Incêndios na Amazônia: barreira para o aquecimento global pega fogo

Por Stephen Eisenhammer

S?O PAULO (Reuters) - (Galeria de fotos: https://reut.rs/2YjbiDj)

O fogo n?o ? natural na Amaz?nia. A floresta tropical virgem, por mais forte que seja o sol, ? ?mida demais para pegar fogo sozinha. Se a floresta queima, ? quase sempre por causa do ser humano.

Em agosto, no pico do per?odo das queimadas, o n?mero de inc?ndios na Amaz?nia brasileira saltou para o n?vel mais alto desde 2010.

O fogo ? o segundo est?gio na devasta??o da floresta, geralmente para a cria??o de gado. Primeiro, as madeiras escolhidas s?o cortadas e vendidas, depois o restante ? queimado. ? barato, eficaz e dif?cil de pegar os respons?veis.

Cortar a floresta sem permiss?o ? ilegal, e usar fogo ? contra a lei, exceto em circunst?ncias excepcionais.

No entanto, o fogo est? mudando a paisagem.

Os dados mais recentes de agosto de 2018 a julho de 2019 mostraram que mais ?rea de floresta foi desmatada do que em qualquer momento nos ?ltimos 11 anos.

Uma ?rea maior que o tamanho de Porto Rico foi derrubada. Os n?meros preliminares sugerem que a taxa aumentou desde ent?o.

Tr?s equipes de jornalistas da Reuters passaram semanas viajando milhares de quil?metros pela maior floresta tropical do mundo este ano, testemunhando a devasta??o do que os cientistas consideram uma prote??o vital contra as mudan?as clim?ticas.

Na rodovia Transamaz?nica, perto do porto fluvial de Humait? (AM), o c?u noturno de agosto n?o escureceu. As chamas de um inc?ndio florestal faziam a noite brilhar. O fogo durou por dias.

Algumas pessoas decidiram proteger a floresta com suas pr?prias m?os. A Reuters passou sete dias com um grupo de ind?genas que lutam para afastar madeireiros ilegais de suas terras no Estado do Maranh?o.

Em uma noite de setembro, alertados pelo estrondo de caminh?es pesados, seis homens da tribo Guajajara --com rostos pintados para a batalha-- correram para emboscar um grupo de madeireiros.

Em um entroncamento na rede local de estradas de terra esburacadas, eles aguardavam, com uma caminhonete 4x4 bloqueando a estrada, com fuzis e pistolas prontas.

Quando os caminh?es chegaram, os madeireiros, que eram cerca de 8, foram os primeiros a disparar. Os guajajaras revidaram, for?ando os madeireiros a fugir pela floresta. Os guerreiros ind?genas queimaram os caminh?es, que estavam carregados de madeira.

Um dos homens presentes naquela noite foi Paulo Paulino Guajajara. Ele sabia que era um trabalho perigoso, e falou abertamente sobre seu medo. '?s vezes a gente tem medo tamb?m um pouco, mas a gente n?o deixa ser dominado pelo medo. Tem que levantar a cabe?a e fazer mesmo acontecer. N?s estamos na luta', disse.

Quatro semanas depois, ele foi morto. Membros de sua tribo disseram que madeireiros o atingiram na cabe?a.

(Reportagem adicional de Jake Spring, Ueslei Marcelino e Leonardo Benassatto)