ENTREVISTA-Em recado a Bolsonaro, Ana Amélia diz que não se resolve problema “batendo na mesa”
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Por Ricardo Brito e Anthony Boadle
BRAS?LIA (Reuters) - A senadora Ana Am?lia (PP), candidata a vice-presidente na chapa do tucano Geraldo Alckmin, afirmou nesta quarta-feira que n?o se resolve os problemas do pa?s 'batendo na mesa' ou com base no 'voluntarismo', num recado ao candidato do PSL ? Presid?ncia, deputado Jair Bolsonaro, e citou os processos de impeachment dos ex-presidentes Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff como exemplos do resultado da falta de respaldo no Congresso.
'O Collor perdeu o poder por conta da dificuldade que ele teve de se entender com o Congresso Nacional. Parte dos problemas que a Dilma teve, al?m do crime de responsabilidade fiscal, foi a dificuldade que teve de conviver respeitosamente com o Congresso', disse Ana Am?lia em entrevista ? Reuters, em seu gabinete.
'Quem n?o tiver essa consci?ncia, n?o adianta achar que batendo na mesa vai resolver os problemas, ou que num ato de vontade e voluntarismo vai fazer as coisas que a sociedade quer que sejam feitas', acrescentou.
Aos 73 anos e em seu primeiro mandato parlamentar, a senadora destacou que n?o tem como haver um 'processo de mudan?a' no pa?s sem passar pelo Congresso, 'por mais desacreditado' que esteja o Poder Legislativo.
Questionada se a falta de base de sustenta??o de um eventual governo Bolsonaro --atualmente o deputado tem apenas dois partidos pequenos na sua coliga??o-- poderia lev?-lo a um impedimento, a senadora n?o quis falar na condicional. Mas disse que basta analisar a realidade e saber o 'desfecho' desse tipo de processo.
'Basta perguntar para qualquer cientista pol?tico. N?o sou cientista pol?tica, sou apenas uma observadora da hist?ria recente do Brasil, primeiro como jornalista, e agora como agente p?blica', disse. 'N?o ? f?cil, voc? tem que acomodar, dialogar, fazer o entendimento, articular com a oposi??o, voc? precisa fazer essa forma de entendimento', completou.
A alian?a encabe?ada pelo ex-governador de S?o Paulo ? a que tem o maior n?mero de partidos, nove no total --o PSDB de Alckmin, o PP de Ana Am?lia, PR, PRB, DEM, Solidariedade, PTB, PPS e PSD.
'R?GUA MORAL'
Perguntada se causa algum constrangimento integrar o PP, a legenda com o maior n?mero de parlamentares investigados na opera??o Lava Jato, mesmo fazendo um discurso ?tico, a senadora negou que haja constrangimento e disse que os 'partidos n?o s?o formados por anjos', mas sim por pessoas, com suas fragilidades, virtudes e sobretudo defeitos.
'Partidos, no meu entendimento modesto, s?o como fam?lias. Fam?lias tamb?m t?m problemas, voc? tem uma fam?lia de quatro, cinco filhos, voc? tem dois, tr?s maravilhosos e um, ?s vezes, ? a ovelha negra', disse.
'O fato de o meu partido ter um grande n?mero de envolvidos na opera??o Lava Jato n?o tira a minha ?tica, a minha responsabilidade, que ? a mesma. A eles, a lei. Para eles e para o Lula, para eles e para Dilma, para eles e para o A?cio', afirmou, referindo-se aos ex-presidentes petistas e ao senador mineiro do PSDB. 'N?o tem nenhuma outra forma de tratar se n?o for essa', refor?ou ela, ao sublinhar que ? essa a sua 'r?gua moral'.
CONTRAPONTO
Escolhida para vice h? uma semana, a senadora disse que ainda n?o conversou com o Alckmin sobre a atua??o dela na campanha, se vai participar de eventos 'casados', em agenda com a presen?a de ambos, ou se cada um ter? uma agenda independente. Disse que at? sexta-feira deve se reunir com ele e o comando da campanha para definir a estrat?gia.
Ela negou ter sido escolhida para compor a chapa do tucano para fazer uma esp?cie de contraponto a Bolsonaro. Disse que sua indica??o decorre do fato de ser mulher, a defesa do agroneg?cio e ser da Regi?o Sul do pa?s.
Ana Am?lia atribuiu a boa inten??o de voto registrada por Bolsonaro no Rio Grande do Sul ? 'cren?a' de que o problema da seguran?a na ?rea rural e urbana ser? resolvida pelo candidato do PSL.
Questionada se seria uma 'cren?a vazia', a senadora respondeu: 'Tem que ter muita responsabilidade, o problema de seguran?a ? muito complexo. N?o ? simples na apar?ncia e tamb?m n?o pode ser mostrado ? popula??o uma sa?da que ? apenas uma quimera.'
A candidata a vice disse que n?o estava preocupada com Bolsonaro --a quem n?o citou pelo nome, referindo-se a ele apenas como 'candidato'-- ao ser escolhida para ajudar Alckmin a buscar voto do setor do agroneg?cio, que tem demonstrado simpatia pelo presidenci?vel do PSL.
Ana Am?lia defendeu regras mais brandas para que pessoas que moram no campo tenham direito ao porte de armas --na mesma linha que tem sido defendida por Bolsonaro e at? pelo pr?prio Alckmin. Ela citou como argumento para essa medida coment?rio feito pela atual procuradora-geral da Rep?blica, Raquel Dodge, em sabatina no Senado de que situa??es diferentes t?m sido tratada de forma igual.
POLARIZA??O
Na entrevista, a senadora disse que Alckmin, que vinha mostrando dificuldades para engrenar nas pesquisas de inten??o de voto, 'j? decolou'.
Para Ana Am?lia, o tucano vai chegar ao segundo turno e aposta que disputar? a etapa final da campanha contra o petista Fernando Haddad, que deve substituir Lula, ou Bolsonaro.
A candidata a vice afirmou que n?o tem 'dificuldade' para o tucano polarizar novamente com a centro-esquerda --numa esp?cie de reedi??o das quatro ?ltimas disputas presidenciais que tiveram candidatos do PT e PSDB no segundo turno.
Tamb?m afirmou que n?o teria 'dificuldade nenhuma' para concorrer contra Bolsonaro pelo fato de ele ser de direita.
Jornalista com 40 anos de carreira, Ana Am?lia afirmou que a forma de tratamento de Bolsonaro com a imprensa ? a mesma do presidente dos EUA, Donald Trump, naquele pa?s. Ela disse haver 'algum objetivo' de ele apostar no descr?dito dos meios de comunica??o e focar a atua??o nas redes sociais, que n?o t?m controle.
'? uma miss?o perigosa. A liberdade de imprensa e a liberdade de express?o s?o valores que n?s precisamos preservar a qualquer custo. H? quatro d?cadas tenho o dever moral de defender essa liberdade de forma intransigente', destacou, sem querer avaliar se essa estrat?gia rende votos.
'Falo do ponto de vista da responsabilidade. N?o acho que a censura ?s redes sociais possa contribuir, n?o ? por esse caminho. Voc? pode parecer uma coisa boa e a? esbarra, n?s tivemos aqui Venezuela, Equador, Argentina at? pouco tempo e isso ? uma coisa desastrosa para a democracia', disse.
'E isso eu digo, a extrema-esquerda e a extrema-direita, os dois p?los t?m um vi?s igual', avaliou.
(Reportagem adicional de Jake Spring)
Escrito por Redação
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