CORREÇÃO-EXCLUSIVO-Investigada nos EUA e no Brasil, Philips demitiu delator que apontou corrupção
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(Corrige moeda no 21? par?grafo de reais para d?lares)
Por Brad Brooks
S?O PAULO (Reuters) - A gigante de equipamentos de sa?de Philips foi alertada sobre vendas suspeitas ao governo do Brasil, e n?o as impediu, quase uma d?cada antes de um suposto esquema de subornos ser exposto nas opera??es brasileiras da empresa em 2018, como a Reuters descobriu.
Alega??es de m? conduta chegaram at? os escal?es mais altos do conglomerado holand?s ainda em 2010, segundo autos registrados por procuradores federais, documentos internos da empresa e entrevistas da Reuters com um ex-gerente de uma subsidi?ria da Philips no Brasil que diz ter alertado seus superiores do suposto esquema e ter sido demitido mais tarde.
O ex-funcion?rio, Jos? Israel Masiero Filho, ex-executivo da cadeia de suprimento da Dixtal Biom?dica Ind?stria e Com?rcio Ltda., conversou longamente com a Reuters em sua primeira entrevista ? m?dia estrangeira.
Ele disse que, em janeiro de 2010, flagrou irregularidades em tr?s acordos de venda de equipamentos da Philips e da Dixtal a um intermedi?rio brasileiro obscuro que havia conseguido grandes contratos com o Minist?rio da Sa?de do Brasil. Masiero disse ter suspeitado que propinas foram usadas para fechar o neg?cio com o governo, alega??es hoje no cerne de um inqu?rito de corrup??o no Brasil, como provam os autos.
Imediatamente, Masiero mandou um e-mail a um canal interno da Philips para relatar suas suspeitas, encontrou-se pouco depois com o principal executivo de compliance da companhia e alertou ao menos tr?s outros executivos de alto escal?o durante o ano de 2010. Entre eles estava Steve Rusckowski, ex-presidente-executivo da Philips Healthcare, a maior divis?o da empresa.
Os alertas de Masiero foram detalhados em e-mails, memorandos internos e autos vistos pela Reuters. 'A Philips deveria considerar que, ao aprovar e aceitar estas vendas, ser? envolvida em atividades ilegais se descoberta', escreveu Masiero a Rusckowski em um e-mail de 14 de outubro de 2010.
Ainda assim, a Koninklijke Philips, como a empresa ? conhecida formalmente, continuou a vender ao intermedi?rio brasileiro para cumprir os contratos com o Minist?rio da Sa?de, como apontam faturas. Rusckowski, que atuou como presidente-executivo da Philips Healthcare at? abril de 2012, n?o respondeu a pedidos de coment?rios. Hoje ele ? CEO da Quest Diagnostics, com sede em Nova Jersey, nos Estados Unidos.
Em um comunicado enviado por e-mail ? Reuters, a Philips disse estar cooperando com as autoridades brasileiras que investigam a ind?stria de equipamentos m?dicos do pa?s.
A empresa disse ter iniciado uma investiga??o interna em 2010 em rea??o a uma 'den?ncia an?nima', mas que 'n?o identificou ind?cios diretos de irregularidade', por?m endureceu seus processos internos de controle no Brasil. A Philips n?o quis falar sobre Masiero ou as circunst?ncias de sua demiss?o. O Minist?rio da Sa?de n?o respondeu a pedidos de coment?rio.
SA?DE NA MIRA
Atualmente, a Philips ? um dos alvos de uma investiga??o crescente sobre a corrup??o em contratos m?dicos no Brasil, que autoridades dizem ainda estar nos est?gios iniciais e que provocou inqu?ritos adicionais. Masiero est? cooperando com os procuradores brasileiros.
Eles alegam que a Philips e outras multinacionais conspiraram com intermedi?rios para pagar subornos por contratos p?blicos, sobrecarregando o sistema de sa?de do Brasil com pre?os inflados para recuperar o gasto com propinas.
No ano passado, vinte e quatro pessoas foram acusadas por sua liga??o com o suposto esquema, e hoje todas est?o sendo julgadas no Rio de Janeiro. A alem? Siemens e as norte-americanas Johnson & Johnson, General Electric e Stryker, todas grandes fabricantes de equipamentos m?dicos, foram implicadas no inqu?rito. Johnson & Johnson, Siemens e GE n?o quiseram comentar.
Elas j? haviam negado irregularidades e dito que est?o cooperando com a investiga??o. A Stryker disse estar comprometida a trabalhar de maneira ?tica e que n?o pode fazer mais coment?rios. Nos EUA, o FBI, o Departamento de Justi?a e a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM norte-americana) iniciaram suas pr?prias investiga??es sobre a suspeita de corrup??o na venda de equipamentos m?dicos no Brasil e tamb?m na China, segundo pessoas a par do assunto.
O delator Masiero disse estar cooperando com todas estas ag?ncias, uma afirma??o confirmada em e-mails vistos pela Reuters. O FBI, o Departamento de Justi?a e a SEC n?o quiseram comentar. A Philips disse ? Reuters que est? 'analisando' solicita??es do Departamento de Justi?a e da SEC relacionadas ao inqu?rito do Brasil.
INTERMEDI?RIO MISTERIOSO
Hoje com 52 anos, Masiero foi contratado em 2006 como gerente de exporta??es da Dixtal, onde chegou a ser o principal executivo de log?stica e?da cadeia de suprimento da empresa de equipamentos m?dicos sediada em S?o Paulo no in?cio de 2009. A Philips comprou a Dixtal em 2008.
No in?cio de 2010, Masiero notou o que considerou irregularidades em tr?s grandes contratos concedidos pelo Minist?rio da Sa?de. Os acordos, um deles para 750 desfibriladores da Philips e os outros para um total de 3.972 monitores de sinais vitais da Dixtal, tinham um valor combinado de 68,9 milh?es de reais, segundo registros governamentais.
Masiero disse ter estranhado que a Philips n?o tenha competido diretamente por uma fatia t?o grande do neg?cio. Nem a Philips nem a Dixtal apresentaram propostas, de acordo com registros governamentais de propostas de or?amento vistos pela Reuters.
Ao inv?s disso, os contratos foram dados ? Rizzi Com?rcio e Representa??es Ltda., uma empresa brasileira de suprimentos m?dicos pouco conhecida. Encarregado de encaminhar os equipamentos ? Rizzi Com?rcio, Masiero ficou surpreso ao descobrir que seu endere?o de cobran?a era uma pequena fachada de loja com a tinta descascando localizada em um bairro decadente de S?o Paulo.
'Foi um alerta vermelho imediato para mim', disse Masiero ? Reuters.
Al?m disso, o Minist?rio da Sa?de estava pagando bem acima dos pre?os de mercado pelos equipamentos, disse Masiero, algo incomum para um cliente grande com poder aquisitivo. Em 12 de fevereiro de 2010, por exemplo, Masiero alegadamente recebeu um e-mail de um executivo de vendas da Philips, Frederik Knudsen, orientando-o a entregar o primeiro lote de 60 desfibriladores ? Rizzi Com?rcio, que adicionou 67% ao seu pre?o, de acordo com a correspond?ncia inclu?da nos autos.
'O valor que deveria estar na fatura ? o que foi combinado com o Minist?rio da Sa?de' --16.700 d?lares por unidade-- 'e n?o aquele pelo qual o vendemos ? Rizzi (9.991 d?lares)', segundo o e-mail alegadamente de Knudsen visto pela Reuters.
Procuradores dizem que a Philips e a Rizzi Com?rcio conspiraram para disfar?ar e reaver o custo dos subornos inflando os pre?os --e com isso defraudando os contribuintes brasileiros.
Knudsen, que a Philips confirmou ainda trabalhar na companhia, ? um dos que est?o em julgamento no Rio. Outro ? Daurio Speranzini, que comandou as opera??es da Philips Healthcare na Am?rica Latina durante sete anos, foi para a GE em 2011 e deixou esta ?ltima em dezembro passado. Em agosto passado, ambos foram acusados de extors?o e fraude.
Os advogados de Knudsen n?o responderam a pedidos de coment?rio. Em uma defesa por escrito apresentada ao tribunal, eles disseram que Knudsen n?o estabeleceu os pre?os da Philips e que ? inocente. Em outro documento legal submetido ? corte, eles tamb?m questionaram a veracidade dos e-mails que seu cliente alegadamente enviou a Masiero.
Os advogados de Speranzini responderam ?s perguntas com sua defesa por escrito, que argumenta que ele desconhecia o suposto esquema de subornos ou os alertas de Masiero.
Os irm?os Wlademir e Adalberto Rizzi, propriet?rios da Rizzi Com?rcio, tamb?m est?o em julgamento por extors?o e fraude.?Sua advogada, que n?o respondeu a pedidos de coment?rios, disse nos autos que seus clientes n?o se envolveram em atividades ilegais.
ACIONANDO O ALARME
Apreensivo com os acordos com a Rizzi Com?rcio, Masiero notificou a equipe de compliance global da Philips em Amsterd? em 20 de janeiro de 2010 por meio de um e-mail de comunica??o interna. A Philips enviou Caroline Visser, ent?o chefe de compliance global da Philips, ao Brasil para se encontrar com Masiero em mar?o de 2010. Ela prometeu uma investiga??o r?pida, de acordo com e-mails que os dois trocaram.
Dois meses depois, Masiero foi transferido da Dixtal para um cargo de log?stica da Philips em S?o Paulo, o que ele considerou um rebaixamento e um esfor?o para silenci?-lo --e as remessas continuaram, como mostraram as faturas.
Frustrado, em 14 de outubro de 2010 Masiero enviou um e-mail a Rusckowski, chefe da divis?o de sa?de da Philips. Masiero expressou preocupa??es sobre a Rizzi Com?rcio e o uso de um intermedi?rio desconhecido, a Moses Trading American, para a compra de desfibriladores Philips fabricados nos EUA em seu nome para exporta??o para o Brasil.
Muito mais t?pico, disse Masiero ? Reuters, seria a Philips vender diretamente ? Rizzi. A desconfian?a de Masiero s? aumentou quando ele descobriu que o endere?o da Moses Trading American constante das faturas da Philips era de uma casa particular em um campo de golfe no sub?rbio de Phoenix. 'A opera??o de vendas da Moses Trading ? claramente suspeita', escreveu Masiero a Rusckowski.
Segundo e-mails vistos pela Reuters, Rusckowski encaminhou a mensagem de Masiero a Clement Revetti, Jr., principal executivo legal da Philips Healthcare. Revetti agradeceu Masiero e lhe pediu para n?o voltar a contatar o CEO. Masiero contrariou esta ordem, e em 9 de novembro de 2010 voltou a mandar um e-mail a Rusckowski e Revetti sobre suas desconfian?as.
Em 4 de mar?o de 2011, Masiero disse que debateu suas suspeitas mais uma vez com Caroline Visser em pessoa em S?o Paulo. Ele foi demitido naquele mesmo dia, e disse que n?o recebeu nenhuma justificativa para a demiss?o.
Documentos exigidos pelas leis trabalhistas brasileiras mostram que a Philips demitiu Masiero 'sem justa causa', o que significa que a empresa n?o alegou problemas de desempenho.
Caroline e Revetti n?o responderam a pedidos de coment?rio. Quanto ? Moses Trading American, procuradores brasileiros dizem que a opera??o ? administrada por um peruano chamado Oscar Moses, que est?o investigando por sua liga??o com uma s?rie de acordos de equipamentos m?dicos supostamente fraudulentos no Brasil.
Moses, que n?o foi acusado de nenhum crime, n?o respondeu a pedidos de coment?rio enviados ao seus perfis de Linkedin e Facebook.
CONVERSANDO COM PROCURADORES
Desanimado ap?s a demiss?o, Masiero desistiu do assunto --at? 2014, quando o Brasil foi engolido por um esc?ndalo de corrup??o centrado na Petrobras, a Lava Jato, que derrubou l?deres dos escal?es mais altos do empresariado e da pol?tica.
Masiero entrou em contato com procuradores federais.
'Suas informa??es foram essenciais para nos ajudar a desmontar este esquema', disse Marisa Ferrari, uma das principais procuradoras do caso.
Enquanto isso, Masiero continua desempregado. Ele disse que est? em uma lista negra no Brasil, e recentemente ele e a fam?lia se mudaram para um pa?s que ele preferiu n?o revelar.
((Tradu??o Reda??o S?o Paulo, 5511 56447702)) REUTERS AC ES
Escrito por Redação
SALA DE BATE PAPO