ENFOQUE-Índia vai superar Brasil na produção de açúcar, e Ásia ganha relevância no comércio
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Por Rajendra Jadhav, Jos? Roberto Gomes e Roberto Samora
MUMBAI/S?O PAULO, 5 Set (Reuters) - O Brasil perder? para a ?ndia a lideran?a na produ??o de a??car no ano-safra internacional 2018/19, pela primeira vez em d?cadas, o que salienta um movimento em curso na ind?stria brasileira de direcionar cada vez mais cana para a produ??o de etanol, em uma conjuntura de baixos investimentos nas lavouras que t?m resultado em produtividades cada vez menores.
Ao mesmo tempo, contando com esquemas de subs?dios para um setor politicamente sens?vel, a ?ndia dever? ter uma produ??o recorde de a??car de cerca de 35 milh?es de toneladas na nova temporada que come?a em outubro, enquanto o volume do Brasil est? projetado para recuar cerca de 10 milh?es de toneladas ante a temporada passada, para cerca de 30 milh?es de toneladas, segunda avalia??o de analistas.
A mudan?a na lideran?a pela produ??o de a??car dever? ter reflexo nos fluxos comerciais da mercadoria ao redor do mundo, com as exporta??es brasileiras perdendo fatia, enquanto a ?sia ganha espa?o no mercado global e concentra estoques da commodity, especialmente na ?ndia.
Alguns afirmam que a lideran?a indiana na ind?stria de cana ? apenas aparente, uma vez que o Brasil continua com a maior oferta de sacarose e produz um a??car de melhor qualidade.
Mas o fato ? que, com os pre?os dos combust?veis em alta e os do a??car perto de m?nimas em dez anos em Nova York, o incentivo para a ind?stria brasileira retomar mercados ? baixo, at? porque a ?ndia, com grandes volumes em estoques, pode aparecer como exportador relevante, ainda que conte com subs?dios.
Al?m disso, a Tail?ndia, segundo exportador global atr?s do Brasil, est? na ?sia, grande regi?o consumidora.
'A ?ndia tem todas as condi??es de exportar, normalmente ela exporta, ela pode intensificar a exporta??o. A Tail?ndia tem exportado muito, a ?sia hoje ? um grande fornecedor da ?sia, o Brasil praticamente saiu da China', disse o consultor J?lio Maria Borges, da Job Economia e Planejamento, acrescentando que as exporta??es brasileiras no ano-safra dever?o recuar cerca de 9 milh?es de toneladas.
Al?m da grande safra da ?ndia, Borges ressaltou que a produ??o da Tail?ndia ter? uma redu??o de 1 milh?o de toneladas na nova temporada, para aproximadamente 14 milh?es.
Considerando-se que a colheita de cana do Brasil e da ?ndia ocorrem em momentos diferentes, a Job anualizou a produ??o brasileira para o per?odo de outubro a setembro, obtendo 30,4 milh?es de toneladas de a??car, ante um intervalo de 33 milh?es a 35 milh?es de toneladas no caso indiano.
'N?s perdemos essa condi??o (de maior produtor) e n?o sei quando vamos recuperar... O pre?o do a??car est? baixo, etanol e gasolina est?o mais altos. Quando muda isso, ? dif?cil de dizer', afirmou Borges, lembrando que o Brasil vinha liderando o ranking de produ??o global desde que a Uni?o Europeia perdeu essa condi??o, na d?cada de 1990.
FOR?A INDIANA
Borges ponderou que ainda ? cedo para dizer se a ?ndia vai repetir em 2019/20 a 'safra monstro' deste ano, at? porque as usinas est?o enfrentando dificuldades para pagar fornecedores de cana, e querem transferir o problema para o governo.
A Associa??o das Usinas da A??car da ?ndia (Isma, na sigla em ingl?s) projeta um recorde entre 35 milh?es e 35,5 milh?es de toneladas do ado?ante em 2018/19, ante 32,25 milh?es na temporada passada. Considerando-se estoques de passagem de 10 milh?es de toneladas, a oferta indiana estaria em torno de 45 milh?es de toneladas, diante de um consumo no maior consumidor global de 25,5 milh?es de toneladas, segundo a entidade.
Dessa forma, exporta??es s?o cruciais para a ind?stria indiana na nova temporada, disse o diretor-geral da Isma, Abinash Verma, que ressaltou que est?o pedindo ao governo um esbo?o da pol?tica para a safra.
'Pedimos ao governo para fazer exporta??es mandat?rias', afirmou Verma, nesta quarta-feira.
As exporta??es compuls?rias deveriam somar pelo menos 7 milh?es de toneladas, segundo ele.[nL2N1VR0HP]
Entretanto, segundo BB Thombare, diretor-gerente da Natural Sugar?& Allied Industries, uma ind?stria de a??car no Estado de Maharashtra, a diferen?a de pre?os no momento entre o mercado interno e o externo ? grande, e as empresas n?o conseguem embarcar o excedente.
Em mar?o, a ?ndia pediu ?s usinas exporta??es de 2 milh?es de toneladas e fixou uma cota mandat?ria para cada unidade, mas elas conseguiram exportar at? o momento apenas cerca de 500 mil toneladas.
Segundo um operador de a??car de Mumbai, a diferen?a entre os pre?os internos e externos chega a cerca de 100 d?lares por tonelada.
'As usinas n?o ter?o op??o a n?o ser exportar mesmo tendo perdas. Sem exporta??es, os pre?os locais v?o despencar e faltar? espa?o para estocar. Exporta??es de 4 milh?es a 5 milh?es de toneladas parecem poss?veis, principalmente para usinas de Maharashtra e Karnataka. Para aquelas em Uttar Pradesh, exporta??es n?o s?o interessantes, uma vez que elas precisam gastar muito para levar o produto at? os portos', disse o operador, que preferiu n?o ser identificado.
Um funcion?rio do governo indiano, que est? envolvido na tomada de decis?es, disse que a prioridade ? ajudar as usinas que est?o atrasadas com pagamentos a produtores de cana. 'Sim, as exporta??es s?o necess?rias, e decidiremos o quanto depois de consultarmos as partes interessadas.'
Segundo Michael McDougall, vice-presidente de Vendas da ED&F Man, a grande quest?o ? como a ?ndia vai lidar com o excedente. Ele lembrou que at? o momento o pa?s deu apoio para exporta??es de 2 milh?es de toneladas, e que a amplia??o da janela para vendas poderia permitir os embarques de tais volumes, o que ainda assim n?o seria suficiente para reduzir o problema.
Ele ressaltou que a ?ndia poderia ter de lidar com a??es na Organiza??o Mundial de Com?rcio (OMC) de pa?ses como Brasil, Tail?ndia e Austr?lia por conta dos subs?dios.
Enquanto a ?ndia avalia a possibilidade de exportar a??car, o Brasil v? seus embarques minguarem. H? apenas tr?s anos, em 2015/16, o pa?s sul-americano foi respons?vel por praticamente metade do total de vendas globais da commodity, de 56 milh?es de toneladas, participa??o esta que deve cair para um ter?o no ciclo vigente, segundo previs?es da consultoria Datagro.
'PROTAGONISMO'
A perda de lideran?a na produ??o global de a??car pelo Brasil ? relativizada por alguns especialistas, que ainda veem o pa?s como principal influ?ncia para as cota??es da commodity na Bolsa de Nova York (ICE Futures US).
'Em produ??o de a??car equivalente, o Brasil continua a ser muito importante. Neste ano, ser?o 85 milh?es de toneladas de a??car equivalente. Por conta dos pre?os baixos, os produtores brasileiros est?o exercendo a op??o de reduzir a produ??o de a??car e aumentar a de etanol como forma de prote??o', disse o presidente da Datagro, Plinio Nastari.
Em agosto, em raz?o da escalada do d?lar ante o real, que estimula vendas brasileiras, os pre?os do a??car na ICE despencaram para o menor n?vel em uma d?cada.
Mas para Nastari, n?o fosse o 'protagonismo' do Brasil, os pre?os estariam ainda mais enfraquecidos.
'A redu??o de produ??o (de a??car) no Brasil denota um enorme protagonismo, que ajuda a mitigar essa press?o (sobre as cota??es).'
O analista Jo?o Paulo Botelho, da INTL FCStone, tamb?m lembrou que o posto assumido pela ?ndia no ranking de produtores de a??car pode n?o perdurar, inclusive por quest?es externas ?s de mercado.
'A produ??o de a??car na ?ndia ? muito inst?vel, depende das chuvas de mon??es, que concentram 80 por cento das chuvas em um ano no pa?s. Se as mon??es vieram abaixo da m?dia, a ?ndia pode voltar a ser um importador l?quido de a??car', explicou.
'A gente, Brasil, vai continuar sendo um leme muito importante para o mercado', concluiu ele.
(Por Roberto Samora e Jos? Roberto Gomes, em S?o Paulo, e Rajendra Jadhav, em Mumbai; reportagem adicional de Chris Prentice, em Nova York, e Mayank Bhardwaj, em Nova D?lhi)
Escrito por Redação
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