Ex-chefe da Anvisa alerta para riscos de cloroquina contra Covid-19; diz que protocolo é 'barbaridade'
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Por Eduardo Sim?es
S?O PAULO (Reuters) - O novo protocolo do Minist?rio da Sa?de para uso do medicamento cloroquina nos est?gios iniciais da Covid-19 ? uma 'barbaridade', na avalia??o do ex-presidente da Ag?ncia Nacional de Vigil?ncia Sanit?ria (Anvisa) Gonzalo Vecina Neto, que aponta ainda que a ado??o do medicamento pode provocar mais mortes do que evitar, devido aos graves efeitos colaterais.
Segundo Vecina, que ? m?dico sanitarista e professor da Faculdade de Sa?de P?blica da Universidade de S?o Paulo (USP), n?o h? comprova??o cient?fica da efic?cia da cloroquina contra o coronav?rus e ? 'inacredit?vel que em pleno S?culo 21 a gente esteja vivendo de magia'.
'? inacredit?vel. N?o tem evid?ncia cient?fica. ? a opini?o de um capit?o que consegue convencer um general a fazer', disse Vecina Neto ? Reuters, referindo-se ? patente com a qual Bolsonaro deixou o Ex?rcito para em seguida entrar na pol?tica e ao fato de o general Eduardo Pazuello ocupar no momento de forma interina o Minist?rio da Sa?de.
Para Vecina Neto, o protocolo, que atende a desejo pessoal do presidente Jair Bolsonaro, ? uma tentativa do governo federal apontar um medicamento que cure a Covid-19, doen?a respirat?ria causada pelo novo coronav?rus, j? que Bolsonaro ? contr?rio ao isolamento social, preconizado por autoridades de sa?de de todo o mundo para frear a propaga??o do v?rus.
O texto divulgado nesta quarta pelo Minist?rio da Sa?de, que n?o foi assinado por nenhum m?dico, lista a dosagem para o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina, associado ao antibi?tico azitromicina, no caso de sintomas leves em duas fases da doen?a, do 1? ao 5? dias e do 6? ao 14? dias, e tamb?m para casos moderados.
Vecina Neto, que comandou a Anvisa --?rg?o respons?vel pela regulamenta??o de medicamentos no pa?s-- entre 1999 e 2003, lembrou que a cloroquina possui efeitos colaterais s?rios e que, assim como a hidroxicloroquina, outro rem?dio usado no tratamento de mal?ria e doen?as autoimunes, j? foram testadas para determinar sua efici?ncia contra a Covid-19 sem que fosse comprovada.
'Ela mata cardiopata. N?o existe evid?ncia e n?s sabemos os efeitos colaterais', disse o ex-diretor da Anvisa, que ? professor da Faculdade de Sa?de P?blica da USP, ao apontar o principal entre v?rios efeitos colaterais da cloroquina.
'J? foram muito estudadas (cloroquina e hidroxicloroquina) e n?o se conseguiu concluir que elas mudam o rumo da doen?a', apontou ele, prevendo ainda que o uso do medicamento pode gerar um aumento na quantidade de mortes em vez de uma redu??o.
Ao comentar o novo protocolo do Minist?rio da Sa?de mais cedo nesta quarta, Bolsonaro reconheceu que n?o existem evid?ncias cient?ficas da efic?cia da cloroquina contra a Covid-19, mas escreveu em sua conta no Twitter: 'Contudo, estamos em guerra: 'Pior do que ser derrotado ? a vergonha de n?o ter lutado.''
Em informe a Sociedade Brasileira de Infectologia afirmou que os estudos cl?nicos com a cloroquina ou a hidroxicloroquina, associados ou n?o ? azitromicina, 'permitem concluir que tais medicamentos, at? o presente momento, n?o mostraram efic?cia no tratamento farmacol?gico de Covid-19 e n?o devem ser recomendados de rotina'.
A entidade recomendou que o uso dos dois medicamentos no tratamento da Covid-19 seja feito prioritariamente em estudos cl?nicos, mas afirmou que, se quiser, o m?dico pode receit?-los 'sendo recomendado que compartilhe com o paciente a falta da
evid?ncia cient?fica de sua efic?cia ? luz dos conhecimentos atuais e seu potencial risco de dano, principalmente card?aco, e com a assinatura de um termo de consentimento'.
Em mar?o, a Anvisa disse que n?o havia estudos comprovando a efic?cia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento e preven??o da Covid-19 e que, portanto, n?o recomendava o uso do medicamento para esses fins. Essa mesma posi??o foi reiterada nesta quarta-feira pela Organiza??o Mundial da Sa?de (OMS).
Escrito por Reuters
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