ESPECIAL-Ainda em posição de vice, Haddad entra no radar do mercado com chances de 2º turno
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Por Lisandra Paraguassu
BRAS?LIA (Reuters) - Prov?vel candidato do PT ? Presid?ncia, o ex-prefeito de S?o Paulo Fernando Haddad cresceu nas bolsas de apostas, j? ? visto pelo mercado financeiro como um dos nomes poss?veis no segundo turno das elei??es de 2018 e, apesar de carregar o peso do partido, tem conseguido acalmar, discretamente, os temores de investidores com um eventual governo petista.
Fontes do mercado ouvidas pela Reuters afirmam que, mesmo com diferen?as de vis?o econ?mica, a avalia??o de quem ouviu o ex-prefeito de S?o Paulo --hoje vice na chapa do ex-presidente Luiz In?cio Lula da Silva-- foi positiva.
'Quem teve contato com ele ficou bem impressionado. A avalia??o foi de que Haddad ? muito mais razo?vel que o PT, n?o tem bloqueio no di?logo', disse uma das fontes que participaram de encontros organizados para ouvi-lo.
Desde que foi confirmado na chapa como vice de Lula e seu mais prov?vel substituto com a poss?vel impugna??o da candidatura do ex-presidente, Haddad passou a ser procurado com mais insist?ncia por representantes de investidores, bancos e ag?ncia de risco, entre outros agentes do mercado.
At? agora, foram conversas com JP Morgan, Ita?, Morgan Stanley, USB, XP investimentos, Guide Investimentos, BTG Pactual. H? convites ainda para serem marcados com Credit Suisse, Genial Investimentos, BGC/HSBC, Banco Plural, Concordia e com a Febraban, a federa??o dos bancos, que chegou a ser marcado, mas n?o aconteceu.
A preocupa??o com o ex-prefeito e o que ele pensa come?ou a surgir com a vis?o do mercado de que Haddad pode estar no segundo turno das elei??es de 2018, possivelmente com o candidato do PSL, Jair Bolsonaro. Na bolsa de apostas dos investidores, seu nome cresceu nas ?ltimas semanas.
Na pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, quando Haddad aparece como candidato, ele soma 4 por cento das inten??es de voto. No entanto, o levantamento mostra que 31 por cento votariam com certeza em um candidato indicado por Lula.
Pesquisa XP, desta semana, sugere um pouco mais explicitamente o potencial do ex-prefeito. Quando Haddad aparece simplesmente como candidato do PT ele tem 6 por cento das inten??es de voto, numericamente em quinto lugar. Mas quando ele aparece como sendo o candidato apoiado por Lula ele salta para 13 por cento, numericamente em segundo lugar.
'Esse ? o cen?rio base, Haddad e Bolsonaro. Alckmin tem ca?do muito nas ?ltimas semanas', revelou uma das fontes.
Da? a necessidade de conhecer o petista e saber o que Haddad pensa. A Reuters ouviu cinco fontes que estiveram com o ex-prefeito em diferentes encontros. O diagn?stico ? o mesmo: bem preparado, com capacidade de di?logo, sem ideias estapaf?rdias e, se n?o ? pr?-mercado, n?o seria um inimigo do mercado. Mas, carrega consigo um PT que, hoje, ? mais radical e menos aberto ao di?logo.
'Haddad se mostrou bem mais aberto ao di?logo que a gente estava esperando. Passa imagem muito moderada que agrada mercado, mas tem o temor de sempre do PT. Mas dentro da possibilidade de vencer algu?m de esquerda, o nome dele ? o mais palat?vel. H? mais previsibilidade, ? poss?vel conversar', disse uma analista de mercado.
Um outro analista ouvido pela Reuters reafirmou a simpatia pela capacidade de di?logo do ex-prefeito e da inten??o de conversar com outras for?as pol?ticas, caso seja eleito.
Do outro lado, Haddad ainda deixa d?vidas sobre que caminhos poder? tomar. A maior delas ? se quem assumir? a Presid?ncia, em caso de uma vit?ria, ser? ele mesmo --independente e com um vi?s mais centrista-- ou o PT atual que, ao contr?rio do que assumiu com Lula em 2002, ? mais ? esquerda e menos dado a concess?es.
'A grande quest?o hoje ?: se ele ganhar vai ficar com essa agenda ou ele vai para voltar para o centro? Ser mais Haddad e menos Lula? O PT e o Lula de hoje n?o s?o mais os mesmos de 2002. Investidores do mundo inteiro me perguntam isso', disse uma das fontes.
Alinhado aos tucanos, o economista Samuel Pess?a conhece Haddad desde a escola e fizeram na mesma ?poca o mestrado em economia na Universidade de S?o Paulo. ? um dos nomes citados pelo ex-prefeito, com quem tem ?tima rela??o e afirma n?o ter d?vida da sua corre??o e acredita que 'ele ? diferente mesmo'.
'Vendo a trajet?ria dele no Minist?rio da Educa??o, na prefeitura, ele ? diferente mesmo. N?o acho que viria um PT 'bolivariano'. Ele fez, por exemplo, uma transi??o muito saud?vel na prefeitura. Fernando ? uma Pess?a do campo democr?tico', disse.
Pess?a afirma ainda que Haddad n?o ? um 'aventureiro', mas levanta as mesmas d?vida: Como o ex-prefeito vai lidar com o PT?
'O PT que est? a? ? muito amargurado, rancoroso, autorit?rio. Ele vai ter que conversar com os caras razo?veis do PT', afirmou.
Um dos pontos centrais do programa do PT, visando aumentar o cr?dito e barate?-lo, ? uma maneira de for?ar os bancos a diminu?rem o spread banc?rio -a diferen?a do custo da capta??o e a taxa cobrada pelos bancos ai consumidor final- aumentando o dinheiro dispon?vel na pra?a. A proposta petista prev? o aumento de impostos aos bancos que mantiverem o spread nas taxas atuais que, segundo o Banco Central.
A ideia ? defendida por Haddad, mas ? uma das que n?o caem bem aos ouvidos do mercado. ?Essa proposta de carga vari?vel ? uma bobagem. Carga vari?vel de tributo s? vai ? fazer aumentar o spread?, avaliou Pess?a.
INCERTEZA
Pess?a, no entanto, critica algumas declara??es de pessoas que t?m falado pela linha econ?mica do PT, como Marcio Pochmann, que participou da elabora??o do plano de governo do partido. O mesmo aparece em falas de representantes do mercado, que levantam d?vidas sobre quem seria a equipe econ?mica de Haddad.
'Pochmann fala uma l?ngua, Haddad fala outra. Isso gera uma incerteza. ? uma coisa que ele pode dirimir com tempo', disse uma das fontes. 'A conversa com ele ? muito melhor que com a institui??o PT', afirmou.
'Pode melhorar. Uma das d?vidas hoje ? quem vai ser o time dele', acrescentou outra fonte, lembrando que oficialmente Haddad ainda n?o ? o candidato do partido, mas apenas o vice de Lula.
Nos encontros, o ex-prefeito desconversa quando perguntado sobre nomes, mas tra?a o perfil que gostaria de ter em seu minist?rio: um quadro conhecido do mercado, com boas credenciais e um perfil pragm?tico, e afinado ao projeto petista.
Haddad ainda passa aos interlocutores a ideia clara de que tem compromisso com rigor fiscal e o pragmatismo econ?mico, mas com a preocupa??o social.
Para um dos interlocutores, ficou ainda o desgosto com o tamanho do Estado que o petista defende. Outros, no entanto, se preocupam mais com quest?es pontuais, como o j? anunciado teto de gastos ou o fato de a reforma da Previd?ncia n?o estar no programa de governo.
'A frase que mais me incomodou foi: 'Se eleito n?o devemos esperar uma mudan?a na trajet?ria da d?vida nos primeiros dois anos'', contou uma das fontes. O Brasil j? tem previsto um d?ficit prim?rio de 139 bilh?es de reais para 2019, sem previs?o imediata de redu??o.
HADDAD X BOLSONARO
Em uma eventual disputa de segundo turno com Bolsonaro, o mercado ainda aposta no ex-capit?o do Ex?rcito pelo fato dele j? ter apresentado sua 'equipe econ?mica', o economista liberal Paulo Guedes. H?, no entanto, crescentes d?vidas sobre a capacidade de governar de Bolsonaro e sua imprevisibilidade.
'A agenda do mercado ? liberal e essa ? a agenda que Bolsonaro promete fazer. A dificuldade ? imaginar a governabilidade depois. A capacidade dele de governar ? questionada', explicou outra fonte. 'Haddad ? o contr?rio: n?o apresentou propostas que o mercado quer ouvir, mas apresentou ?tima capacidade de di?logo, de articular um governo.'
Uma ?ltima fonte ouvida pela Reuters aponta n?o uma 'boa vontade', com o petista, mas reconhece que um segundo turno entre ele e Bolsonaro ir? dividir o mercado.
'Acredito que o mercado ainda apoia o Bolsonaro, mas vai ser bem mais dividido. Se fosse o Alckmin o mercado gostaria mais', comentou.
(Com reportagem adicional de Tatiana Bautzer, em S?o Paulo, e Marcela Ayres, em Bras?lia)
Escrito por Redação
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