Moro diz que caso FHC nunca passou por ele e nega projeto político na Lava Jato

Por Ricardo Brito

BRAS?LIA (Reuters) - O ministro da Justi?a e Seguran?a P?blica, Sergio Moro, disse nesta quarta-feira que o caso referente a uma investiga??o sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nunca passou por suas m?os, e rebateu cr?ticas de que a opera??o Lava Jato tenha tido motiva??es pol?ticas.

'O caso n?o era meu, nunca passou pelas minhas m?os', disse ele, em resposta ao l?der do PT no Senado, Humberto Costa (PE), durante audi?ncia p?blica na Comiss?o de Constitui??o e Justi?a (CCJ) da Casa. 'Como nunca passou pelas minhas m?os, como eu iria interferir nessas coisas?', questionou.

Reportagem do site Intercept Brasil divulgada na ter?a-feira ? noite relata uma suposta troca de mensagens entre Moro, ent?o juiz da Lava Jato, com o chefe da for?a-tarefa da opera??o no Minist?rio P?blico Federal, Deltan Dallagnol, na qual o magistrado alegadamente quis saber se as suspeitas contra o ex-presidente tucano seriam 's?rias'.

Moro disse que o caso referente ? FHC iniciou de uma dela??o premiada feita por executivos da Odebrecht homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que foi encaminhado para S?o Paulo, e n?o para a Vara Federal em Curitiba, onde ele oficiava.

Segundo o ministro, a Lava Jato atingiu 'de forma severa' v?rios partidos, n?o apenas aqueles alinhados ao ent?o governo do PT. 'N?o teve nenhum projeto pol?tico envolvido sen?o o projeto de cumprir a lei', disse.

O l?der do PT pediu a demiss?o de Moro e que ele se desculpasse por, em sua opini?o, ter cassado o direito de os brasileiros elegerem o ex-presidente Luiz In?cio Lula da Silva nas elei??es passadas. Moro foi o respons?vel pela primeira condena??o de Lula no processo do tr?plex do Guaruj?, confirmada posteriormente pelo Tribunal Regional Federal da 4? Regi?o, que abriu caminho para enquadr?-lo na Lei da Ficha Limpa e torn?-lo ineleg?vel.

O ministro declinou de responder a Humberto Costa ao considerar as declara??es dele 'bastante ofensivas'. Em momento anterior, Moro disse que as condena??es que imp?s a Lula e ao ex-presidente da C?mara Eduardo Cunha (MDB-RJ) foram confirmadas pelo TRF-4, pelo Superior Tribunal de Justi?a e tamb?m em parte foi levado ao STF.

'Sempre agi corretamente no exerc?cio e aplica??o imparcial da lei, mas eu n?o posso deixar a quest?o eleitoral influir no processo', disse. 'Infelizmente essas pessoas cometeram crimes e t?m que responder pelos seus atos', destacou.

Moro tamb?m destacou que, em 2017, quando condenou Lula no caso do tr?plex, n?o tinha o 'menor contato' com o atual presidente da Rep?blica, Jair Bolsonaro. Afirmou que s? conversou com Bolsonaro ap?s a vit?ria dele no segundo turno, ap?s ter sido sondado pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes, e disse ter topado o desafio para avan?ar no combate ? corrup??o e a criminalidade no pa?s.

O ministro da Justi?a disse que n?o guarda mais as mensagens do aplicativo Telegram porque n?o o usa desde 2017, ?poca em que foram noticiados vazamento de informa??es do aplicativo na elei??o norte-americana.

Ele destacou que n?o se recordava o conte?do de mensagens enviadas dois a tr?s anos atr?s e, embora tenha ressalvado que n?o podia atestar a autenticidade das informa??es, afirmou que n?o via problemas ou irregularidades nos supostos di?logos at? agora divulgados.

A audi?ncia p?blica com o ministro contou com algumas alterca??es dele com senadores do PT e de partidos independentes ao governo, como PSD, mas tamb?m teve demonstra??es de apoio, principalmente de parlamentares PSL, partido ao qual Bolsonaro ? filiado.

Investigado na Lava Jato, o l?der do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), fez um desagravo a Moro, ao dizer que ele foi 'v?tima de crimes graves' cujos autores precisam ser descobertos.

LAVA JATO

Em v?rios momentos, o ministro da Justi?a afirmou que a invas?o de telefones celulares de autoridades como ele e procuradores da Rep?blica da for?a-tarefa da Lava Jato visa invalidar condena??es por corrup??o e lavagem de dinheiro e atrapalhar investiga??es em curso, al?m de representarem um ataque ?s institui??es.

'Utilizam isso para fins de minar os esfor?os anticorrup??o, que n?o foi uma conquista de procuradores e minha, mas da sociedade brasileira', disse Moro, em declara??o inicial durante audi?ncia na CCJ.

O comparecimento de Moro ? CCJ ocorre ap?s o ministro se dispor a ir ao Senado para explicar supostas trocas de mensagens por aplicativo de celular quando era o principal juiz da Lava Jato com procuradores da for?a-tarefa da opera??o em Curitiba, noticiadas pelo site The Intercept.

O ministro da Justi?a disse ter agido sempre conforme a lei ? frente da condu??o da Lava Jato. Ele minimizou o teor das supostas conversas, que destacou n?o poder reconhecer a autenticidade, dizendo que eventualmente podem ter ocorrido, mas que n?o seriam nada que n?o pudesse ter havido em uma conversa informal.

'Evidentemente n?o tenho nada aqui a esconder, a ideia ? vir aqui esclarecer o sensacionalismo que tem se criado em torno dessas not?cias', disse ele, ao criticar o fato de o site n?o t?-lo procurado para se pronunciar antes da publica??o. Moro disse que as mensagens podem ter sido total ou parcialmente adulteradas.

Moro disse v?rias vezes que as supostas conversas, segundo juristas, n?o revelam quaisquer il?citos ou irregularidades. Oposicionistas e mesmo integrantes de partidos independentes criticaram o ministro nos ?ltimos dias diante das revela??es, alguns deles chegando a defender at? o afastamento de Moro do cargo. Bolsonaro, contudo, tem dado demonstra??es p?blicas de apoio a Moro e j? disse que a possibilidade ? 'zero' de demiti-lo.