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MP diz que missionário nomeado para Funai foi escolhido por entidade para mudar política para índios isolados

Placeholder - loading - Índio da tribo Guarani Mbya durante protesto em São Paulo  05/02/2020 REUTERS/Amanda Perobelli
Índio da tribo Guarani Mbya durante protesto em São Paulo 05/02/2020 REUTERS/Amanda Perobelli

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Por Lisandra Paraguassu

BRAS?LIA (Reuters) - A Miss?o Novas Tribos do Brasil (MNTB) planejou colocar o ex-mission?rio Ricardo Lopes Dias ? frente da diretoria de ?ndios isolados da Funda??o Nacional do ?ndio para mudar a pol?tica dessa ?rea, mostrou fala de Edward M. Luz, filho do presidente da organiza??o mission?ria, citada pelo Minist?rio P?blico do Distrito Federal em a??o que quer cancelar a nomea??o de Dias.

Na a??o, o MP apresenta uma declara??o dada por Luz na sede da Funai em Altamira (PA), em que o mission?rio fala claramente da indica??o de Dias pela MNTB.

'N?s vamos colocar um novo presidente na CGIIRC, n?s acabamos de indicar uma nova pessoa para a CGIIRC (Coordena??o-Geral de ?ndios Isolados e de Recente Contato), acho que voc? j? deve ter lido e n?s vamos formalmente mudar essa pol?tica, porque n?s acreditamos que por mais inteligente que ela tenha sido at? agora, ela permite manipula??es, n?s desconfiamos de manipula??es', diz Luz.

Com mestrado em antropologia, mas expulso da Associa??o Brasileira de Antropologia em 2015, segundo a pr?pria associa??o, por seus posicionamentos contr?rios ? tradi??o antropol?gica, Luz ? conhecido como 'antrop?logo dos ruralistas'.

Foi consultor da Frente Parlamentar Agropecu?ria durante a CPI da Funai que, dominada pela bancada, tentou indiciar ind?genas, antrop?logos, procuradores e integrantes da Igreja Cat?lica por supostas fraudes nos processos de demarca??o de terras e na aplica??o de recursos destinados ?s tribos

Na sua fala na Funai de Altamira, Luz afirma que a pol?tica para os ?ndios isolados est? afetando a economia da regi?o e defende os produtores.

'Agora, ela est? afetando profundamente a economia de uma regi?o, a vida de pessoas tamb?m, ? isso que a gente queria ver, esse drama. At? pouco tempo atr?s o discurso da antropologia, at? porque s? tinha basicamente isso pra falar, se voc? era antrop?logo voc? s? falava de sofrimento ind?gena. Hoje a a??o de voc?s me permite falar do sofrimento dos produtores, agricultores e ? por isso que eu estou aqui', disse.

'Enquanto a gente conseguir equilibrar isso da?, a gente vai chegar numa boa conversa', disse ele, de acordo com a transcri??o feita pelo Minist?rio P?blico.

Ex-mission?rio da MNTB, onde atuou por 10 anos, e antrop?logo, o novo coordenador da Funai indicado pelos mission?rios s? p?de ser nomeado depois de uma altera??o no regimento interno da Funai, feita pelo presidente do ?rg?o, Marcelo Xavier, para que pessoas de fora da administra??o p?blica pudessem ocupar o posto.

Uma das coordena??es mais importantes e sens?veis da Funai, a CGIIRC monitora os 28 povos ind?genas isolados sobre os quais se tem comprova??o e acompanha os ind?cios de exist?ncia de outros 86. Desde o final da d?cada de 1980, a pol?tica indigenista brasileira ? de n?o fazer contato com essas popula??es.

No entanto, a MNTB, organiza??o de origem norte-americana que atua no Brasil desde a d?cada de 1950, tem um hist?rico de tentar burlar a pol?tica brasileira j? h? algumas d?cadas. A a??o civil p?blica contra a nomea??o de Dias cita a atua??o da organiza??o evang?lica em rela??o entre os Zo?, os Wai?pi, os Ianomami e os povos do Vale do Javari.

Os Zo?, uma das tribos relativamente isoladas que habita o noroeste do Par?, foi contatada pela MNTB ? revelia da Funai no in?cio dos anos 1980. Em 1991, quando a Funda??o estava sob o comando do indigenista Sidney Possuelo, os mission?rios foram retirados do local.

A Miss?o tentou na Justi?a o direito de permanecer na terra ind?gena, mas sua retirada do local foi confirmada em decis?o do Supremo Tribunal Federal.

A Funai acusa a MNTB de ter causado a morte de pelo menos 37 ind?genas, em um processo que foi arquivado em 2007 por falta de provas.

O pr?prio novo coordenador da Funai trabalhou por 10 anos tentando evangelizar o povo Mats?, do Vale do Javari, e chegou a construir uma igreja evang?lica em um dos locais das terras Mats?.

O MNTB n?o tinha permiss?o para atuar nas ?reas ind?genas, mas mesmo assim entrava nas terras. De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, o grupo mission?rio entrava com um pedido de autoriza??o mas se instalava nas terras antes de receber a resposta. Mesmo depois dos mission?rios serem retirados, voltava a agir.

Documentos de entidades evangelizadoras citados pelo MP mostram o esfor?o desses grupos - entre eles a MNTB - de chegar at? os ?ndios isolados, assegurar sua convers?o e cumprir o que chamam de 'miss?o n?o finalizada'.

'A persist?ncia mission?ria em realizar a tarefa colossal de evangeliza??o dos povos ind?genas explica-se pelo compartilhamento, pela MNTB, da interpreta??o fundamentalista segundo a qual a humanidade vive a s?tima era da hist?ria sagrada, que est? destinada a ver a consuma??o dos tempos com a segunda vinda de Cristo, que s? ser? realizada atrav?s da 'conquista das ?ltimas fronteiras desse mundo'', diz a a??o.

Na a??o, o MP pede uma liminar para o imediato afastamento de Dias do cargo e a nulidade das portarias que o nomearam e que permitiram a nomea??o de pessoas de fora do servi?o p?blico. Os procuradores argumentam que h? evidente conflito de interesses, incompatibilidade t?cnica e risco de retrocesso na pol?tica de n?o-contato.

Em nota, a Funai atribuiu a a??o ? 'inconceb?vel intransig?ncia' por Dias ser evang?lico, e que cumpriu os par?metros para nomea??es determinados pela Constitui??o.

Dias disse ? Reuters em mensagem no WhatsApp que est? sendo 'perseguido'.

(Edi??o de Eduardo Sim?es)

Escrito por Reuters

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