ESPECIAL-Energia solar 'bomba' no Brasil e atrai de gigantes chinesas a startups
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Por Luciano Costa
PORTO FELIZ (Reuters) - A paisagem dominada principalmente por campos verdes e planta??es de cana-de-a??car ? beira de uma rodovia em Porto Feliz, a cerca de 150 quil?metros do centro de S?o Paulo, ? interrompida repentinamente em certo ponto por um aglomerado de placas azuis de sil?cio voltadas para o sol.
Funciona ali uma pequena usina de energia solar cuja produ??o ? dividida por cerca de 40 clientes, que v?o desde resid?ncias at? estabelecimentos comerciais como padarias e academias --um modelo de neg?cios conhecido como gera??o distribu?da, que atrai cada vez mais empreendedores de todos os portes no Brasil e j? movimenta bilh?es de reais por ano.
A instala??o desses sistemas de energia renov?vel, em terrenos ou telhados de casas e edif?cios, deve atrair investimentos de 16 bilh?es de reais neste ano, quase tr?s vezes mais que em 2019, movimentando um mercado fortemente aquecido que envolve desde importa??es de equipamentos da China e f?bricas locais at? grandes el?tricas e fundos, al?m de um amplo universo de empresas menores.
A gigante chinesa BYD, por exemplo, que produz desde carros el?tricos at? baterias para celulares, decidiu dobrar as atividades em suas instala??es em Campinas, a pouco mais de uma hora de carro da pequena usina em Porto Feliz, para suprir parte da enorme demanda por m?dulos fotovoltaicos para empreendimentos de gera??o distribu?da no Brasil.
'Vamos estar das 6h da manh? at? 1h da madrugada do outro dia, praticamente 20 horas por dia de produ??o, para poder entregar pain?is solares para um mercado que vem crescendo... a gente acredita que 2020 vai ser o ano da energia solar fotovoltaica no Brasil', disse ? Reuters o diretor de Marketing e Sustentabilidade da empresa, Adalberto Maluf.
Somente neste ano, as novas instala??es da tecnologia, conhecida pela sigla 'GD', devem agregar cerca de 3,4 gigawatts em capacidade no Brasil, somando ao fim de 2020 cerca de 5,4 GW, segundo a Associa??o Brasileira de Energia Solar (Absolar), o que far? dela a fonte com maior crescimento no pa?s no ano, ? frente das tradicionais hidrel?tricas e dos parques e?licos.
Consumidores, de outro lado, s?o atra?dos n?o somente pelo retorno oferecido, mas pelo conceito da energia renov?vel, que tem crescido a taxas muito mais altas no exterior. Com um gasto de 12 mil a 20 mil reais, ? poss?vel ter um sistema residencial de gera??o distribu?da que pode durar um quarto de s?culo, enquanto o investimento se paga em aproximadamente quatro anos.
O potencial do Brasil, um pa?s de dimens?es continentais e clima amplamente favor?vel ? gera??o solar, atrai assim a aten??o de gigantes globais.
Al?m da BYD e da canadense Canadian Solar, que importam pain?is prontos e trazem insumos da China para montagem local em f?bricas no Estado de S?o Paulo, as chinesas Risen, Trina, Jinko, JA Solar, DAH Solar e Yingli brigam por participa??o no mercado brasileiro com equipamentos importados.
De outro lado, os neg?cios atraem desde companhias multinacionais e locais do setor el?trico com atua??o no Brasil at? pequenas empresas e startups. A Associa??o Brasileira de Gera??o Distribu?da (ABGD) estima que mais de 17 mil empresas j? atuam no segmento, incluindo fabricantes, distribuidores e instaladores.
'Como ? um mercado novo e que est? chamando muito a aten??o, existem muitos novos entrantes, at? empresas que j? faziam instala??es el?tricas industriais, por exemplo, e agora instalam pain?is solares', disse o presidente da ABGD, Carlos Evangelista.
'O crescimento no Brasil parece grande, mas n?o chega nem perto do que est? acontecendo na China, nos EUA, na Austr?lia, que j? superaram 2 milh?es de instala??es', disse o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia. O Brasil tem atualmente 189 mil sistemas de GD.
'ENERTECHS'
Grandes el?tricas que atuam em gera??o e distribui??o no Brasil entraram na onda da GD. A francesa Engie, por exemplo, comprou a local Arax? Solar, enquanto a CPFL, da chinesa State Grid, e a portuguesa EDP criaram unidades para atuar no mercado, a Envo e a EDP Smart. A italiana Enel atua na ?rea com a controlada Enel X.
Mas a tecnologia, ao exigir investimentos bem menores que grandes projetos hidrel?tricos e e?licos, tamb?m abriu caminho para uma s?rie de empreendedores de menor porte --como a Sun Mobi, dona da pequena usina solar em Porto Feliz.
'A Sun Mobi ? o que a gente chama de 'enertech', uma startup de energia solar que possui usinas solares. Meus clientes passam a ter direito a uma parcela, uma porcentagem da gera??o da usina todo m?s. Isso, na nossa percep??o, vira um produto de assinatura', explicou um dos s?cios da empresa, Alexandre Bueno.
'As pessoas t?m interesse em energia solar n?o s? porque ela ? mais barata, (mas) porque traz uma proposta de valor diferente, traz uma independ?ncia. Por isso esse ? um mercado que bomba. Ele bomba porque economicamente faz sentido e ele bomba tamb?m porque as pessoas querem (ter energia renov?vel).'
A usina da Sun Mobi tem 1 megawatt em capacidade --uma fra??o da pot?ncia de grandes hidrel?tricas, como Belo Monte e seus 11 mil megawatts. A empresa investiu 4 milh?es de reais no projeto, com financiamento da ag?ncia paulista de fomento Desenvolve SP, e agora busca captar recursos com investidores para uma expans?o da planta.
POL?MICA PRESIDENCIAL
Em meio ao forte crescimento da GD, a Ag?ncia Nacional de Energia El?trica (Aneel) prop?s cortar alegados subs?dios concedidos para quem adota a tecnologia, temendo aumento de custos para os consumidores de energia em geral.
A iniciativa gerou revolta entre investidores do setor, e em novembro passado centenas de representantes da ind?stria compareceram a uma reuni?o do regulador Aneel para discutir a poss?vel mudan?a de regras usando capacetes amarelos, em protesto.
O movimento acabou ganhando apoio do presidente Jair Bolsonaro, que criticou duramente a ag?ncia por 'querer taxar o sol'. Em meio ? pol?mica, um projeto de marco legal para a gera??o distribu?da prev? manter os incentivos ? tecnologia, apenas com uma redu??o gradual e bem menos acentuada que a proposta pela Aneel.
Para muitos empreendedores do ramo, como o s?cio da distribuidora de equipamentos Renovigi, Alcione Belache, a proposta da Aneel iria inevitavelmente reduzir o ritmo de crescimento da GD e levar ao fechamento de muitos neg?cios.
'Essa proposta sendo aprovada, haveria uma redu??o da quantidade de integradores, da quantidade de empresas atuando nesse mercado, com certeza', afirmou o executivo, que contratou o cantor sertanejo Michel Tel? como 'embaixador da marca' para promover sua empresa em meio ? cada vez mais acirrada concorr?ncia no setor.
O embate sobre o futuro da gera??o distribu?da, no entanto, n?o terminou --o projeto de regula??o para o segmento, do deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), ainda precisa ser deliberado pelo Congresso, enquanto alguns seguem defendendo o corte dos incentivos.
Nos c?lculos da Aneel, a mudan?a proposta para as regras atuais de GD evitaria custos estimados em 55 bilh?es de reais at? 2035 para consumidores que n?o usam a tecnologia.
Atualmente, os adeptos desses sistemas de gera??o podem abater toda a produ??o pr?pria de energia da conta de luz. Pela proposta da Aneel, taxas pelo uso da rede el?trica e encargos passariam a ser descontados desses cr?ditos. A ag?ncia alega que os custos n?o pagos por quem ? suprido por pain?is solares acabam cobertos pelos demais consumidores.
A Secretaria de Avalia??o de Pol?ticas P?blicas (Secap) do Minist?rio da Economia apoiou a vis?o da ag?ncia reguladora --em estudo, defendeu que as regras atuais geram 'distor??es' e representam 'subs?dio regressivo', ao impactar as contas de luz de fam?lias mais pobres, enquanto o investimento nesses sistemas ? geralmente restrito a consumidores de alta renda.
CORONAV?RUS
A concentra??o de f?bricas do setor solar na China, no entanto, acende um sinal de alerta para a ind?stria de gera??o distribu?da do Brasil, devido ? recente dissemina??o de um novo coronav?rus no pa?s oriental.
Para tentar conter a epidemia, os chineses prorrogaram o feriado de Ano Novo Lunar, em janeiro, e empresas em regi?es mais atingidas ainda n?o retomaram totalmente as atividades, o que afeta desde f?bricas de pain?is fotovoltaicos a produtores de insumos dos equipamentos.
Por enquanto, os impactos ainda n?o t?m sido sentidos no mercado brasileiro porque muitos distribuidores locais dos equipamentos costumam acumular estoques nessa ?poca devido ao Ano Novo Lunar, disse uma fonte do setor que falou sob anonimato.
Mas o gerente-geral da Canadian Solar para Am?rica Latina, Hugo Albuquerque, disse ? Reuters que a situa??o pode mudar mais ? frente, uma vez que entregas chinesas no pa?s s? devem come?ar a se regularizar em meados de abril, mesmo per?odo em que os estoques de muitos fabricantes e distribuidores estar?o chegando ao fim.
'O m?s de abril e o come?o de maio ser?o fortemente impactados pelo coronav?rus, porque a produ??o n?o ser? suficiente para a demanda que existe no Brasil nesses meses', afirmou.
Ele tem sugerido a clientes que antecipem as compras de m?dulos para evitar atrasos.
'Quem ainda n?o fez os pedidos para o segundo trimestre, que o fa?a urgentemente, pois em maio e junho, apesar de termos muitos m?dulos chegando ao Brasil, a demanda estar? aquecida em virtude da falta de m?dulos em abril e in?cio de maio. Infelizmente todos os fabricantes ser?o afetados!', alertou o executivo em nota enviada a clientes e vista pela Reuters.
Escrito por Reuters
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