ENTREVISTA-Modelo político criado na Constituição está no ciclo final, diz FHC

Por Eduardo Sim?es e Daniel Flynn

S?O PAULO (Reuters) - O modelo pol?tico criado na Constitui??o de 1988 est? em seu ciclo final e a pol?tica brasileira n?o estar? mais polarizada entre PT e PSDB, com a entrada de mais atores no jogo, afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista ? Reuters.

Presidente de honra do PSDB que comandou o pa?s entre 1995 e 2002, Fernando Henrique tamb?m faz a avalia??o de que o pr?ximo presidente, a ser eleito em outubro, dever? mostrar lideran?a para fazer frente ? grande fragmenta??o partid?ria existente atualmente no pa?s que, segundo ele, n?o foi prevista durante a Constituinte de 30 anos atr?s.

'O sistema pol?tico que n?s montamos na Constitui??o de 1988 --e eu era constituinte-- est? no seu ciclo final. Houve um esgar?amento da estrutura partid?ria. Houve, al?m disso, uma crise econ?mica e al?m disso, esc?ndalos de corrup??o. Isso em conjunto levou a colocar em xeque aquilo que foi montado em 1988', disse o ex-presidente ? Reuters na ter?a-feira, durante o Brasil Risk Summit, realizado pela Thomson Reuters em S?o Paulo.

'N?s aqui (no Brasil) temos uma maioria descontente. Voc? tem que se dirigir a essa maioria descontente e tentar reergu?-la. Tem que de novo operar para alguma coisa que seja coletiva. Neste momento voc? n?o tem nada coletivo, cada um quer o seu. Isso ? perigoso se n?o houver quem diga: 'olha, temos um rumo, vamos por aqui.' Est? precisando disso.'

Ao mesmo tempo, o tucano reconheceu que a ret?rica em um tom elevado que tem sido adotado na campanha eleitoral 'pode atrapalhar' em um processo de pacifica??o do pa?s quando o pr?ximo presidente assumir em janeiro de 2019.

Ao comentar a ?ltima pesquisa do Datafolha, divulgada na segunda-feira, que apontou lideran?a de Jair Bolsonaro (PSL) e empate t?cnico entre quatro candidatos no segundo lugar, Fernando Henrique indicou que esta elei??o pode implicar numa mudan?a na pol?tica brasileira.

'? ineg?vel que tem um candidato, que ? o Bolsonaro, que conseguiu ter um n?mero razo?vel de apoiadores --entre 20 e 25 por cento, um quarto da popula??o. Os outros est?o divididos, a gente n?o sabe ainda o que vai acontecer', disse, acrescentando n?o ser poss?vel ainda sequer prever se o candidato do PSL estar? no segundo turno da disputa.

'O que significa isso? Que a pol?tica, que nos ?ltimos anos foi polarizada entre PT e PSDB, n?o vai estar mais', disse.

ALCKMIN

Fernando Henrique disse ver algumas das qualidades que considera necess?rias para o pr?ximo presidente no candidato de seu partido, o PSDB, ao Pal?cio do Planalto, Geraldo Alckmin.

'Primeiro ele ? uma pessoa simples. O Brasil precisa de gente simples, a corrup??o levou as pessoas a ter horror do poder. Segundo ele tem um olhar que fica olhando o or?amento, controla o gasto e sabe que isso ? importante. Terceiro ele tem uma tradi??o democr?tica, h? muitos anos. E quarto --que ? uma coisa importante tamb?m-- ? que ele ? uma personalidade tolerante', disse o ex-presidente.

'Se ele vai ser capaz de liderar, eu n?o sei. Depende da capacidade dele de juntar essas for?as. H? outros que t?m algumas dessas qualidades? Sim, mas com menos condi??es, digamos assim, talvez, n?o quero ser aqui sect?rio.'

Apesar de Alckmin ainda patinar nas pesquisas de inten??o de voto --aparece com 10 por cento da prefer?ncia no Datafolha e 9 por cento no Ibope--, Fernando Henrique acredita que o correligion?rio pode ser bem-sucedido em sua empreitada eleitoral.

O ex-presidente afirma que, em maio de 1994, ele chegou a dizer a ex-primeira-dama Ruth Cardoso, j? falecida, que acreditava que n?o conseguiria se eleger em outubro, baseado em seu desempenho nas pesquisas naquele momento, e lembra que acabou sendo eleito j? no primeiro turno naquele ano.

'Ganhei duas vezes no primeiro turno. ? claro que teve o Plano Real no meio, eu sei disso, mas na segunda vez n?o teve Plano Real', lembrou.

'H? possibilidade de mudar o voto. Neste momento, n?o se sabe quem ser?o os contendores. D? a impress?o que o Bolsonaro est? no segundo turno. Mas quem vai estar contra ele, n?o se sabe. O Geraldo Alckmin tem mais tempo de televis?o, tem alguma estrutura --que sempre ajuda a conduzir o voto. Vai depender da campanha mesmo.'