Investidor deve receber vitória de Bolsonaro com otimismo, mas quer detalhes e mira transição de governo

Por Paula Arend Laier

S?O PAULO (Reuters) - Investidores devem receber com otimismo a elei??o de Jair Bolsonaro neste domingo para a Presid?ncia do Brasil, em meio a apostas de que a sua equipe econ?mica adotar? uma agenda positiva para o pa?s, mas a manuten??o do ?nimo depender? de sinais claros sobre o comprometimento da nova administra??o, notadamente detalhes sobre os planos para a economia.

De acordo com estrategistas e gestores, os desafios s?o grandes, mas avaliam que o presidente eleito deve ter o benef?cio da d?vida em um primeiro momento, diante das expectativas de um governo reformista e liberal, o que pode dar suporte aos ativos financeiros brasileiros, principalmente em um ambiente externo mais desafiador.

'O foco est? na transi??o de candidato para presidente eleito, e a consequente melhora da visibilidade em rela??o ao plano de governo', afirmou a equipe da XP Investimentos capitaneada pelo estrategista Karel Luketic.

'A transi??o de governo ser? importante para sabermos de fato o que o governo eleito tentar? implementar no Brasil a partir de janeiro, j? que na campanha eleitoral a discuss?o de propostas n?o foi a t?nica. A n?o prioriza??o das reformas, ou propostas mais complexas de dif?cil aprova??o, traria risco e volatilidade', afirmou em relat?rio a clientes neste domingo.

No primeiro discurso ap?s derrotar o petista Fernando Haddad no segundo turno da elei??o, por 55,1 por cento contra 44,9 por cento dos votos v?lidos, Bolsonaro afirmou que seu governo ser? comprometido com a responsabilidade fiscal, ressaltando que o d?ficit p?blico deve ser eliminado o mais r?pido poss?vel e convertido em super?vit.

'Quebraremos o ciclo vicioso do crescimento da d?vida, substituindo pelo ciclo virtuoso de menores d?ficits, d?vida decrescente e juros mais baixos. Isso estimular? os investimentos, o crescimento e a consequente gera??o de emprego', afirmou o presidente eleito.

Dan Kawa, respons?vel pela ?rea de Fundos Multimercados e Macro Aloca??o da Icatu Vanguarda, ressalta que o novo governo precisa aprofundar e detalhar suas propostas e planos, que ainda s?o muito vagos e em 'alguns casos a conta n?o fecha'. Ele v? espa?o para otimismo e avalia que o governo Bolsonaro poder? trazer avan?os importantes para a economia e as reformas, mas tamb?m enxerga riscos ex?genos.

'O cen?rio externo e a vontade pol?tica do Congresso Nacional podem afetar a execu??o da agenda e, eventualmente, trazer ru?do, mesmo que pontuais', afirmou.

Para Yacov Arnopolin, gestor de portf?lio de mercados emergentes na Pimco, as principais quest?es giram em torno da capacidade de formar coaliz?es no Congresso Nacional, uma vez que, apesar de v?rios mandatos como deputado federal, Bolsonaro tem um hist?rico parlamentar limitado. 'Investidores est?o se perguntando se o otimismo ter? vida curta em face dos desafios de governabilidade', afirmou.

Na ?ltima sexta-feira, o Ibovespa <.BVSP>, ?ndice de refer?ncia do mercado acion?rio brasileiro, fechou a 85.719,87 pontos, acumulando em outubro alta de 8 por cento. O d?lar encerrou a 3,6546 reais na venda, menor valor desde os 3,6483 de 24 de maio de 2018. O contrato de DI para janeiro de 2020 fechou a 7,37 por cento.

O ETF de a??es brasileiras negociadas em T?quio <1325.T> avan?ou mais de 10 por cento ap?s a confirma??o da vit?ria de Bolsonaro, conforme mostraram todas as pesquisas de inten??o de votos.

HORIZONTE

Em coletiva ap?s o resultado da elei??o, o economista Paulo Guedes, que comandar? o Minist?rio da Fazenda no governo de Bolsonaro, prometeu buscar zerar o d?ficit fiscal em um ano e disse ainda que a nova administra??o far? marcos regulat?rios para investimentos em infraestrutura, apontando o setor privado como motor do crescimento.

Bernd Berg, estrategista global de macro e moedas na Woodman Asset Management, disse que est? confiante de que Bolsonaro vai realizar as reformas necess?rias para reduzir o d?ficit fiscal. 'Eu continuo euf?rico para as perspectivas para o mercado brasileiro', afirmou, estimando o Ibovespa em 130 mil pontos e o d?lar em 3 reais at? meados de 2019.

'? medida que os bancos e os investidores internacionais se tornarem positivos (com o Brasil), haver? um reposicionamento enorme de carteiras em rela??o aos ativos brasileiros', calcula ele, prevendo uma recupera??o sustentada e prolongada no ciclo econ?mico brasileiro ap?s a forte recess?o nos anos anteriores. 'O Brasil superar? todos os outros mercados globalmente.'

A equipe da XP estima que o benef?cio da d?vida pode levar o Ibovespa a at? 100 mil pontos at? o final do ano; a curva de juros a precificar a Selic em 7,5 por cento- 8,5 por cento em 2020 e 10 por cento em 2030; e o d?lar a recuar no curto prazo para o n?vel de 3,50-3,70 reais. A equipe da XP considera, por?m, como mais adequado que a cota??o fique entre 3,70 reais e 4,00 reais dado o cen?rio de risco externo.

'Para que este movimento seja sustent?vel, a evolu??o das reformas ? crucial. Caso as reformas se materializem ao longo de 2019, a bolsa poderia buscar os 125 mil pontos at? o final do pr?ximo ano', avalia a XP, conforme relat?rio a clientes.

Henrique Bredda, gestor na Alaska Asset Management, ressaltou que fundos no Brasil n?o mudaram suas posi??es de forma relevante e seguem bastante defensivos e com baixo risco. 'Se os fundos resolverem montar posi??es otimistas, o bolsa dever? subir muito forte, e o d?lar despencar', disse, considerando prov?vel o Ibovespa superar 100 mil pontos e o d?lar ir 3,40 reais se os fundos montarem posi??es otimistas.

Para Mauricio Molan, economista-chefe do banco Santander Brasil, o novo presidente ter? fortes incentivos para promover uma cren?a geral na disposi??o e na capacidade da administra??o de reequilibrar as contas fiscais.

'Esperamos que o an?ncio de uma equipe econ?mica favor?vel ao mercado, a constru??o de uma coaliz?o pol?tica e a divulga??o gradual de planos mais detalhados nas pr?ximas semanas sejam bem recebidos pelos investidores', afirmou em relat?rio no ?ltimo dia 25 de outubro, no qual revisou a previs?o para o d?lar para 3,50 reais no final de 2018 ante 3,80 reais anteriormente.

Estrategistas do Morgan Stanley afirmaram em relat?rio tamb?m com data do ?ltimo dia 25 que para os pr?ximos cinco a seis meses investidores s? precisam sonhar mais. 'A partir de mar?o de 2019, depois que o Congresso voltar do Carnaval, os sonhos ter?o que se tornar uma realidade', disse a equipe liderada por Guilherme Paiva.