ESPECIAL-Amizade com Trump não tira do caminho de Eduardo dificuldades no cargo de embaixador
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Por Lisandra Paraguassu
BRAS?LIA (Reuters) - A decis?o do presidente Jair Bolsonaro de indicar o filho Eduardo, deputado federal pelo PSL, para a embaixada brasileira em Washington preocupa embaixadores experientes, que veem na suposta rela??o pr?xima entre o parlamentar e a fam?lia Trump uma credencial nem de longe suficiente para exercer bem uma das fun??es mais complicadas da diplomacia brasileira, e algo que pode at? atrapalhar em alguns c?rculos e situa??es.
'Embaixador n?o liga diretamente para presidente, liga para pessoas que trabalham com o presidente', disse ? Reuters o embaixador Rubens Barbosa, que serviu durante seis anos em Washington, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e no primeiro ano de Luiz In?cio Lula da Silva.
Barbosa ressalta que a suposta rela??o entre Eduardo Bolsonaro e a fam?lia do presidente Donald Trump pode ser um trunfo para o filho do presidente, mas apenas isso n?o resolve toda a gama de interesses que o Brasil tem no pa?s.
'Para o embaixador ser efetivo precisa ter acesso e construir sua influ?ncia junto ao governo mas tamb?m junto ao Congresso, think tanks, organismos internacionais', argumentou Barbosa.
Desde 1966 o Brasil indica apenas diplomatas de carreira para a embaixada em Washington, nomes normalmente experientes. Em alguns casos, como o de S?rgio Amaral, indicado pelo governo Michel Temer que deixou o cargo em abril, aposentados.
O ?ltimo n?o diplomata foi Juracy Magalh?es, ex-governador da Bahia, indicado pelo primeiro presidente do regime militar, Humberto Castelo Branco. Esse hist?rico n?o ? por acaso.
'A principal tarefa do embaixador ? a defesa do interesse nacional. Como embaixador eu n?o falava o que eu queria, mas falava o que o Brasil precisava que eu falasse', disse Barbosa.
ELOGIOS E RISCOS
Na viagem do presidente aos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro, apesar de n?o ter fun??es oficiais na administra??o federal, ajudou a preparar a visita do pai. Durante o encontro com Donald Trump na Casa Branca, foi o ?nico a ficar no Sal?o Oval durante o encontro privado dos dois presidentes, a convite de Trump.
Recentemente, o presidente norte-americano, ao ser questionado pela imprensa brasileira sobre a possibilidade de Eduardo ser o embaixador brasileiro em Washington, disse que o deputado era um jovem 'excepcional'.
Os elogios de Trump s?o uma das justificativas de Bolsonaro para a indica??o do filho, sob a alega??o da sua proximidade com a Casa Branca.
Essa proximidade, no entanto, tem o lado inverso: a identifica??o de Eduardo com os Trump faz torcer o nariz o Partido Democrata, que hoje controla a C?mara dos Deputados, por onde passam diversos interesses brasileiros.
'O Partido Democrata n?o v? com bons olhos essa indica??o porque ela se v? revestida de um car?ter, digamos assim, muito pessoal. Sem falar que o futuro ? uma inc?gnita, voc? n?o sabe o que vem por a?', disse ? Reuters um experiente diplomata que j? ocupou o posto m?ximo da carreira em embaixadas importantes para o Brasil, lembrando que Trump ter? uma campanha de reelei??o no pr?ximo ano.
N?o foram poucas as vezes em que Jair Bolsonaro defendeu claramente a reelei??o do republicano --a quem recentemente chamou de seu '?dolo'--, o que aumenta a m? vontade do Partido Democrata, j? sem simpatia alguma pelo presidente brasileiro. No caso de uma derrota de Trump, a indica??o de Eduardo poderia dificultar, mais do que ajudar, as rela??es brasileiras.
Um outro experiente diplomata ouvido pela Reuters ressalta que o Congresso norte-americano ? quem, em geral, efetivamente manda na pol?tica comercial dos EUA e nem sempre segue aquilo que o presidente quer.
'A pol?tica comercial norte-americana ? resultado de um jogo de interesses absurdamente complexo', aponta.
Al?m dos riscos claros de uma dificuldade de relacionamento com outros grupos, a excessiva identifica??o da fam?lia Bolsonaro com o governo Trump gera o temor entre fontes ouvidas pela Reuters de uma pol?tica que acabe por ceder mais do que deveria a press?es norte-americanas.
INEXPERI?NCIA
Ao defender a indica??o do filho, o presidente destaca o fato de Eduardo ser o presidente da Comiss?o de Rela??es Exteriores da C?mara e falar ingl?s e espanhol. Desde a campanha, o deputado tem se dedicado ? ?rea internacional, fez contatos no exterior e virou amigo de Steve Bannon, o ex-assessor de Trump conhecido pelas posi??es de extrema-direita. Sua experi?ncia na diplomacia, no entanto, ? nula.
Formado em direito, escriv?o da Pol?cia Federal, deputado federal mais votado da hist?ria, Eduardo, aos 35 anos, completou a idade m?nima para ser embaixador no ?ltimo m?s de julho. No dia seguinte foi anunciado ao cargo pelo pai -- em mais uma gafe do atual governo, que revelou a indica??o antes mesmo que tivesse sido enviado o pedido de agr?ment, um documento diplom?tico que costuma ser classificado como ultrassecreto para n?o constranger o pa?s anfitri?o.
Ao defender sua pr?pria indica??o, Eduardo virou piada por ter contado, ao destacar sua experi?ncia internacional, que morou nos Estados Unidos e 'fritou hamb?rguer'.
Um tarimbado diplomata explica que a experi?ncia da carreira vai al?m da simples viv?ncia internacional.
'Chefes de posto t?m uma tripla tarefa: informar, representar e negociar. Diplomatas s?o treinados para isso, v?o aprendendo ao longo da carreira, e o fazem com alguma desenvoltura', disse ? Reuters essa fonte.
Rubens Barbosa lembra outro cuidado: mesmo a defesa dos interesses brasileiros precisa se feita com 'comedimento'.
'Se o embaixador falar essas coisas que tem muita repercuss?o pode ser ruim para o Brasil', destaca.
Parlamentar, Eduardo n?o ? exatamente conhecido pelo comedimento. Foi dele a declara??o de que para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) bastaria 'um soldado e um cabo'. J? defendeu mexer na Constitui??o para incluir a pena de morte para crimes hediondos e n?o abandona as postagens pol?micas nas redes sociais.
Por fim, um dos diplomatas ouvidos pela Reuters lembra que a fun??o pode n?o ser t?o divertida assim. Ressalta que a rela??o com os Estados Unidos ? estrat?gica para o Brasil, mas o Brasil est? muito longe na lista de prioridades norte-americanas.
'Em muitos lugares ? muito frustrante para o embaixador de um pa?s como o Brasil querer fazer coisas e simplesmente n?o ter a aten??o do pa?s ou dos dirigentes.'
Os Estados Unidos ainda n?o responderam o pedido de agr?ment para Eduardo, mas n?o h? d?vidas no Itamaraty de que ser? aceito. Enquanto isso, Bolsonaro trabalha para evitar uma derrota do filho no Senado, onde tem que passar por uma sabatina na Comiss?o de Rela??es Exteriores e pela aprova??o do plen?rio em vota??o secreta.
O Brasil est? sem embaixador em Washington desde a sa?da de Sergio Amaral, em abril.
Escrito por Redação
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