Ex-presidente do Paraguai Cartes é alvo de mandado de prisão na Lava Jato
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Por Pedro Fonseca e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O juiz federal Marcelo Bretas, respons?vel pelas a??es decorrentes da opera??o Lava Jato no Rio de Janeiro, decretou nesta ter?a-feira a pris?o do ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes no ?mbito de investiga??o que envolve um grande doleiro brasileiro, e pediu a colabora??o da Interpol para o cumprimento da decis?o.
O ex-presidente paraguaio teria ajudado o doleiro Dario Messer, conhecido como 'doleiro dos doleiros', a se manter foragido no Paraguai antes de ser preso em julho deste ano em S?o Paulo, e h? suspeitas de que ambos seriam s?cios no pa?s vizinho, de acordo com os investigadores da Lava Jato.
O pedido de pris?o faz parte da opera??o Patr?n, uma nova fase das investiga??es da Lava Jato do Rio de Janeiro contra doleiros utilizados no esquema de corrup??o e propina do ex-governador S?rgio Cabral, que est? preso desde 2017 e j? foi condenado a penas que somam mais de 200 anos de reclus?o.
O mandado contra Cartes, que foi presidente do Paraguai de 2013 a 2018, se encontra na difus?o vermelha da Interpol, o que significa que tamb?m pode ser preso em outros pa?ses que n?o o Brasil.
?Tem pa?ses que fazem pris?o imediata, mas pa?ses como o Paraguai t?m que chegar o pedido de extradi??o do pa?s solicitante e o Estado local analisa o pedido para tomar a decis?o?, disse a jornalistas o delegado da PF Tacio Muzzi, superintendente em exerc?cio da PF no Rio de Janeiro.
'A extradi??o de Cartes depende de um s?rie de vari?veis, n?o ? simples e autom?tico, mas Brasil e Paraguai t?m acordos bilaterais e o Paraguai extradita nacionais?, complementou.
Segundo as investiga??es da PF e do MPF, Messer e Cartes tinham uma liga??o pr?xima e mantinham contato com relativa frequ?ncia, especialmente quando o doleiro brasileiro esteve foragido no Paraguai quando Cartes ainda era presidente.
Messer, que estava foragido desde 2018, ? considerado um protagonista na movimenta??o de recursos ilegais desviados pelo grupo de Cabral.
Os investigadores encontraram um carta em que Messer pedia, em tom de quase exig?ncia, de acordo com MPF, uma ajuda financeira de 500 mil d?lares para se manter foragido no Paraguai.
?O presidente paraguaio auxiliou e apoiou o Messer com 500 mil d?lares, e essa n?o ? uma postura que se deve esperar de um presidente diante de um foragido. Isso por si j? configura crime?, disse o procurador do MPF Jos? Augusto Vagos.
O MPF disse que a rela??o entre eles era t?o pr?xima que Messer chamava o ex-presidente paraguaio de patr?o ou chefe, enquanto Cartes se referia a Messer como irm?o de alma. As investiga??es apontam ainda que o doleiro e o ex-mandat?rio teriam neg?cios juntos no Paraguai, onde Messer tem 100 milh?es de d?lares bloqueados, segundo os investigadores.
?Numa conversa o presidente pede a Messer para se entregar ap?s agosto de 2018, quando ele deixaria o cargo. Temos esses di?logos, estavam lado a lado no crime. Em outro di?logo Cartes pede para que eles se comunicassem em outro meio de comunica??o?, disse Vagos.
Segundo o Minist?rio P?blico, o ent?o ministro do Interior paraguaio Juan Villamayor, atual chefe de gabinete do presidente Mario Abdo, teria inclusive solicitado a Messer uma propina de 2 milh?es de d?lares para evitar a extradi??o dele.
Os procuradores n?o esclareceram se o dinheiro chegou a ser pago, at? porque Messer deixou o Paraguai no fim do ano passado e se escondeu em S?o Paulo, onde foi preso este ano. A Justi?a n?o pediu a pris?o do ex-ministro na opera??o desta ter?a-feira.
Em declara??o a jornalistas, Villamayor admitiu ter recebido uma advogada representante de Messer, mas disse que o encontro foi para iniciar o processo de entrega dele ?s autoridades paraguaias -- o que acabou n?o ocorrendo.
'Estou ? disposi??o tanto da procuradoria paraguaia como da brasileira. Se tivesse tido alguma participa??o, teriam me colocado como procurado. ? simples demais', disse Villamayor ? emissora Cardinal.
R$20 MI OCULTOS
O MPF entende que a pris?o de Cartes ? necess?ria por conta da periculosidade, influ?ncia e rela??o com Messer, que poderia afetar o andamento das investiga??es, disseram os procuradores.
'Existe risco forte de reitera??o das condutas, uma vez que Messer ainda tem um enorme patrim?nio no Paraguai, outros integrantes ajudam a organiza??o criminosa e h? ainda o poder econ?mico do Cartes. Ele ? dos mais ricos, influentes e ainda mant?m um forte poder pol?tico, mesmo depois de deixar a Presid?ncia', disse a procuradora Marisa Ferrari.
A Pol?cia Federal informou, em nota, que a opera??o tem a finalidade de reprimir os crimes de lavagem de dinheiro e forma??o de organiza??o criminosa cometidos pelo n?cleo que continuou as pr?ticas criminosas para apoiar a fuga de um doleiro investigado, ocultando o foragido e seus bens.
?A investiga??o identificou cerca de 20 milh?es de d?lares ocultados, sendo mais de 17 milh?es de d?lares num banco nas Bahamas e o restante pulverizado no Paraguai entre doleiros, casas de c?mbio, empres?rios, pol?ticos e uma advogada?, afirmou a PF.
No total, foram expedidos 17 mandados de pris?o preventiva, 3 mandados de pris?o tempor?ria e 18 mandados de busca e apreens?o a serem cumpridos nos Estados do Rio de Janeiro, S?o Paulo e Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai, segundo comunicado da Pol?cia Federal.
O advogado Eduardo Campos, um dos representantes de Cartes, disse que a acusa??o feita pelas autoridades brasileiras n?o t?m sentido, e que uma equipe de advogados do Brasil vai representar o ex-presidente paraguaio no caso.
?N?o existe nem sequer um telefonema, um contato, nenhuma reuni?o com o senhor Dario Messer. ? surpreendente que estejam o acusando (Cartes) de ter ajudado a se esconder ou a fugir, afirmou Campos ? r?dio 970, de Assun??o.
Cartes, um empres?rio do setor de tabaco, de 63 anos, ? considerado um dos homens mais ricos do Paraguai e lidera um movimento do partido governista que h? alguns meses foi fundamental para frear um processo de impeachment do presidente Mario Abdo.
O presidente do Congresso paraguaio, Blas Llano, afirmou que o ex-presidente tem impunidade por ser senador vital?cio, de forma que precisaria ter a prerrogativa de foro retirada para enfrentar qualquer processo.
(Reportagem adicional de Daniela Desantins, em Assun??o)
Escrito por Reuters
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