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ENTREVISTA-Ano começa com salto na arrecadação, mas dados “estranhos” turvam leitura da economia, diz Mansueto

Placeholder - loading - Secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, durante entrevista à Reuters em Brasília. REUTERS/Adriano Machado
Secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, durante entrevista à Reuters em Brasília. REUTERS/Adriano Machado

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Por Isabel Versiani e Marcela Ayres

BRAS?LIA (Reuters) - Os dados econ?micos brasileiros est?o 'muito estranhos', com a ind?stria apresentando resultados dissonantes em rela??o aos demais setores, enquanto a arrecada??o abriu o ano com um desempenho ?espetacular?, disse o secret?rio do Tesouro, Mansueto Almeida, ? Reuters, acrescentando que por ora a proje??o oficial para o crescimento econ?mico segue em 2,4%.

'Os dados est?o muito estranhos. Com o resultado de um, dois meses n?o d? para ter grandes certezas da proje??o para o ano.', afirmou em entrevista exclusiva na quarta-feira. 'A gente espera que este ano seja melhor que o ano passado, mas se vai ser 2%, 2,3%, vamos ter que esperar um pouco', completou, destacando que os efeitos do coronav?rus sobre o desempenho econ?mico ainda est?o envoltos em incertezas. Mansueto disse que n?o vai perder o sono com a possibilidade de o PIB eventualmente crescer at? 0,3 ponto a menos do que o estimado no momento, at? porque o impacto sobre a pol?tica fiscal n?o ? autom?tico. Em janeiro, antecipou, a arrecada??o de receitas do governo teve um crescimento expressivo, muito acima do PIB. Os dados ser?o divulgados no final deste m?s.

?O primeiro m?s do ano foi uma arrecada??o espetacular?, afirmou. ?A? voc? n?o sabe se ? um m?s isolado ou se ? a sequ?ncia, por isso que a gente tem que esperar.?

Segundo o secret?rio, n?o houve fatores ?bvios para explicar o impulso nas receitas no m?s, como um desinvestimento expressivo de estatal, por exemplo, que teria impacto sobre a taxa??o de ganhos de capital. Sobre a ind?stria, o secret?rio destacou que, desde o fim do ano passado, o setor tem apresentado um resultado bem menos expressivo que varejo e servi?os, com queda de produ??o e de investimento. Ele destacou que o fen?meno possivelmente reflete uma desova de estoques. Mansueto ponderou ainda que alguns subsetores manufatureiros enfrentam problemas de falta de m?o de obra qualificada, enquanto outros passam por um rearranjo ap?s anos recebendo subs?dios elevados.

?Est? ocorrendo alguma coisa na ind?stria que ningu?m est? entendendo direito. Uma coisa mais estrutural, tanto no Brasil quanto no resto do mundo?, afirmou.

'? engra?ado porque, se voc? pega a demanda da ind?stria de 6 a 8 anos atr?s, o que a ind?stria pedia era juros baixos e c?mbio desvalorizado. Voc? tem as duas coisas agora. Voc? tem os juros baixos, ? m?nima hist?rica, e o c?mbio desvalorizado, e a ind?stria n?o est? reagindo t?o bem?, acrescentou.

A produ??o industrial fechou 2019 no vermelho, interrompendo dois anos seguidos de ganhos, de acordo com dados do IBGE. Em dezembro, a queda de 0,7% sobre o m?s anterior ficou acima do esperado, marcando a segunda leitura negativa seguida.

Ap?s o Banco Central ter divulgado nesta semana que os membros do Comit? de Pol?tica Monet?ria (Copom) divergiram sobre o n?vel de ociosidade na economia, Mansueto afirmou que o time da Economia tamb?m est? debru?ado sobre a quest?o, buscando entender as din?micas que est?o pautando o comportamento dos setores.

Mansueto ponderou que, numa recess?o longa e profunda como a que aconteceu no Brasil, '? muito dif?cil ver esse momento' em que a ind?stria retoma o investimento.

Setores que demandam inova??o tecnol?gica constante, como o automobil?stico, acabam promovendo investimentos antes de utilizarem inteiramente sua capacidade de produ??o para que os parques fabris n?o fiquem desatualizados, disse. ?Se ele n?o for setor muito inovador, enquanto n?o completar ele n?o volta a investir. A gente tem que entender melhor todos esses movimentos setoriais.'

D?VIDA EM QUEDA Segundo Mansueto, o governo Jair Bolsonaro dever? fechar seu mandato entregando uma queda na d?vida bruta sobre o PIB apenas considerando o pagamento antecipado de empr?stimos pelo BNDES ao Tesouro. Atualmente, o banco ainda tem 193,8 bilh?es de reais de quase meio trilh?o de reais que chegaram a ser repassados em governos petistas para que concedesse financiamentos a juros subsidiados.

'O BNDES tem para nos pagar ainda um pouco acima de 2% do PIB. Se ele pagar tudo isso ou parte disso at? o final deste governo, ? quase certo que a gente consegue reduzir d?vida bruta s? com BNDES', disse Mansueto.

Ainda n?o h? defini??o do quanto ser? devolvido ao Tesouro neste ano, mas Mansueto lembrou que, com a pol?tica de desinvestimento do BNDES ganhando tra??o, o banco dever? aumentar significativamente sua liquidez, ganhando conforto para antecipar pagamentos fora do cronograma originalmente pactuado com a Uni?o. Em fevereiro, o BNDES levantou 22 bilh?es de reais com a venda de suas a??es ordin?rias na Petrobras.

Mansueto frisou ainda que a conta de queda da d?vida bruta ao fim de 2022 n?o envolve a venda de reservas pelo Banco Central, vetor que tamb?m foi fundamental para o recuo do indicador a 75,8% do PIB em 2019 ante 76,5% em 2018. ?No Tesouro a gente n?o faz proje??o nenhuma de d?vida incorporando movimento de reserva, ? vari?vel que n?o est? no nosso controle, ? pol?tica do Banco Central', pontuou.

O secret?rio disse que o crescimento econ?mico ter? papel preponderante na diminui??o da d?vida bruta, j? que uma expans?o de 1% do PIB implica redu??o da rela??o entre d?vida bruta e PIB da ordem de 3,9 pontos.

Caso o Brasil consolide crescimento por volta de 2,5%, inclusive, ele estimou que uma melhora da nota de cr?dito do pa?s pelas ag?ncias de classifica??o de risco ser? poss?vel ainda em 2020.

J? o caminho para a retomada do grau de investimento ? mais ?rduo e depende, na vis?o de Mansueto, da concomitante obten??o de super?vit prim?rio. O governo conseguiu economizar para pagar juros da d?vida pela ?ltima vez em 2013. Pelas proje??es atuais da equipe econ?mica, o pa?s seguir? na trajet?ria de d?ficits prim?rios at? 2022.

'Eu acho que a gente s? vai ter um grau de investimento, recuperar mesmo o grau de investimento, quando a gente estiver com crescimento mais consistente e tiver resultado prim?rio (positivo)', disse Mansueto, estimando que isso ocorrer? 'mais para frente'.

Questionado sobre seus poss?veis planos de deixar o governo, depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter dito na semana passada que Mansueto poderia em breve ir para a iniciativa privada ou para uma institui??o multilateral, o secret?rio disse que, quando tomar essa decis?o, far? o an?ncio com anteced?ncia.

?De vez em quanto eu falo para ele (Paulo Guedes), quando come?a a falar dos planos, ?olha, vai chegar uma hora que eu vou sair porque eu n?o meu vejo mais tr?s, quatro, cinco, seis anos no servi?o p?blico n?o??, afirmou. ?E ? at? bom que em algum momento eu saia para que as pessoas notem o avan?o institucional que teve aqui no Tesouro Nacional?, acrescentou, destacando a pr?tica da secretaria, mantida em sua gest?o, de prestar contas ao Tribunal de Contas da Uni?do de suas discuss?es internas.

(Com reportagem adicional de Jamie McGeever)

Escrito por Reuters

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