??O
Al?m do clima, produtores de Mato Grosso tamb?m est?o preocupados com a inclus?o do milho entre os produtos tributados pelo Fethab, um fundo criado em 2000 e voltado a investimentos em habita??o e transporte. A medida relativa ao cereal foi aprovada no fim do m?s passado.
A base de c?lculo do Fethab ? a Unidade Padr?o Fiscal (UPF), um indexador que corrige taxas cobradas pelo Estado. No caso do milho, o recolhimento ser? de 6 por cento do valor da UPF por tonelada enviada tanto a outras partes do pa?s quanto ao exterior.
Como Mato Grosso ? um exportador, na pr?tica haver? uma incid?ncia de 50 centavos de real por saca de milho enviada, al?m do Funrural, o ?nico tributo que incidia sobre o cereal at? ent?o, disse o vice-presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore.
Para ele, a cobran?a tende a desestimular o plantio da safrinha do ano que vem, j? que a deste est? praticamente planejada. Mesmo assim, h? riscos.
'Pode respingar em alguma ?rea adjacente, de milho tardio... Da? o produtor pode expandir menos a ?rea, fazer rota??o de cultura', explicou.
Segundo Cadore, ?reas do m?dio-norte do Estado seriam as mais impactadas, j? que por estarem mais longe dos centros de exporta??o no Sul e Sudeste, arcariam com custos ainda maiores.
'A partir de 2020 isso pode inviabilizar o plantio da safrinha', comentou.
Na mais recente mudan?a relativa ao Fethab, a tributa??o da soja sofreu pouca altera??o, disse Cadore, ficando em 1,70 real por saca.
Escrito por Redação
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