Indústria de carne do Brasil e consumidor pagam mais com exportação maior à China
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Por Roberto Samora
S?O PAULO (Reuters) - O Brasil, maior exportador global de carne bovina, est? faturando com a maior demanda da China, mas os consumidores brasileiros est?o por tabela pagando mais pelo produto nos a?ougues, enquanto frigor?ficos t?m sido pressionados a fazer ofertas recordes por bois nas fazendas.
A fome chinesa para preencher o buraco deixado pela peste su?na africana na cria??o de porcos j? ? sentida setorialmente nos ?ndices de infla??o no Brasil e ainda pressiona margens da maior parte dos frigor?ficos do pa?s, segundo especialistas.
Com impulso dos chineses, que elevaram as compras de carne bovina do Brasil em 23,6% de janeiro a outubro, para cerca de 320 mil toneladas, o pa?s exportou 11% mais no per?odo, para 1,47 milh?o de toneladas, de acordo com a associa??o da ind?stria Abrafrigo.
Al?m da forte demanda da China ap?s novas habilita??es de ind?strias de bovinos pelos chineses --que passaram de 16 no in?cio do ano para 40 unidades atualmente, segundo a Abrafrigo--, um d?lar em m?ximas hist?ricas frente ao real tamb?m favorece as exporta??es.
'Estamos no auge da capta??o desses aumentos de pre?os, a carne vai continuar subindo e vai impor um desafio para a dona de casa. Quando a carne bovina sobe, outras carnes tamb?m sobem, ainda que n?o houvesse raz?o para isso, elas sobem pela quest?o da substitui??o (do produto)', disse o economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) Andr? Braz, da Funda??o Getulio Vargas, que acompanha ?ndices inflacion?rios.
N?o fossem poucos os fatores de alta, a proximidade das festas de final de ano gera uma demanda adicional por carnes, h? o pagamento da primeira parcela do d?cimo terceiro neste m?s e uma oferta mais restrita de bovinos prontos para o abate.
'A gente j? est? assistindo sim uma alta forte, tem a ver com sazonalidade, e tamb?m com demanda chinesa. Isso gera choque de oferta', completou Braz, em entrevista ? Reuters.
'Com a chegada do d?cimo terceiro, o consumidor compra mesmo, e este comprar ? o sinal verde para aumento de pre?os. O dever de casa seria comprar menos, mas vai dizer para a pessoa n?o celebrar o final do ano?'
Pelo ?ndice de Pre?os ao Produtor Amplo, da FGV, a carne bovina apareceu entre os destaques em novembro, com alta de 5,26%, dez vezes mais do que o visto em outubro.
'D? para ver que houve um avan?o significativo no pre?o da carne bovina, j? pronta para ir para o a?ougue', comentou Braz, sobre a carne mais significativa para a infla??o.
Em novembro, ?ndice de Pre?os ao Consumidor constatou alta de 6,04% no contrafil?, enquanto em outubro havia subido 2,69%.
'Parte da alta ao produtor ? repassada sim, e dado que est? subindo ao produtor, a carne vai continuar pressionando infla??o em novembro e dezembro...', disse Braz.
Isso em momento em que o pre?o da arroba do boi gordo, acompanhado pelo indicador Esalq/B3, atingiu um recorde de 204,05 reais na ter?a-feira, acumulando alta de 19,54% no m?s, segundo o Centro de Estudos Avan?ados em Economia Aplicada (Cepea), que tamb?m registrou nesta semana nova m?xima hist?rica para a carca?a bovina na Grande S?o Paulo, de 13,90 reais/kg.
A infla??o no pa?s, no entanto, tem se mantido abaixo do piso da meta oficial para 2019, de 4,25% pelo IPCA com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
E QUEM N?O VENDE ? CHINA?
'A gente sabia que ocorreria uma maior demanda por boi para abate, mas n?o nesta magnitude... O n?mero de empresas habilitadas para a China foi muito significativo', afirmou o presidente da Abrafrigo, P?ricles Salazar.
Segundo ele, aqueles frigor?ficos que n?o t?m habilita??o para a China n?o conseguem repassar para os seus pre?os a alta da mat?ria-prima.
'Margens menores. Tenho recebido a seguinte afirma??o: est? muito dif?cil para os frigor?ficos que n?o t?m habilita??o da China, porque s?o obrigados a acompanhar o pre?o do boi daqueles que t?m habilita??o...', disse.
Ele acrescentou que aquelas empresas que n?o t?m habilita??o para exportar ? China, que est? pagando melhores pre?os do que outros destinos, conseguem compensar apenas parte do aumento da arroba bovina, j? que o mercado interno tamb?m est? em alta.
Diante da forte demanda chinesa, ele disse que o setor espera ainda este ano novas habilita??es de frigor?ficos, ap?s cinco unidades de carne bovina terem sido autorizadas na semana passada, incluindo f?bricas da JBS e Marfrig.
Entretanto, ele comentou que o pre?o da arroba do boi a mais de 200 reais n?o ? sustent?vel, e o mercado deve recuar em algum momento. Quando, ele disse n?o saber.
Na avalia??o de Braz, da FGV, o pre?o da carne s? vai come?ar a arrefecer um pouco ao final de janeiro.
'L? para fevereiro e mar?o a carne come?a a devolver uma parte do aumento', comentou ele, condicionando essa previs?o a uma normalidade clim?tica para as pastagens, por exemplo.
(Por Roberto Samora)
Escrito por Reuters
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