Enquanto mortes crescem na Amazônia, dados oficiais de Covid-19 são questionados
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Por Jake Spring e Eduardo Sim?es e Bruno Kelly
BRAS?LIA/S?O PAULO/MANAUS (Reuters) - O n?mero de mortes por Covid-19 em Manaus pode ser tr?s vezes a contagem oficial, de acordo com dados de cart?rios analisados pela Reuters, e o sistema p?blico de sa?de n?o est? conseguindo atender a grande quantidade de doentes.
Autoridades locais alertam que est?o faltando leitos hospitalares e que h? dificuldades para lidar com os enterros na capital do Amazonas, Estado que registrou cerca de 19,4 mortes a cada 100 mil moradores em compara??o a 4,4 em todo pa?s, de acordo com uma contagem realizada pela Reuters com base nos dados divulgados pelo Minist?rio da Sa?de na quinta-feira.
O novo coronav?rus matou 422 pessoas no Amazonas em abril, segundo o minist?rio. No entanto, dados de cart?rios sugerem que as estat?sticas do Minist?rio da Sa?de podem subestimar o verdadeiro impacto da pandemia. Autoridades j? reconheceram em coletivas de imprensa que o n?mero provavelmente ? maior, j? que alguns casos n?o s?o detectados devido ? falta de testes, mas n?o elaboraram maiores detalhes.
Dados da Central de Informa??es do Registro Civil mostravam na quinta-feira que 385 pessoas haviam morrido pelo novo coronav?rus em abril no Amazonas. No entanto, os cart?rios tamb?m registraram 999 outras mortes resultantes de pneumonia, s?ndrome respirat?ria aguda grave e outras insufici?ncias respirat?rias, o que algumas autoridades do Estado acreditam que deveria ser contabilizado como Covid-19, elevando o total a 1.384. As 999 mortes s?o quatro vezes maiores em compara??o ?s 249 fatalidades no mesmo m?s do ano passado.
'Existe aqui como existe no Brasil o fen?meno mal?fico da subnotifica??o. Mortes sem causa determinada, isso ? um absurdo', disse o prefeito de Manaus, Arthur Virg?lio Neto (PSDB), ? Reuters por telefone.
'Mortes por pneumonia, pneumonia eu prefiro chamar de Covid. Mortes por insufici?ncia respirat?ria grave, eu prefiro chamar de Covid.'
Uma assessora de imprensa do Minist?rio da Sa?de disse ? Reuters na quinta-feira que a pasta segue procedimentos estabelecidos para monitorar casos de coronav?rus, e problemas respirat?rios n?o podem ser presumidamente relacionados ? Covid-19, mas reconheceu que, como resultado, pode haver uma subnotifica??o.
'O n?mero ? capaz de ser superior. Temos que esperar todo esse processo de investigac?a?o do que realmente e? a causa do o?bito da pessoa. Mas a questa?o de o?bito e? delicada, enta?o temos que ter certeza do que exatamente ? a causa do o?bito da pessoa', disse a assessora, sob condi??o de anonimato, citando a pol?tica do minist?rio.
'Pode ser outro v?rus respirat?rio, n?o necessariamente o coronav?rus', afirmou.
TESTES
A representante do minist?rio disse que s? ? poss?vel saber com certeza se uma pessoa morreu por Covid-19 se for testada. O governo planeja ampliar os testes em maio, acrescentou, prevendo que a medida possa revelar um n?mero maior de casos.
Em um comunicado divulgado na quinta-feira, o minist?rio informou ter distribu?do 5,1 milh?es de testes. A assessora alegou que a pasta n?o sabia quantos haviam sido usados.
O Brasil havia testado apenas 181.000 pessoas at? 22 de abril, as estat?sticas mais recentes do governo dispon?veis. Isso representa menos de 0,1% da popula??o, em compara??o com 3,5% na It?lia e 1,2% na Coreia do Sul.
O Minist?rio da Sa?de culpa a falta de materiais para fazer testagem em meio ? enorme demanda global por testes de coronav?rus.
O Brasil ? o pa?s mais atingido da Am?rica Latina, despertando alarme internacional de que o governo do presidente Jair Bolsonaro est? lidando mal com a epidemia, ao minimizar a gravidade do novo coronav?rus.
Bolsonaro argumenta que o impacto econ?mico de manter as pessoas em casa supera o risco ? sa?de de deix?-las trabalhar.
O pa?s registrou 610 novas mortes na quinta-feira, elevando o total para mais de 9.100 pessoas, informou o Minist?rio da Sa?de, acrescentando que h? mais de 135 mil casos confirmados.
A contagem do minist?rio baseia-se em testes realizados por hospitais e confirma??es registradas por autoridades municipais, que ent?o passam os dados para as secretarias estaduais e, por fim, ao minist?rio.
A MESMA PANDEMIA
Manaus, cidade com mais de 2 milh?es de habitantes, ? acess?vel apenas de avi?o ou barco pelo restante do Brasil em grande parte do ano. O surto do v?rus come?ou a se espalhar para comunidades ind?genas perto no rio Amazonas, que passa por Manaus, provocando pedidos de defensores dos direitos humanos e figuras p?blicas como Paul McCartney e Oprah Winfrey para proteger as tribos.
Tr?s m?dicos e autoridades locais entrevistados pela Reuters t?m poucas d?vidas de que a onda mortal por doen?as respirat?rias sem diagn?stico definitivo de coronav?rus fa?a parte da mesma pandemia.
Guilherme Pivoto, chefe da associa??o estadual de infectologistas, disse que muitos pacientes n?o t?m acesso a todos os servi?os hospitalares e morrem sem serem testados. Corpos s?o rapidamente enviados para serem enterrados ou cremados, afirmou.
Em certos locais, Manaus est? enterrando cinco corpos ao mesmo tempo em valas coletivas, de acordo com um fot?grafo da Reuters que j? presenciou mais de 50 enterros em cemit?rios locais. O prefeito disse que cerca de 120 pessoas s?o enterradas por dia.
O servi?o funer?rio municipal SOS Funeral atende fam?lias que n?o podem pagar uma cerim?nia privada.
Os trabalhadores do SOS Funeral - alguns com roupas brancas, m?scaras e luvas de prote??o - carregam caix?es nas costas antes de pegar corpos de hospitais e resid?ncias.
A demanda disparou, de acordo com uma porta-voz do SOS Funeral. O n?mero de 'remo??es' de mortos triplicou para entre 24 e 36 por dia, com 52 no pior dia, disse ela.
Virg?lio disse que seus esfor?os para conter o surto atrav?s do distanciamento social t?m sido prejudicados pelas cr?ticas de Bolsonaro a essas ordens de isolamento. O prefeito estima que menos de 40% da cidade est? seguindo suas diretrizes.
'? duro o principal l?der da na??o pedindo para o pessoal ir para a rua...Ele est? desgastado em outros lugares, aqui ele n?o est?', afirmou o prefeito.
Na quinta-feira, Bolsonaro defendeu novamente seu desejo pela reabertura da economia e criticou o fechamento do com?rcio e ordens de isolamento residencial emitidas por alguns governadores, caracterizando-as como muito restritivas.
(Reportagem adicional de Pedro Fonseca no Rio de Janeiro, Stephen Eisenhammer em S?o Paulo e Lisandra Paraguassu em Bras?lia)
Escrito por Reuters
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