ENTREVISTA-Chanceler Ernesto Araújo diz que Brasil é herói e não vilão ambiental

Por Rodrigo Viga Gaier e Gabriel Stargardter

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ministro das Rela??es Exteriores, Ernesto Ara?jo, afirmou nesta quarta-feira que o Brasil vai provar que o pa?s n?o ? vil?o ambiental, mas her?i, no momento em que ? alvo de cr?ticas pela pol?tica na ?rea do meio ambiente.

Em entrevista ? Reuters, o ministro avaliou que infelizmente h? uma percep??o muito equivocada a respeito da pol?tica ambiental do Brasil e da Amaz?nia.

'Isso ganhou uma notoriedade muito grande sem corresponder ? realidade. Temos uma pol?tica ambiental com compromisso total com o ambiente e com o uso racional dos recursos naturais', afirmou.

'Temos convic??o de que nossa agricultura ? inteiramente sustent?vel e seguramente uma das mais sustent?veis do mundo', acrescentou.

O governo do presidente Jair Bolsonaro ficou sob forte press?o internacional neste m?s por causa do expressivo aumento dos inc?ndios florestais na Amaz?nia e tamb?m por declara??es pol?micas do presidente, que chegou a apontar organiza??es n?o-governamentais (ONGs) como suspeitas pelas queimadas.

O chanceler disse que o governo est? pronto para disponibilizar os dados que mostram todo o trabalho que vem sendo feito na ?rea ambiental para que o mundo possa avaliar.

'Queremos que as pessoas se sentem, olhem os dados, comparem... estamos fazendo um esfor?o no combate aos inc?ndios que nunca foi feito', argumentou.

'Espero que tudo isso seja valorizado e as pessoas que se preocupam com meio ambiente legitimamente vejam que o Brasil ? o her?i e n?o o vil?o.'

A pol?mica ganhou contornos de crise diplom?tica ap?s uma troca de farpas entre Bolsonaro e o presidente franc?s, Emmanuel Macron. O franc?s acusou Bolsonaro de mentir durante a reuni?o do G20 por ter declarado compromisso com a quest?o ambiental.

'Acredito que o presidente Bolsonaro reagiu da maneira que precisava reagir. A gente lamenta que tenha havido esse tipo de comportamento e de ofensa por parte do presidente da Fran?a, mas tenho certeza que os brasileiros est?o tranquilos com o posicionamento do presidente Bolsonaro a esse respeito', afirmou.

INTERESSES ECON?MICOS

Sobre as cr?ticas ao tratamento que est? sendo dado em rela??o ? crise na Amaz?nia, o chanceler afirmou que existe uma unidade absoluta dentro do governo e em torno do presidente da Rep?blica e do conceito de soberania como base de tudo. ?E de n?o aceitar sugest?o que implique em relativizar a soberania do Brasil sobre seu territ?rio e na Amaz?nia. H? uma unidade muito grande', afirmou.

Ara?jo refor?ou declara??es do presidente sobre a exist?ncia de interesses econ?micos de fora na regi?o. ?Sem d?vida eu acho que sim', disse quando perguntado se a mobiliza??o internacional em torno da Amaz?nia teria motiva??o econ?mica.

'Acho que h? setores que por ventura se sentem amea?ados por um Brasil mais competitivo, que come?a a fechar acordos que n?o tinha, come?a a se posicionar nas cadeias globais de valor', disse. 'Esses setores instrumentalizam uma quest?o leg?tima, explorando uma opini?o p?blica que tem pouqu?ssimo acesso a informa??o sobre o Brasil', disse.

A rea??o internacional ?s den?ncias de que o Brasil estaria tendo uma postura permissiva em rela??o ? preserva??o da floresta veio rapidamente. Na semana passada, ap?s se alastrarem not?cias e imagens das queimadas pelo mundo, a Finl?ndia pediu que a Uni?o Europeia avaliasse a possibilidade de banir a carne bovina brasileira, e o gabinete de Macron tamb?m afirmou que iria se opor ao acordo UE-Mercosul, posi??o semelhante ? divulgada pela Irlanda.

Internamente, o setor do agroneg?cio reagiu, na tentativa de refor?ar que trabalha de forma sustent?vel, sob temor de retalia??o internacional aos produtos brasileiros.

O agroneg?cio brasileiro representa mais de 40% das exporta??es do pa?s. At? julho deste ano, de acordo com dados do Minist?rio da Agricultura, foram exportados 56,6 bilh?es de d?lares. Em 2018, os valores foram recordes, de 101,7 bilh?es de d?lares.

TERRAS IND?GENAS

Ara?jo afirmou que no caso de terras ind?genas Bolsonaro j? deixou claro que a inten??o ? permitir o uso racional e sustent?vel dos recursos naturais que existem nessas ?reas em benef?cio do Brasil e das pr?prias popula??es.

'Muitos l?deres ind?genas t?m nos procurado para dizer que querem que haja essa explora??o. S?o comunidades que vivem de maneira muito pobre em cima de terras extremamente ricas', disse, acrescentando que o modelo tem que ser estudado, mas seria dentro do marco legal brasileiro e em benef?cio das comunidades ind?genas.

'O que acontece hoje ? que n?o ? permitida a explora??o legal, mas h? explora??o ilegal da riqueza que n?o redunda em benef?cio ao pa?s e ?s popula??es ind?genas', disse.

Na v?spera, em reuni?o com governadores da regi?o amaz?nica no Pal?cio do Planalto, Bolsonaro afirmou que a cont?nua demarca??o dessas terras tem por objetivo 'inviabilizar' o pa?s.

CHINA x EUA

No que diz respeito ? disputa comercial entre Estados Unidos e China, principais parceiros comerciais do Brasil, o ministro afirmou que pode vir a gerar algum tipo de redu??o na demanda global, o que seria prejudicial.

'Esse conflito global gera tens?es no com?rcio e na economia global. Isso nos preocupa como preocupa outros pa?ses, porque pode gerar algum tipo de diminui??o da demanda global, interromper alguns fluxos e, evidentemente, n?o ? bom para qualquer pa?s exportador', disse.

Segundo o chanceler, o assunto ? acompanhado com muita calma, setor a setor, avaliando os respectivos efeitos.

'No momento n?o estamos sendo diretamente afetados por essa situa??o, mas do ponto de vista sist?mico temos todo interesse em livre com?rcio e que o com?rcio flua da melhor maneira.'