Vale sabia que barragem em Brumadinho tinha risco elevado de colapso
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Por Stephen Eisenhammer
BELO HORIZONTE (Reuters) - A Vale, maior produtora global de min?rio de ferro, estava ciente no ano passado de que a barragem de rejeitos que entrou em colapso no m?s passado, matando pelo menos 165 pessoas, tinha um risco elevado de ruptura, segundo um documento interno visto pela Reuters na segunda-feira.
O relat?rio, datado de 3 de outubro de 2018, mostra que, segundo a pr?pria Vale, a barragem da mina de min?rio de ferro C?rrego do Feij?o, em Brumadinho (MG), tinha duas vezes mais chance de se romper do que o n?vel m?ximo tolerado pela pol?tica de seguran?a da empresa.
O documento ? a primeira evid?ncia de que a pr?pria Vale estava preocupada com a seguran?a da barragem.
Isso levanta a quest?o de por que uma auditoria, realizada na mesma ?poca, garantiu a estabilidade da barragem e por que a mineradora n?o tomou precau??es, como mover um refeit?rio localizado logo abaixo da estrutura que se rompeu.
A Vale disse que o relat?rio, chamado de 'Geotechnical Risk Management Results', compreendia as opini?es de engenheiros especialistas, que s?o obrigados a trabalhar dentro de procedimentos rigorosos quando identificam quaisquer riscos.
'N?o existe em nenhum relat?rio, laudo ou estudo conhecido qualquer men??o a risco de colapso iminente da Barragem I da Mina C?rrego do Feij?o, em Brumadinho', disse a Vale em uma nota por e-mail.
'Pelo contr?rio, a barragem possu?a todos os certificados de estabilidade e seguran?a, atestados por especialistas nacionais e internacionais.'
A Vale perdeu cerca de um quarto de seu valor de mercado, ou quase 19 bilh?es de d?lares, desde a trag?dia.
O colapso da barragem ocorreu em 25 de janeiro e foi a mais mortal trag?dia de minera??o do Brasil e o segundo desastre envolvendo uma barragem de rejeitos de min?rio de ferro em pouco mais de tr?s anos no pa?s.
'ZONA DE ATEN??O'
O relat?rio interno da companhia de outubro de 2018 colocou a barragem da mina C?rrego do Feij?o dentro de uma 'zona de aten??o', dizendo que 'deve ser assegurado que todos os controles de preven??o e mitiga??o estejam sendo aplicados'.
A barragem foi marcada para descomissionamento. Um fracasso poderia custar ? empresa 1,5 bilh?o de d?lares e teria o potencial de matar mais de cem pessoas, segundo o relat?rio.
Outras nove barragens, das 57 que foram estudadas, foram colocadas na zona de aten??o, de acordo com o relat?rio.
Um outro relat?rio da Vale datado de 15 de novembro de 2017, tamb?m visto pela Reuters, afirma que qualquer estrutura com uma chance de falha acima de 1 em 10.000/ano deve ser levada ? aten??o do presidente-executivo e do Conselho de Administra??o.
A barragem de C?rrego de Feij?o tinha uma chance de colapso duas vezes maior que o 'n?vel m?ximo de risco individual' toler?vel, ou 1 em 5.000/ano, segundo o relat?rio.
'Isso n?o ? bom na minha opini?o, especialmente se voc? considerar que essas estruturas s?o de longo prazo', disse David Chambers, geof?sico do Centro de Ci?ncia em Participa??o P?blica, em Montana, e especialista em barragens de rejeitos.
A mineradora disse em seu comunicado por e-mail que 'a cria??o de um alerta para a alta gest?o, sugerida em novembro de 2017, passou a ser estudada dentro do contexto da integra??o do risco geot?cnico ao risco dos neg?cios da Vale'.
Perguntada sobre o que veio dessa discuss?o, a Vale disse que tal alerta n?o havia sido implementado.
SOB INVESTIGA??O
A Vale disse que as causas da ruptura ainda est?o sendo investigadas. A empresa afirmou repetidamente que a barragem foi declarada como s?lida por um auditor independente em setembro.
A auditoria da alem? T?V S?D, que foi vista pela Reuters, disse que a represa atendeu as exig?ncias legais m?nimas de estabilidade, mas levantou uma s?rie de preocupa??es, particularmente sobre os sistemas de drenagem e monitoramento da represa.
O auditor fez 17 recomenda??es para melhorar a seguran?a da barragem.
A Vale disse que as recomenda??es eram rotineiras e que a empresa atendia a todas elas.
O relat?rio interno de outubro identifica a liquefa??o est?tica e a eros?o interna como as causas mais prov?veis de uma falha potencial.
Ainda n?o se sabe a causa do colapso da barragem em Brumadinho, mas uma autoridade ambiental do Estado disse ? Reuters neste m?s que todas as evid?ncias apontavam para a liquefa??o.
A liquefa??o ? um processo pelo qual um material s?lido como areia perde for?a e rigidez e se comporta mais como um l?quido. Foi a causa de outro colapso mortal em 2015, que resultou no pior desastre ambiental do Brasil.
'N?s costum?vamos dizer que esses tipos de incidentes de minera??o eram atos de Deus, mas agora... n?s os consideramos fracassos na engenharia', disse Dermot Ross-Brown, engenheiro da ind?stria de minera??o que leciona em institui??o no Colorado.
A Vale disse que vai investir cerca de 400 milh?es de d?lares a partir de 2020 para reduzir sua depend?ncia de barragens de rejeitos, que armazenam detritos da minera??o.
(Reportagem adicional de Ernest Scheyder em Houston)
Escrito por Redação
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