ESPECIAL-Rivais projetam desempenho melhor diante de incerteza sobre transferência de voto de Lula no Nordeste
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Por Eduardo Sim?es
S?O PAULO (Reuters) - A prov?vel inelegibilidade do ex-presidente Luiz In?cio Lula da Silva e a incerteza sobre a capacidade do ex-prefeito de S?o Paulo Fernando Haddad de absorver o voto lulista t?m levado rivais a sonharem com um desempenho acima do inicialmente esperado na Regi?o Nordeste.
Lula ? considerado at? mesmo por advers?rios imbat?vel na regi?o, que deu ao PT vit?rias expressivas em todas as elei??es presidenciais desde 2002, mas sua prov?vel aus?ncia da disputa e o fato de n?o fazer campanha por estar preso desde abril, somado ao desconhecimento de Haddad no Nordeste, colocam um fator de incerteza no resultado eleitoral deste ano sem, entretanto, abalar o favoritismo petista.
'A gente tem o desafio de ter um desempenho superior ao da elei??o passada. N?o ? uma coisa imposs?vel', disse ? Reuters o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalh?es Neto (DEM), coordenador da campanha do candidato do PSDB ao Pal?cio do Planalto, Geraldo Alckmin.
Em 2014, A?cio Neves (PSDB) obteve 15,4 por cento dos votos v?lidos na regi?o no primeiro turno. J? no segundo turno, o tucano ficou com 28,3 por cento dos votos v?lidos no Nordeste, enquanto a petista Dilma Rousseff se reelegeu depois de conquistar 71,7 por cento dos votos nordestinos.
'Se Lula fosse candidato, fatalmente seria mais dif?cil. Haddad ? um ilustre desconhecido na regi?o. Se soltar ele na rua na Bahia, ningu?m sabe quem ?', acrescentou.
Embora ACM Neto tenha reconhecido que a campanha de Alckmin n?o tem um foco espec?fico no Nordeste, o tucano iniciou sua pr?-campanha em junho com visitas ?s duas maiores festas de S?o Jo?o: Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Para?ba, duas cidades comandadas por prefeitos tucanos.
A campanha de Alckmin, disse ACM Neto, tamb?m elabora propostas espec?ficas para o Nordeste e o pr?prio candidato, que na semana passada foi a Petrolina (PE) fazer evento de campanha e gravar programa eleitoral, tem afirmado que, se eleito, priorizar? investimentos p?blicos na regi?o. Nesta sexta e no s?bado o tucano tem agenda no Cear?.
Alckmin ainda patina nas pesquisas, especialmente no Nordeste. De acordo com levantamento do Datafolha, nacionalmente o tucano tem 9 por cento das inten??es de voto no cen?rio sem Lula e, nesta mesma hip?tese, soma apenas 5 por cento no Nordeste. Ele aposta na campanha no r?dio e na TV, onde ter? o maior tempo de exposi??o para crescer.
Uma lideran?a tucana nordestina, que falou sob condi??o de anonimato, no entanto, avalia que Alckmin deveria deixar o Nordeste de lado neste momento e se concentrar em garantir a vit?ria 'em casa', nas Regi?es Sul e Sudeste, especialmente, em S?o Paulo, onde as pesquisas o colocam numericamente atr?s de Jair Bolsonaro, do PSL, ainda que em empate t?cnico.
'Alckmin tem que fazer o dever de casa em S?o Paulo. Em 2014, quem derrotou o A?cio n?o foi o Nordeste brasileiro, foi Minas', disse essa fonte, lembrando da derrota do ent?o candidato tucano em seu Estado natal.
'Acho que o Nordeste ele tem que cuidar no segundo turno, se ele chegar l?, se Deus quiser.'
BENEFICI?RIOS DA AUS?NCIA
Maiores herdeiros do esp?lio eleitoral de Lula, a candidata da Rede, Marina Silva, e o postulante do PDT, Ciro Gomes, dobram de inten??o de voto no cen?rio sem o ex-presidente em compara??o com a hip?tese em que Lula seria candidato, segundo o Datafolha.
No Nordeste, o crescimento ? ainda maior: Marina quase multiplica por quatro sua inten??o de voto quando Lula sai da equa??o, e Ciro se aproxima de triplicar a prefer?ncia.
Bolsonaro, por sua vez, tem varia??o dentro da margem de erro quando o nome de Lula ? retirado, tanto nacionalmente como no recorte apenas pelo Nordeste.
Sem o ex-presidente, Marina lidera no Nordeste, de acordo com o Datafolha, e Ciro fica numericamente empatado na vice-lideran?a com Bolsonaro.
Ciro tem o trunfo de ser da regi?o --foi prefeito de Fortaleza e governador do Cear?-- e, de acordo com o presidente do PDT, Carlos Lupi, a ida de votos de Lula para o pedetista seria 'natural', j? que aposta que Haddad ter? dificuldades em herdar esse capital pol?tico.
'Se a gente tem mem?ria, precisa lembrar que o Lula lan?ou a Dilma logo depois de ser reeleito. Ela era a toda-poderosa, chefe da Casa Civil, m?e do PAC', disse Lupi ? Reuters.
'Isso ? uma coisa. Outra coisa ? sem os 44 mil cargos de confian?a do governo, sem os 80 por cento de aprova??o que tinha o Lula --ainda ? alto, mas n?o ? mais tanto. E isso em 45 dias de campanha', afirmou, acrescentando que, nas pr?ximas semanas, Ciro dever? visitar cinco Estados nordestinos e, at? o primeiro turno, ter? ido aos nove Estados da regi?o.
Marina, por sua vez, tem buscado aliar sua tradicional agenda ambiental com um discurso voltado para o desenvolvimento econ?mico nordestino. Ela pretende, por exemplo, investir no potencial regional para energia solar e e?lica e afirma que o Nordeste, assim como o Norte, de seu Acre natal, ser?o prioridades caso ven?a as elei??es.
'O Norte e o Nordeste n?o s?o problema, s?o solu??es', disse Marina a jornalistas ap?s participar de sabatina em S?o Paulo nesta semana.
'E no Nordeste tem espa?o tamb?m para a agricultura, tanto de grande, quanto de pequeno, para a inova??o tecnol?gica, para a ind?stria. O Norte e o Nordeste ser?o prioridade, sim, porque s?o regi?es importantes do nosso pa?s', acrescentou a candidata da Rede, que prometeu ainda aux?lio do governo federal aos Estados nordestinos que sofrem com a criminalidade.
Para o cientista pol?tico Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que aposta em taxa de transfer?ncia 'alt?ssima' de Lula para Haddad, Marina e Ciro dever?o sofrer com a pouca estrutura de campanha.
'Nas capitais (do Nordeste) Bolsonaro ? mais forte, mas ele tamb?m tende a sumir, porque tem pouco tempo de TV, vai sumir dos debates', afirmou.
O especialista aposta em um segundo turno entre o candidato ungido por Lula, de um lado, e Alckmin, de outro, e v? o desempenho de Bolsonaro no primeiro turno no Nordeste como um fator importante para uma eventual vit?ria tucana na segunda rodada de vota??o.
'Se Bolsonaro tiver uma boa vota??o no primeiro turno (no Nordeste), esses votos v?o para Alckmin no segundo turno. A? isso pode garantir a vit?ria dele. Mas hoje eu acho que segundo turno est? zero a zero. Tem que esperar um pouco', disse.
(Edi??o de Maria Pia Palermo e Alexandre Caverni)
Escrito por Redação
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