Governo avisa líderes do Congresso que vai demitir Alvim após polêmica sobre Goebbels, dizem fontes

Por Ricardo Brito

BRAS?LIA (Reuters) - O governo do presidente Jair Bolsonaro avisou l?deres do Congresso nesta sexta-feira que vai exonerar o secret?rio especial da Cultura, Roberto Alvim, ap?s pol?mica envolvendo discurso no qual o secret?rio usou frase semelhante a uma fala de Jospeh Goebbels, ministro da Propaganda nazista, disseram fontes com conhecimento do assunto.

A fala do secret?rio em v?deo publicado no Twitter na noite de quinta-feira na conta da secretaria que ele comanda provocou forte rea??o p?blica nas redes sociais, incluindo de autoridades.

?A arte brasileira da pr?xima d?cada ser? heroica e ser? nacional, ser? dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e ser? igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada ?s aspira??es urgentes do nosso povo, ou ent?o, n?o ser? nada?, disse Alvim no v?deo.

Segundo o livro 'Joseph Goebbels: Uma Biografia', de Peter Longerich, o ministro da Propaganda de Adolf Hitler afirmou, em um pronunciamento para diretores de teatro: 'A arte alem? da pr?xima d?cada ser? heroica, ser? ferreamente rom?ntica, ser? objetiva e livre de sentimentalismo, ser? nacional com grande p?thos e igualmente imperativa e vinculante, ou ent?o n?o ser? nada.'

Em entrevista ? R?dio Ga?cha, na manh? desta sexta, Alvim disse que n?o sabia a origem da frase e pediu perd?o ao povo judeu, mas sustentou que a ideia da frase escrita por ele e utilizada no discurso ? ?perfeita?. A mesma explica??o foi dada, segundo ele, ao presidente Jair Bolsonaro, em conversa tamb?m pela manh?.

?Eu li para o presidente, falei, expliquei para ele dessa coincid?ncia ret?rica, li para ele a minha frase. A frase em si, repito, ? absolutamente perfeita?, disse, em entrevista ? r?dio.

?Mas, por outro lado, a vincula??o dessa ideia acerca da arte e da cultura brasileiras com campos de exterm?nio, genoc?dio e eugenia... ? ou produto de m? intencionalidade ou produto de analfabetismo funcional?, afirmou.

O secret?rio disse, na entrevista, ter escrito 90% do discurso. Solicitou, no entanto, ajuda de assessores, que teriam feito uma pesquisa, um brainstorming para elaborar a fala. Afirmou repetidas vezes n?o saber que a frase em quest?o tinha origem em fala do ministro nazista. Questionado se concordava com a frase de Goebbels, ou se era nazista, Alvim negou.

?A frase que eu escrevi, que tem essa coincid?ncia ret?rica com a forma da frase do Goebbels, ? absolutamente correta. At? um ditador sanguin?rio pode ter uma ou outra frase absolutamente correta, embora no caso dessas pessoas eles estejam travestindo com nobres discursos as inten??es mais esp?rias. Mas voc? vai encontrar bel?ssimas frases sobre a humanidade na boca de um assassino contumaz como o Che Guevara?, disse.

?Goebbels preconizava uma ideia de uma arte nacional, uma arte nacionalista? Sim. Eu tamb?m preconizo essa ideia? Eu tamb?m preconizo essa ideia. Outros intelectuais absolutamente incr?veis tamb?m preconizam essa ideia? Tamb?m preconizam essa ideia. Da? a estender a associa??o para exterm?nio de pessoas em campos de concentra??o ? uma coisa muito for?ada.?

Mais tarde, em publica??o numa rede social, depois de reafirmar que n?o sabia da origem da frase e que n?o compactua com o nazismo, Alvim disse que colocou seu cargo ? disposi??o do presidente.

'Tendo em vista o imenso mal-estar causado por esse lament?vel epis?dio, coloquei imediatamente meu cargo a disposi??o do presidente Jair Bolsonaro, com o objetivo de proteg?-lo', disse na publica??o.

'Dei minha vida por esse projeto de governo, e prossigo leal ao presidente, e disposto a ajud?-lo no futuro na dignifica??o da Arte e da Cultura brasileiras', acrescentou.

LIMITES

O discurso do secret?rio provocou forte rea??o. O presidente da C?mara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), usou sua conta no Twitter para afirmar que o secret?rio ?passou de todos os limites? com a publica??o.

?? inaceit?vel. O governo brasileiro deveria afast?-lo urgente do cargo?, disse Maia.

O presidente do Congresso Nacional e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que ? judeu, tamb?m pediu o afastamento do secret?rio e disse ser inadmiss?vel que um representante do governo utilize o cargo para ?explicitar simpatia pela ideologia nazista? ou repetir ideias de um ministro alem?o.

?Somente agora tive o desprazer de tomar conhecimento do acintoso, descabido e infeliz pronunciamento de assombrosa inspira??o nazista do secret?rio de Cultura, Roberto Alvim, do governo federal?, disse o presidente do Congresso em nota.

?Como primeiro presidente judeu do Congresso Nacional, manifesto veementemente meu total rep?dio a essa atitude e pe?o seu afastamento imediato do cargo.?

(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello e Lisandra Paraguassu,)