ENTREVISTA-Em reforço de combate ao crime, Moro prepara ações na fronteira

Por Ricardo Brito e Anthony Boadle

BRAS?LIA (Reuters) - O Minist?rio da Justi?a e Seguran?a P?blica, comandado por Sergio Moro, trabalha em tr?s grandes eixos de atua??o neste semestre para refor?ar o combate ? criminalidade: cria??o de centros integrados de opera??es de combate a crimes na fronteira do pa?s, os chamados 'Fusion Centers', lan?amento do 'Em Frente Brasil' e a aprova??o, pelo Congresso, do pacote anticrime.

Em entrevista ? Reuters, Moro apontou, com base em dados do governo e de institutos independentes, para uma redu??o da criminalidade no pa?s durante a sua gest?o e justificou isso pelo modo como se est? dando este combate.

'O crime organizado era combatido no Brasil, mas houve uma mudan?a de patamar que leva ao enfraquecimento dessas organiza??es', disse Moro nesta segunda-feira, em seu gabinete no minist?rio, destacando o fato de ter havido transfer?ncia de l?deres de fac??es criminosas de pres?dios estaduais para federais e um maior volume de apreens?o de drogas.

O projeto piloto dos 'Fusions Centers' ser? inaugurado em Foz do Igua?u (PR) ao custo de 40 milh?es de reais e tem por objetivo unificar o compartilhamento de informa??es referentes a investiga??es policiais e coordenar a??es de atua??o ostensiva na fronteira. Com uma equipe de 30 profissionais, o objetivo ? reprimir o contrabando de cigarros, armas e drogas, al?m de corrup??o e lavagem de dinheiro.

J? o 'Em Frente Brasil' vai ser um projeto de atua??o coordenada de seguran?a p?blica com a participa??o de atores em n?veis federal, estadual e municipal.

Cinco munic?pios das diferentes regi?es do pa?s dar?o in?cio ao projeto --Ananindeua (PA), Paulista (PE), Cariacica (ES), Goi?nia (GO) e S?o Jos? dos Pinhais (PR)--, que posteriormente dever? ser replicado para outras cidades.

Uma terceira frente do ministro ? trabalhar para ver aprovado o pacote anticrime, medida que, segundo Moro, vai ajudar no refor?o ao combate ao crime organizado.

Moro atua ainda para refor?ar a coopera??o internacional com outros pa?ses, como o Paraguai, principal produtor de maconha para consumo no Brasil.

VAZAMENTOS

H? dois meses, Moro ?o ex-juiz da Lava Jato tratado no in?cio do governo como um dos superministros de Bolsonaro? est? sob intensa press?o ap?s a publica??o de reportagens do site The Intercept Brasil revelar conversas por aplicativos de mensagens atribu?das a ele e a procuradores da opera??o em que o ent?o magistrado teria orientado a atua??o do Minist?rio P?blico Federal no caso.

O ministro foi questionado sobre se est? 'plenamente confort?vel' dentro do governo. Sem responder diretamente, Moro preferiu ressaltar que entrou no Executivo, ao abrir m?o de uma carreira de 22 anos de magistratura, com um compromisso assumido com Bolsonaro de aperfei?oar o combate ao crime.

Moro disse que h? uma viola??o criminosa de mensagens, que ele n?o reconhece a autenticidade, e avaliou n?o ter visto, do divulgado, ?nada de anormal?.

?O que existe ali ? um sensacionalismo exacerbado com o objetivo ali de anular condena??es criminais?, disse, ao emendar. ?Diria em geral anula??o de condena??es criminais e obstaculizar novas investiga??es e o do ex-presidente (Lula) ? um caso mais em foco?, completou.

Moro disse tamb?m que, apesar de questionado sobre cobran?as p?blicas feitas por parlamentares do chamado centr?o e da oposi??o, n?o v? qualquer motivo para ele se afastar temporariamente do cargo at? a conclus?o das investiga??es.

'N?o vejo nenhuma quest?o em rela??o a isso (pedir afastamento tempor?rio do cargo), esse caso pertence ao meu passado', disse. 'A Pol?cia Federal est? investigando um hackeamento criminoso com absoluta independ?ncia e autonomia', acrescentou.

Questionado sobre o envolvimento de pol?ticos no caso, o ministro disse que ? preciso esperar o resultado final.

'Minha avalia??o pessoal, vai depender das provas, pelo perfil dos envolvidos, sugere que seria um crime praticado para obten??o de ganhos financeiros, tem um perfil aparentemente de estelionat?rios e n?o militantes pol?ticos. Agora quem vai dar essas respostas ? a investiga??o', destacou.

PACOTE ANTICRIME

Moro defendeu que, passada a aprova??o da reforma da Previd?ncia na C?mara, o pacote anticrime --apresentado em fevereiro-- tramite na C?mara ao mesmo tempo em que se discute a reforma tribut?ria. Ele disse que a proposta pode refor?ar o combate ? criminalidade.

Ressalvou, no entanto, que a quest?o da tramita??o est? com o Congresso e que Bolsonaro j? se manifestou publicamente a favor do pacote.

'Tenho expectativa de que em breve possa ser votado o pacote anticrime. De fato, embora se possa avan?ar muito com medidas executivas contra o crime organizado, mudan?as legislativas s?o tamb?m importantes. A partir dessas mudan?as teremos novos instrumentais de enfrentamento ao crime organizado', afirmou.

ELEI??O PRESIDENCIAL

O ministro afirmou que n?o ? candidato a presidente em 2022 e destacou que o candidato do governo, se quiser, vai ser o presidente Jair Bolsonaro, que j? indicou publicamente interesse em mais quatro anos de mandato.

?N?o (sou); o candidato presidencial em 2022, acho muito prematuro n?s falarmos isso, mas o candidato do governo federal, se ele assim quiser, vai ser o presidente Jair Bolsonaro?, disse Moro.

?Eu particularmente n?o tenho um perfil pol?tico-partid?rio, me vejo mais como um t?cnico dentro do minist?rio com essa miss?o espec?fica?, acrescento.

Para o ministro, o apoio ?s medidas na ?rea de seguran?a p?blica do governo ? grande e, em rela??o ao nome dele, n?o houve ?um abalo de credibilidade? por conta dos vazamentos.

?N?o estou no governo para disputar concurso de popularidade ou para preocupar com minha imagem. Estou no governo para defender boas a??es?, destacou.