EUA não mencionam Brasil em carta a OCDE, mas reafirmam depois apoio a esforço do Brasil para adesão

Por Marcela Ayres

BRAS?LIA (Reuters) - Os Estados Unidos n?o mencionaram apoio ao ingresso do Brasil em carta enviada ? Organiza??o para Coopera??o e Desenvolvimento Econ?mico (OCDE) no fim de agosto em que manifestaram respaldo ?s candidaturas da Argentina e da Rom?nia, mas reafirmaram mais tarde nesta quinta-feira o suporte ao esfor?o do Brasil para aderir ? entidade.

Em maio, o governo de Donald Trump anunciou apoio oficial ? investida brasileira, ap?s promessa nesse sentido feita pelo presidente norte-americano por ocasi?o de visita de Jair Bolsonaro aos EUA.[[nL2N22Z16B][nL1N2161L8]

Ap?s o mal-estar causado pela not?cia da carta norte-americana ? OCDE, no in?cio da noite o secret?rio de Estado dos EUA, Mike Pompeo, reafirmou o apoio ? aspira??o brasileira.

'Somos apoiadores entusiasmados da entrada do Brasil nesta importante institui??o, e os EUA far?o um grande esfor?o para apoiar a ades?o do Brasil', disse Pompeo em comunicado.

Mais cedo, a Embaixada dos Estados Unidos em Bras?lia publicou nota intitulada 'EUA mant?m apoio ? OCDE' em que afirma que o pa?s mant?m os termos da declara??o conjunta de Trump e Jair Bolsonaro, de 19 de mar?o, que 'afirmou claramente o apoio ao Brasil para iniciar o processo para se tornar um membro pleno da OCDE'.

'Apoiamos a expans?o da OCDE a um ritmo controlado que leve em conta a necessidade de pressionar as reformas de governan?a e o planejamento de sucess?o. Continuaremos a trabalhar com outros membros da OCDE para encontrar um caminho para a expans?o da institui??o', afirmou a nota, acrescentando que todos os 36 membros da organiza??o precisam concordar com o calend?rio e ordem dos convites para iniciar processo de ades?o.

? noite, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o pa?s segue confiante na ades?o ? OCDE.

'Estamos praticamente chegando l?, mas dois pa?ses estavam na nossa frente, Argentina e Rom?nia', disse o presidente, justificando o recuo norte-americano. 'O Brasil, vai chegar sua hora.'

Outras autoridades do governo tamb?m reagiram ? not?cia, argumentando que a posi??o dos EUA n?o havia mudado.

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que se reuniu nesta quinta-feira com o secret?rio-geral adjunto da OCDE, Ludger Schuknecht, em S?o Paulo, 'na continuidade das nossas tratativas para que o Brasil possa caminhar em dire??o ? ascens?o da OCDE'.

O Itamaraty afirmou que 'os EUA continuam apoiando plenamente o ingresso do Brasil na OCDE' e que o governo brasileiro n?o v? 'problema algum' no in?cio do processo de ades?o da Argentina e da Rom?nia.

EUROPA

Mais cedo, uma fonte ouvida pela Reuters avaliou que a carta n?o rejeitava o endosso ao pedido brasileiro e se inseria em um xadrez pol?tico maior, que inclui a oposi??o dos EUA ? gest?o de Angel Gurr?a, secret?rio-geral da OCDE.

O governo dos Estados Unidos n?o compartilha a vis?o de Gurr?a para as regras da organiza??o, pela avalia??o de que os rumos pretendidos preconizam uma influ?ncia excessiva da Europa sobre a OCDE, sendo que norte-americanos e europeus j? divergem em rela??o a uma s?rie de padr?es, ligados por exemplo ? tecnologia, regula??o e meio-ambiente.

De acordo com uma das fontes, enquanto os EUA miram a sucess?o de Gurr?a --que dever? ocorrer em 2020--, a perspectiva ? que n?o ir?o se manifestar formalmente sobre qualquer mudan?a mais no desenho para ades?o de novos membros.

'A rusga dos dois principais polos de poder (na OCDE) --polo americano e polo europeu-- provavelmente s? vai se resolver com a pr?pria sucess?o do Gurr?a no ano que vem', disse a fonte.

Argentina e Rom?nia requerem participa??o no que ? considerado o clube dos pa?ses ricos, assim como Brasil e Bulg?ria. Com o ingresso de mais dois pa?ses europeus no grupo, norte-americanos avaliam que uma OCDE mais 'europeizada' poderia ser uma barreira aos seus interesses.

O timing da carta, de acordo com a primeira fonte, tamb?m tem refer?ncia ao resultado das elei??es prim?rias na Argentina.

No in?cio de agosto, o mercado argentino sofreu forte abalo na esteira da esmagadora vit?ria do candidato de oposi??o Alberto Fern?ndez nas elei??es prim?rias, afetando severamente as chances de reelei??o do presidente Mauricio Macri.

Fern?ndez tem a ex-presidente Cristina Kirchner como sua companheira de chapa, enquanto Macri ? defensor do livre mercado e ? visto como aliado dos EUA.

Na carta, os americanos teriam favorecido o crit?rio de cronologia, dando apoio aos argentinos, que come?aram o processo de ades?o primeiro e que j? tinham respaldo de Trump h? mais tempo. O momento de envio tamb?m teria sido uma forma de sinalizar apoio ao governo Macri, segundo a fonte. As elei??es na Argentina ocorrem no fim deste m?s.

A solicita??o formal do Brasil para se juntar ? OCDE foi feita em maio de 2017, representando um esfor?o para fortalecer os la?os com as na??es desenvolvidas do Ocidente, depois que governos anteriores priorizaram as rela??es com pa?ses em desenvolvimento.

A OCDE aconselha seus membros, na sua maioria pa?ses ricos, e ? considerada uma influenciadora-chave na arquitetura econ?mica mundial. Dentre os emergentes que fazem parte do grupo, est?o pa?ses como Turquia, M?xico e Chile.

(Com reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Bras?lia, e Eric Beech, em Washington)