Incêndios em florestas da Bolívia colocam iniciativas agrícolas de Evo em xeque
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Por Monica Machicao e Daniel Ramos
SANTA CRUZ DE LA SIERRA/LA PAZ, Bol?via (Reuters) - Na cidade tropical boliviana de Santa Cruz de la Sierra, um polo agr?cola rico no extremo da floresta tropical amaz?nica, o presidente Evo Morales se reuniu com fazendeiros no m?s passado para comemorar o primeiro envio de carne bovina ? China.
Uma cerim?nia elaborada foi realizada para marcar o que deveria ser uma conquista decisiva do plano de Evo de tornar a Bol?via uma fornecedora global de alimentos: a entrada no enorme mercado chin?s no momento em que Pequim busca alternativas a produtores dos Estados Unidos.
'? outra pol?tica que permita que a Bol?via siga crescendo economicamente', disse o primeiro presidente ind?gena da Bol?via no evento de 28 de agosto. O pa?s enviar? 8 mil toneladas de carne bovina ? China no ano que vem, acrescentou.
Mas nos arredores da cidade, o custo de um avan?o r?pido na agricultura e na pecu?ria ? vis?vel. Inc?ndios florestais ardiam, provavelmente provocados por um aumento nos cortes e queimadas em terras para o pasto ou para planta??o de soja.
Os inc?ndios em territ?rio boliviano, que espelham aqueles que devastam vastas ?reas da Amaz?nia brasileira, amea?am frustrar a busca de Evo por um quarto mandato consecutivo e mais cinco anos de 'Evonomics', sua modalidade de capitalismo misturado com intervencionismo estatal socialista.
Cr?ticos ligam os inc?ndios a leis que Evo sancionou incentivando agricultores e fazendeiros a se estabelecerem em ?reas florestais nos ?ltimos anos. Elas incluem permiss?o neste ano para usar m?todos de cortes e queimadas para acelerar a produ??o, apesar de uma seca.
A escala dos inc?ndios ? imensa, amea?ando o que ? visto como um escudo natural contra a mudan?a clim?tica. Nas ?ltimas semanas, eles arrasaram mais de 2,1 milh?es de hectares no pa?s sem sa?da para o mar, consumindo mais de 700 mil hectares de floresta em reservas protegidas, segundo um relat?rio do grupo conservacionista local FAN.
E eles chamaram aten??o para o apoio rec?m-descoberto de Evo a um setor antes em atrito com seu governo, colocando-o na defesa antes da elei??o de 20 de outubro.
CURSO DA HIST?RIA
O apoio de Evo ? agropecu?ria surpreendeu algumas pessoas. Ao contr?rio do presidente Jair Bolsonaro, que classificou a mudan?a clim?tica como uma farsa, Evo ? conhecido como um ambientalista aguerrido no exterior, que costuma falar da necessidade de proteger a 'Pachamama', ou M?e Terra, no f?runs internacionais.
Mas ele tamb?m est? determinado a fomentar o desenvolvimento e o crescimento econ?mico na Bol?via, um dos pa?ses mais pobres da Am?rica do Sul. O governo Morales se tornou mais conhecido como um promotor das mat?rias primas agr?colas, chamando-as de 'novo ouro' que ajudar? a diversificar a economia que depende da exporta??o de g?s natural.
'O bomo ? que o inc?ndio conseguiu reverter o curso da hist?ria', disse o cientista pol?tico Franklin Pareja, radicado em La Paz. '? t?o grande... que come?ou a expor outras coisas. Por exemplo, que n?o se trata s? de utilizar as pessoas pobres, mas que h? interesses corporativos agroindustriais que ser?o os mais favorecidos.'
Ap?s uma onda de cr?ticas ? rea??o inicialmente lenta de seu governo aos inc?ndios, Evo entrou em a??o no final de agosto, alugado um avi?o anti-inc?ndio Boeing SuperTanker para lan?ar ?gua sobre as chamas e se unindo aos bombeiros que os combatem com mangueiras.
Agora as chances de sucesso eleitoral de Evo podem depender de seu principal rival, Carlos Mesa, ser capaz de capitalizar a revolta com os inc?ndios. Algumas pesquisas de opini?o recentes indicam que Mesa pode triunfar em um poss?vel segundo turno.
'Isto ? um desastre nacional', disse Mesa ? emissora nacional Red Uno. 'Sabemos quem causou este desastre, Evo Morales e suas pol?ticas irrespons?veis de uso da terra.'
O governo negou que suas pol?ticas ati?aram os inc?ndios, chamando a acusa??o de 'uma mentira' e prometendo investir o que for necess?rio para replantar as florestas.
Evo, que j? foi plantador de coca, culpou as secas peri?dicas que atingiram o territ?rio duramente neste ano. 'Se voc? fumar um cigarro e o jogar fora, tem fa?sca, tem inc?ndio', disse Evo a fazendeiros na cerim?nia em Santa Cruz na semana passada.
MATANDO A GALINHA DOS OVOS DE OURO
Uma d?cada atr?s, Evo era t?o desprezado em Santa Cruz que evitou sua feira agr?cola anual. A prov?ncia tradicionalmente conservadora temia seus planos para dividir grandes propriedades rurais.
Mas ele se tornou mais popular em Santa Cruz desde 2013, quando seu governo anunciou um plano para triplicar para 13 milh?es de hectares as terras de cultivo da Bol?via at? 2025, um objetivo que alguns dizem s? ser poss?vel destruindo grandes por??es de floresta.
Uma s?rie de indultos do governo ao desmatamento ilegal a partir daquele ano incentivou colonos sem terras a desbravar as profundezas da Amaz?nia, que viu o desmatamento para a agricultura dobrar entre 2014 e 2018, como disse a ag?ncia florestal boliviana em um relat?rio emitido em abril.
Neste ano, Evo aprovou uma regra para estimular mais exporta??es de soja e, no in?cio da esta??o seca, autorizou o uso de inc?ndios controlados para expandir a fronteira agr?cola em prov?ncias amaz?nicas hoje ? merc? de inc?ndios.
Os agropecuaristas dizem que essas medidas eram necess?rias para apoiar o setor e apelaram a Morales para que n?o ceda diante das demandas para reprimir o setor, apesar dos inc?ndios.
'As normas questionadas foram bem pensadas e bem elaboradas... n?o devem ser rejeitadas', disse Oscar Pereyra, presidente de uma grande associa??o pecu?ria. 'N?o podemos matar a galinha dos ovos de ouro' do setor agr?cola, acrescentou.
(Reportagem adicional de Mitra Taj)
Escrito por Redação
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