Forte temporal mata ao menos 10 e provoca estragos no Rio

Por Pedro Fonseca e Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Um forte temporal considerado ?absolutamente anormal? pelas autoridades do Rio de Janeiro deixou ao menos 10 mortos, causou destrui??o pela cidade e levou a prefeitura a declarar est?gio de crise nesta ter?a-feira.

O prefeito Marcelo Crivella (PRB) disse que o volume de chuvas foi at?pico e negou que sua gest?o tenha feito poucos investimentos na preven??o e combate a enchentes. Ele tamb?m cobrou mais repasses de recursos do governo do presidente Jair Bolsonaro ao munic?pio.

Crivella tamb?m n?o descartou a possibilidade de novas trag?dias acontecerem e pediu conscientiza??o da popula??o na preven??o dos desastres ao n?o jogar lixo nas ruas e n?o constru?rem em ?reas de encostas.

?As chuvas que ca?ram s?o absolutamente anormais para o per?odo do ano, nenhum de n?s esperava tanta chuva nessa data?, disse o prefeito.

'Nada prescinde as pessoas terem bom senso e prud?ncia. Tem que entender a cidade que n?s vivemos, o aquecimento global e terem cuidado consigo mesmo. Esse ? o ponto', disse ele a jornalistas.

De acordo com dados da prefeitura, em alguns pontos da cidade, choveu cerca de tr?s vezes o que era esperado para todo o m?s de abril apenas entre a noite de segunda-feira e a manh? desta ter?a-feira.

A prefeitura decretou est?gio de crise na cidade durante a noite, o n?vel mais elevado da escala. A previs?o ? que continue chovendo forte at? o fim do dia e a perspectiva ? que o tempo melhore j? na madrugada de quarta-feira.

Sete pessoas morreram na zona sul, que abriga ?reas nobres da cidade. Tr?s delas morreram soterradas ap?s um deslizamento de terra no Morro da Babil?nia, no Leme. Uma outra morte foi registrada na G?vea, de um motociclista que foi arrastado pela enxurrada.

Al?m disso, tr?s pessoas morreram ap?s o carro em que estavam ter sido soterrado em Botafogo. No carro, estavam av? e neta que tinham acabado de deixar um shopping center em meio ao temporal.

As outras tr?s mortes ocorreram na zona oeste. Uma pessoa foi eletrocutada e outras duas afogadas.

O temporal tamb?m provocou um novo desabamento de um trecho da ciclovia Tim Maia, na zona sul da cidade. A obra foi inaugurada para a Olimp?ada de 2016, mas desde ent?o j? foram registrados quatro acidentes no local, com duas mortes.

Crivella cogitou nessa ter?a feira a possibilidade de realizar um plebiscito na cidade para definir o destino da ciclovia, que custou cerca de 60 milh?es de reais. As chuvas tamb?m causaram outros danos, como deslizamentos de terra e a queda de ?rvores que atingiram ?nibus na cidade.

Devido ? tempestade, 26 comunidades tiveram sirenes ativadas para alertar moradores sobre riscos de deslizamentos de terra, e vias importantes foram fechadas por precau??o. No Morro da Babil?nia, onde duas irm?s morreram soterradas, as sirenes de alerta n?o soaram.

Tamb?m foram registrados 785 pontos sem energia na cidade, de acordo com a prefeitura.

RIOS E CACHOEIRAS

A ?gua da chuva levou muito lixo e lama de encostas para as ruas de cidade. Algumas avenidas se transformaram em rios e cachoeiras, deixando dezenas de pessoas ilhadas sem conseguirem chegar em casa durante a noite.

Segundo a prefeitura, a chuva come?ou no momento que as equipes da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) se preparavam para recolher o lixo de casas, pr?dios e estabelecimentos comerciais. O lixo que foi arrastado pela ?gua da chuva acabou entupindo bueiros, dificultando a vaz?o da ?gua.

Bombeiros precisaram usar botes e barcos para socorrer algumas pessoas, e muitos moradores relataram enormes dificuldades para voltar para casa do trabalho.

?Estou ilhado desde ontem na G?vea. Aqui em frente est? tudo alagado e n?o tem como sair para voltar para casa. Est? um caos?, disse o advogado Luiz Fernando Cacciatore, por telefone.

Crivella admitiu que a prefeitura falhou na log?stica das equipes de preven??o a chuva. Segundo ele, houve uma demora no deslocamento at? os locais onde havia a chance de a chuva ser mais intensa

?Poder?amos ter sido mais r?pidos?, admitiu o prefeito.

Esse ? o segundo forte temporal a atingir o Rio em aproximadamente dois meses. Em fevereiro, 7 pessoas morreram na cidade durante outra chuva forte.

Crivella negou que tenha feito poucos investimentos preventivos na conserva??o de ruas e bueiros e na conten??o de encostas. Segundo ele, quem diz isso est? tentando fazer pol?tica com a trag?dia provocada pela chuva.

?Isso ? informa??o falsa de que n?o fizemos. S? numa obra que vou inaugurar na sexta-feira na zona norte, gastamos 300 milh?es de reais', garantiu.

'Sei que h? pol?ticos de oposi??o e oportunistas para fazer trag?dia de palanque eleitoral. Repudiamos isso.?

O prefeito prometeu triplicar no curto prazo as equipes de conserva??o e preven??o na cidade. Ele tamb?m cobrou do governo federal mais repasse de recursos ? cidade para investimentos em preven??o, conserva??o, saneamento e habita??o.

?O Rio sofre um confisco tribut?rio. Contribu?mos com Bras?lia com 160 bilh?es em impostos e imposto de renda das pessoas e empresas, mas voltam para o Rio de Janeiro apenas 5 bilh?es em sa?de e educa??o', reclamou.

?Gostaria de aprovar no governo federal o PAC das enchentes, encostas e Minha Casa Minha Vida... Essa ? melhor maneira para enfrentar as cat?strofes. Fa?o um apelo ao presidente Bolsonaro, que em sua campanha nos encheu de esperan?a ao dizer menos Bras?lia e mais Brasil?, disse.

(Edi??o de Eduardo Sim?es)