Mercosul e União Europeia fecham acordo de livre comércio

Por Philip Blenkinsop

BRUXELAS (Reuters) - O Mercosul e a Uni?o Europeia (UE) assinaram um acordo preliminar de livre com?rcio, anunciaram nesta sexta-feira as partes envolvidas, encerrando duas d?cadas de negocia??es.

Os dois blocos come?aram a negociar h? 20 anos, com diversos governos envolvidos nas conversas, mas os esfor?os foram intensificados ap?s a elei??o do presidente dos EUA, Donald Trump, quando a UE suspendeu negocia??es com o governo norte-americano e se voltou para outros aliados comerciais globais.

Com isso, foi selado acordo de livre com?rcio com o Canad? e com Jap?o e M?xico e agora, ap?s cerca de 40 rodadas de negocia??es, tamb?m chegaram a um acordo preliminar com o Mercosul, que inclui Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

Mais cedo neste m?s, a comiss?ria de Com?rcio da UE, Cecilia Malmstrom, disse que selar um acordo comercial com o Mercosul era sua principal prioridade.

Ap?s o an?ncio, Malmstrom disse em uma entrevista coletiva que o acordo enviou uma 'mensagem alta e clara' a favor da abertura comercial, num momento em que os l?deres mundiais se re?nem na c?pula do G20, no Jap?o.

A UE j? ? o maior parceiro comercial e de investimentos do Mercosul e ? o segundo maior em bens.

Em termos de redu??es tarif?rias, pode ser o acordo comercial mais lucrativo da UE at? agora, com cerca de 4 bilh?es de euros (US$ 4,55 bilh?es) de economia em tarifas nas exporta??es, quatro vezes mais do que seu acordo com o Jap?o.

A Europa est? de olho em aumentar o acesso para suas companhias fabricarem produtos industriais, notadamente carros, para os quais tarifas chegam a 35%, e permitindo a eles que concorram em licita??es p?blicas. O Mercosul pretende elevar as exporta??es de carne bovina, a??car, carne de aves e outros produtos agr?colas.

De acordo com estimativas do Minist?rio da Economia brasileiro, o acordo 'representar? um incremento do PIB brasileiro de 87,5 bilh?es de d?lares em 15 anos, podendo chegar a 125 bilh?es de d?lares se consideradas a redu??o das barreiras n?o-tarif?rias e o incremento esperado na produtividade total dos fatores de produ??o', segundo o comunicado.

O pacto engloba 'temas tanto tarif?rios quanto de natureza regulat?ria, como servi?os, compras governamentais, facilita??o de com?rcio, barreiras t?cnicas, medidas sanit?rias e fitossanit?rias e propriedade intelectual', segundo comunicado conjunto dos Minist?rios das Rela??es Exteriores e da Economia.

Em entrevista coletiva em Bruxelas, o ministro das Rela??es Exteriores, Ernesto Ara?jo, disse que o acordo ? estrat?gico para todos os setores da economia do pa?s ao permitir a redu??o de custos e abrir mercados preferenciais no que ele disse ser o maior mercado importador do mundo.

'Um acordo dessa magnitude n?o deve ser olhado apenas do lado est?tico, de tarifa, mas sobretudo sob o ponto de vista din?mico. Ele mexe com todo o conjunto da economia', disse Ara?jo.

Sob o acordo, produtos agr?colas como suco de laranja, frutas e caf? sol?vel ter?o suas tarifas eliminadas e exportadores brasileiros ter?o acesso ampliado, por meio de cotas, para carnes, a??car, etanol, entre outros produtos.

Empresas brasileiras ainda ser?o beneficiadas com a elimina??o das tarifas na exporta??o de 100% de produtos industriais, disse o comunicado.

Dessa forma, ser?o 'equalizadas as condi??es de concorr?ncia com outros parceiros que j? possuem acordos de livre com?rcio com a UE', disseram os minist?rios em comunicado.

Pelo Twitter, o presidente Jair Bolsonaro, que est? no Jap?o para a c?pula do G20, chamou o pacto de 'hist?rico' e disse que 'ser? um dos acordos comerciais mais importantes de todos os tempos e trar? benef?cios enormes para nossa economia'.

Participaram das negocia??es em Bruxelas Ara?jo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o Secret?rio?Especial de Com?rcio Exterior e Assuntos Internacionais do Minist?rio da Economia, Marcos Troyjo, segundo o comunicado conjunto.

Preocupa??es da UE com um poss?vel aumento nas importa??es de carne bovina e a hesita??o do Mercosul sobre abrir alguns setores industriais, como carros, significaram idas e vindas nos prazos anteriores para se chegar a um acordo.

O acordo ainda enfrenta um caminho possivelmente dif?cil at? a aprova??o. A Fran?a e outros pa?ses temem o impacto de uma acentuada alta nas importa??es de carne bovina, enquanto grupos ambientalistas, cuja influ?ncia ? mais forte no novo Parlamento Europeu, argumentam que o acordo pode exacerbar o desmatamento.

Agora, pa?ses da UE e o Parlamento Europeu ambos precisam aprovar o acordo para que entre em vigor.

(Reportagem adicional de Cassandra Garrison em Buenos Aires, Marcelo Teixeira e La?s Martins em S?o Paulo, Ricardo Brito, em Bras?lia)